O matrimónio e a família no novo contexto europeu ocupou o dia de trabalho dos Presidentes das Conferências Episcopais da Europa, reunidos em Fátima desde ontem, numa reunião que se vai estender até Domingo. Aumento dos divórcios e dos abortos, diminuição de casais que contraem matrimónio, aumento de relações de facto, de famílias mono parentais e de crianças nascidas fora do casamento. Crescem formas de convivência com e sem o reconhecimento civil assim como o casamento tardio entre jovens são tudo elementos comuns aos vários países europeus e retrato partilhado que preocupa os Presidentes presentes na reunião da CCEE. A realidade portuguesa é comum aos outros países portugueses. O Presidente da CCEE, o Cardeal Peter Erdo, afirmou à Agência ECCLESIA que existem tendências demográficas muito negativas em alguns países, onde a população está a diminuir rapidamente – Rússia, Ucrânia. “Não se trata de não aceitar as crianças por falta de desejo, pois todas as sondagens de opinião demonstram que os jovens desejam o matrimónio, a família e também os filhos. Mas não se sentem capazes de aceitar os problemas e a responsabilidade e também as dificuldades económicas e sociais inerentes a uma família com filhos”, sublinha. “É difícil tomar uma decisão de matrimónio actualmente. As relações pré matrimoniais estão muito difusas na Europa”, mas o Presidente da CCEE equipara estas decisões a outras igualmente difíceis, como a escolha de uma profissão. “Não é uma decadência por parte dos jovens, o ambiente é que constrange. A economia ocidental pede uma sociedade móvel que mude rapidamente e num ritmo que não é favorável à estrutura humana psicológica. Há uma pressão das circunstâncias”, apontou. A partilha de cada país recaiu nas competências pastorais que se podem desenvolver nomeadamente no “acompanhamento ao matrimónio não só do ponto de vista religioso, mas também cultural e psíquico”, indicou o Cardeal Erdo, acrescentando ainda o apoio ao matrimónio através de movimentos espirituais que “apoiam a famílias que estão em crise ou com pessoas que vêm de um casamento em crise”. O Cardeal Jean Pierre Ricard, da França e também vice presidente da CCEE, sublinhou “a necessidade de uma coragem civil para fazer valer o ideal de um matrimónio cristão, que deve ser reforçado na sociedade. Já o Concílio Vaticano II afirmava que um dos trabalhos específicos dos leigos católicos era trabalhar para formar a realidade da Terra segundo o Evangelho”. “A Igreja é chamada a investir na formação dos jovens casais, de novos centros pastorais. Hoje a Igreja na Europa reafirma que o futuro da sociedade europeia passa pela família. Se a perder, perderá o seu futuro. É necessária uma grande formação de consciência”, apontou o Cardeal Jean Pierre Ricard, Vice presidente da CCEE. O Presidente da CCEE indica que a vocação humana é para a “estabilidade e é essa estabilidade que permite a fundação da família”. O desafio dos divorciados já existe em muitos países. Surgem problemas sobre o primeiro matrimónio, de ordem canónica e também pastorais. “A tendência é viver junto sem formalizar a convivência, que não é ideal para a estabilidade da vida”, afirmou o Cardeal Erdo, que indicou haver uma tendência para que a autoridades eclesiásticas permitam o matrimónio, “mas devemos considerar a realidade do matrimónio. Devemos seguir o mandamento de Deus, e não mudar os critérios de base”. “Há o ideal que não devemos perder e devemos reforçar a nossa fé na misericórdia divina e só assim poderemos melhorar e andar em frente”.