Estrutura de afetos é o que permite crescimento seguro dos adultos de amanhã
Lisboa, 23 dez 2017 (Ecclesia) – O projeto Amigos Pra Vida quer ajudar a encontrar para cada criança ou jovem a crescer em centros de acolhimento residencial uma família que o possa acompanhar ao longo da vida.
“Estas crianças têm de estar inseridos na sua família, primeiro. Quando isso não acontece, outras famílias poderão fazê-lo, porque um agregado familiar dá muito mais do que a alimentação, a higiene e o teto. Esta vivência é o que fica e o que transforma estas crianças em adultos que tenham um coração preenchido”, explica à Agência ECCLESIA Ana Sofia Marques, advogada e responsável pelo projeto ligado à Instituição particular de solidariedade social, A Candeia.
O tipo de apoio prestado depende da necessidade da criança que reside em casas de acolhimento podendo estar num projeto de reintegração na família biológica ou, mantendo a ligação a familiares, estar disponível para apadr8inhamento civil.
Ana Sofia Marques sublinha que procuram famílias para as crianças e não de crianças para as famílias sendo que o primeiro passo é perceber se “a reintegração na família de origem é possível”.
Se o projeto da criança passa pela reintegração familiar, a “família amiga” tem como função apoiar aos fins-de-semana, férias, aniversário e em situações pontuais.
Se o projeto de reintegração familiar não se coloca nem a adoção, poderá acontecer o apadrinhamento civil, “uma solução com alguns anos mas não muito aplicado”, explica a advogada, que permite à criança crescer em ambiente familiar e manter a ligação à família biológica.
Foi o que aconteceu com as irmãs Maria e Inês, com oito e seis anos, que ganharam quatro irmãos quando em setembro foi aprovada a medida de apadrinhamento civil por parte de Alexandra e Luís Souto.
O sonho de ter uma família alargada nasceu cedo no namoro deste casal de gestores financeiros, casados há quase 20 anos.
“Ainda tínhamos só dois filhos, estávamos casados há quatro anos, quando iniciamos um projeto de adoção. Mas começámos a ter filhos biológicos e depois considerámos que a adoção não era bem o que estávamos predispostos”, recorda Alexandra Souto, que encontrou o projeto Amigos Pra Vida através da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas.
O que seria um projeto para acompanhamento ao fim-de-semana evoluiu para uma medida de confiança a pessoa idónea e hoje concretiza-se em apadrinhamento civil, com a Maria e a Inês a residirem com a família Souto e a visitarem a família biológica uma vez por mês.
“A Maria e a Inês são elétricas e muito vaidosas. Gostam muito de fazer teatros e espetáculos de ginástica”, descreve a irmã, futura veterinária Leonor Souto, com 18 anos.
O irmão Fernão elogia o bom comportamento da Maria, “muito responsável para a idade”, mas recorda que no início, “era a que se portava pior”.
Teresa, com 15 anos, recorda ter sido a primeira das irmãs, juntamente com o Duarte, de oito anos, a conhecer a Maria e a Inês.
“Começaram a ter mais confiança comigo, mas sempre se derem bem com todos”, descreve a estudante do 10º ano que ocasionalmente lhes lê histórias antes de dormir e reza com as pequenas.
Hoje, Luís Souto reconhece que todos são como irmãos e as “normais” resistências iniciais deram lugar a uma vivência familiar que a todos une.
“Podem andar todos à tareira mas se aparece um elemento externo que confronta algum dos irmãos, todos se unem. Esse elemento de união mostra bem o espírito que vivem”, enfatiza Luís Souto.
“Quando partilhamos este projeto dizem muitas vezes o quão generosos somos, mas nós nunca pensámos muito. Não foi esse o motivo”, assume Alexandra, garantindo conhecer vários exemplos de famílias que se abrem para acolher outras crianças.
A reportagem junto da família Souto e a entrevista com Ana Sofia Marque sobre o projeto Amigos Pra Vida está no centro do programa Ecclesia deste domingo, na Antena 1.
LS