Família solidária – prioridade diocesana

Arcebispo de Braga na peregrinação ao Santuário de N.ª Sr.ª do Alívio Congregamo-nos em Igreja, nesta parcela do arciprestado de Vila Verde, para continuarmos a reconhecer que, com Maria, teremos de responder e mostrar ao mundo quem é Cristo para nós e para as nossas comunidades. Como Pedro continuamos a reconhecer que Ele é o Messias, sabendo que nunca quis ser triunfador mas servo para libertar. Outrora pegou na Cruz para a transformar em alegria de ressurreição. Hoje, como continuadores, teremos de O seguir com a mesma coragem. A cruz, para o crente, adquire dimensões pessoais ou comunitárias. Olhando para o Programa Pastoral da Arquidiocese gostaria que olhássemos para a família – hoje e durante este ano – procurando descortinar, no meio de tanta beleza e harmonia, o que a impede de proporcionar verdadeira felicidade. O contexto que nos rodeia é desvalorizador da Família. Isto é preocupante e manifesta a incoerência do mundo em que vivemos. Na verdade, quando interrogamos, em inquéritos feitos por diversas instituições, quais são as realidades que mais apreciam todos colocam, no primeiro lugar da estima, a família como valor imprescindível. Deixando este âmbito pessoal onde ela é estimada, verificamos que na dimensão social é vilipendiada, desvalorizada, desprestigiada. Sabemos e não podemos ignorar que o principal problema de muitas pessoas é a sua própria família. Quantos homens e mulheres não sabem o que fazer para experimentar uma melhor convivência familiar no amor e concórdia entre os pais, estes e os filhos, num diálogo que envolve todas as gerações. Sei que, alegando que se trata duma questão privada onde importa respeitar uma neutralidade das instituições, muitos querem dizer que nada poderemos fazer. Importa, porém, reconhecer que muitas famílias solicitam uma atenção urgente e perante os graves problemas que a condicionam teremos de afrontar as causas desses males e encontrar soluções adequadas. Esta contradição entre uma valorização positiva da família como valor importante e o seu menosprezo como elemento social devem conduzir-nos, como seres humanos e cristãos, individualmente e comunitariamente, a conjugarmos todos os esforços para salvar a família. Pode parecer um exagero. Mas, diante de Deus, peço a todas as comunidades paroquiais este trabalho para que, na verdade, salvemos as famílias. Numa sociedade, por muitos apelidada de moderna, onde o ideal da vida é a independência, as relações fiéis e indissoluções são uma carga pesada que tira a liberdade e provoca sofrimento e infelicidade. O prestígio social, como sonho de muitos, conduz à ânsia do ter e provoca uma comunicação familiar escassa ou nula. Não há tempo para o convívio familiar o que faz com que o calor das relações pessoais não exista, tornando o lar uma mera convivência pacifica que não traga problemas. As famílias vão-se desestruturando e dá a impressão que tudo é inevitável. Urge reagir e reconhecer que temos talentos e capacidade para voltar a oferecer aos lares cristãos o encanto duma “Igreja doméstica”. Neste contexto, deveremos ser realizadores de quanto Isaías diz na primeira leitura: “O Senhor Deus vem em meu auxílio”, “o meu advogado está perto de mim”. Na verdade, sabemos que o Programa Pastoral da Arquidiocese estipula um empenho para que as paróquias sejam uma “Família Solidária”, constituída por muitas famílias. Somos nós que vamos em auxilio, em nome de Deus, das famílias com necessidades e carências e que, como comunidades, somos advogados bem perto de quem sofre e necessita de elementos essenciais. Evangelizar a Família consiste, deste modo, em colocar-se dentro dos dramas e perplexidades para intervir com respostas corajosas. Gostaria de verificar que todas as comunidades, através dos Conselhos Pastorais, têm consciência da verdadeira realidade social, ou seja, de tudo quanto os telhados podem ocultar. Não se trata de curiosidade nem muito menos de critica alicerçada em juízos que condenam apressadamente. É uma exigência dum amor que quer intervir e encontrar caminhos de esperança. Não tenhamos vergonha de reconhecer tudo quanto possa existir. Talvez a alimentação nos envergonhe, as condições de habitação nos façam corar, a ausência de condições mínimas para uma higiene nos façam temer pela precariedade da saúde. Não haverá analfabetismo que poderíamos ultrapassar, alcoolismo que esmaga uma harmonia familiar, violência doméstica que desrespeita, conflitos inter-geracionais que amarguram os mais débeis? É neste, contexto que teremos de escutar, com o coração e a inteligência, quanto S. Tiago continua a dizer, talvez a gritar, aos cristãos e às comunidades: “Não serve dizer que tem fé, se não tem obras…” Se um irmão ou irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhe disser: “Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos” sem lhes dar o necessário para o corpo de que lhes servem as vossas palavras…” Tendo diante de nós a realidade de famílias das nossas paróquias teremos de lhes mostrar a nossa fé através das obras. A nossa estrutura paroquial tem condições de conhecimento da realidade como ninguém. A comunidade não acontece só quando nos reunimos para celebrar a fé. Nas celebrações somos alertados para viver a responsabilidade de não passar ao lado dos problemas. Vivamos atentos e procuremos encontrar soluções por nós ou envolvendo outras instituições. Nesta peregrinação gostaria que todos pedíssemos à senhora do Alivio a graça de tornarmos as nossas paróquias, todas sem excepção de nenhuma, verdadeiras “famílias solidárias”. Trata-se dum trabalho árduo e exigente. Creio, porém, que é verdadeiramente apaixonante e, neste sentido, a comunidade – sacerdotes e leigos, individualmente ou em movimentos – vai investir todas as suas energias. Sei do que somos capazes. Maria será a nossa ajuda e o Espírito Santo acompanhar-nos-à com os seus dons numa capacidade de inventar iniciativas corajosas e com a sua graça para lhe darmos um cunho verdadeiramente cristão. É a comunidade cristã que cresce a partir do amor de Cristo e a todos envolve nesta alegria de ser família como o único corpo de Cristo. D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga

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