Fátima 2017: Investigação sobre as aparições tem sido prejudicada por «tabus»

Diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário lamenta falta de «atenção» a um «acontecimento histórico», central do século XX em Portugal

Fátima, 03 fev 2017 (Ecclesia) – O diretor do Serviço de Estudos do Santuário de Fátima disse à Agência ECCLESIA que a investigação histórica sobre os acontecimentos da Cova da Iria, em 1917, tem sido prejudicada por “tabus”.

“Fátima tem sofrido com alguns tabus: em primeiro lugar, um tabu académico, que fica muito mal às academias, a negação da importância de um acontecimento histórico”, sustenta Marco Daniel Duarte, em entrevista concedida a respeito do Centenário das Aparições, que se celebra dentro de menos de 100 dias.

Para este responsável, é necessário “entender o fenómeno” das aparições e estudá-lo.

“Quando não se estuda, não existe. Fátima tem sofrido com este tabu, não tem merecido a atenção dos académicos”, assinalou.

Marco Daniel Duarte é desde dezembro de 2013 o diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima, contactando diretamente com as fontes primárias sobre os acontecimentos vividos na Cova da Iria e arredores, em 1917.

“Nada melhor para conhecer com cientificidade e profundidade o que aconteceu em Fátima do que regressar às fontes”, defende.

Um século depois, Fátima continua ser vista com desconfiança, representando ainda um campo em aberto para as investigações das mais diversas áreas do saber.

Para Marco Daniel Duarte, é fundamental “colocar as fontes no seu universo” primevo e assumir a “subjetividade que está em quem escreve e em quem diz”.

A investigação, acrescenta, desmonta a ideia de “construção” das aparições, uma teoria que se centra na análise exclusiva das “fontes jornalísticas”.

“Para Fátima, as fontes não têm sido cruzadas, não se dá conta da importância do laicado inicial, por exemplo, que está por estudar”, exemplifica o responsável.

O diretor do Serviço de Estudos e Difusão do santuário lamenta ainda a ausência de estudos sobre o papel de Fátima nas décadas de 60 e 70 do século XX como espaço de “protesto coletivo” contra o Estado Novo por causa da guerra.

“Fátima é nesta altura um altar, se quisermos, que mostra a toda a gente a grande fragilidade do Estado Novo, que era a questão do Ultramar: é aqui que as mães dos soldados, as noivas dos soldados, as filhas dos soldados vêm chorar os que morrem na guerra”, relata.

A ‘Documentação Crítica de Fátima’ publicou, até ao momento, “tudo” o que é conhecido sobre as aparições, até 1930.

O Santuário de Fátima decidiu ainda lançar, em 2016, uma edição crítica das ‘Memórias’ da Irmã Lúcia, oferecendo novos elementos aos investigadores.

Marco Daniel Duarte rejeita a ideia de uma “Fátima primeira e uma Fátima segunda, construída pela irmã Lúcia nos anos 40”.

“Aquilo que eu defendo é exatamente o contrário, as memórias são fonte primária, porque são escritas por uma protagonista do fenómeno, devem ser analisadas criticamente, tal como as primeiras fontes o devem ser”, realça.

O responsável espera que a celebração do centenário sirva para marcar um “antes e depois” na investigação histórica sobre Fátima.

Nesse sentido, adianta que o reitor do santuário acedeu “libertar a documentação” do período entre 1917 e 1967, nos arquivos de Fátima.

“Eu penso que, a partir desta altura, teremos novas pessoas interessadas em estudar Fátima”, afirma Marco Daniel Duarte.

O diretor do Serviço de Estudos e Difusão do santuário recorda ainda que “o papado valida Fátima desde muito cedo”, considerando por isso “extemporâneo e fora de prazo” olhar para próxima visita do Papa Francisco sob o prisma da aceitação ou não, por parte da Igreja, das aparições de 1917.

A entrevista está em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, que assinala a contagem decrescente dos 100 dias para a celebração do centenário das aparições na Cova da Iria.

OC

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Agência ECCLESIA

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