Bispos portugueses antecipam publicação do documento pós-sinodal
Faro, 28 jan 2016 (Ecclesia) – Os bispos portugueses dizem que a exortação apostólica do Papa sobre a Família vai chegar num momento “muito oportuno” para a sociedade e para a Igreja Católica, tendo em conta a situação difícil de muitas famílias.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o bispo do Algarve sublinha a vontade da Igreja em “fazer mais e melhor” no apoio às famílias, tanto as que começam a ganhar forma como as “que veem a sua situação desfeita ou refeita”, por várias circunstâncias.
A exortação apostólica do Papa Francisco, com publicação prevista até março, deverá reforçar as ideias principais do último Sínodo dos Bispos dedicado à Família, que decorreu em duas sessões, nos últimos dois anos.
Durante o evento em Roma, um dos temas em cima da mesa foi a atitude da Igreja Católica perante os casais divorciados, recasados ou a viverem em união de facto.
“Como já tantas vezes se afirmou, pelos Papas João Paulo II e Bento XVI, agora também pelo Papa Francisco, é importante que estas famílias não se considerem fora da Igreja, nem estranhas à Igreja”, sublinhou D. Manuel Quintas.
Para isso, o prelado defendeu a necessidade de uma “convergência de atitudes e expressões” dentro da Igreja, a nível pastoral.
“Isso tem o seu caminho, não devemos pretender que de um momento para o outro tudo muda, isto não é bem assim (…) quando se trata de mudar a sensibilidade pessoal, e não estou a falar apenas dos bispos ou dos padres, mas dos leigos em geral”, complementou.
Para o bispo de Setúbal, a exortação apostólica pós-sinodal vai seguir a linha de um Papa que tem procurado fazer com que cada pessoa se sinta “compreendida, escutada e atendida com fraternidade, com misericórdia”.
“E este Ano da Misericórdia veio exatamente ensinar-nos a abrirmos as portas do coração a todas as situações que precisam de especial atenção e não de especiais julgamentos”, considerou D. José Ornelas de Carvalho.
De acordo com o responsável católico, a acelerada mudança do mundo, ao nível "da família, da situação económica, social, eclesial” exige um novo modo de encarar “o processo de fé e colaboração” que a Igreja Católica tem para oferecer.
Uma ideia partilhada por D. José Alves, arcebispo de Évora, que dá como exemplos o sacramento do matrimónio e o conceito de família cristã, hoje cada vez mais desvalorizados mas que têm muito a dizer a uma sociedade em rutura.
“O próprio sentido do matrimónio é a estabilidade. Hoje sabemos que há muitas outras situações que as pessoas vivem onde a estabilidade não é norma comum. E daí também percebemos os múltiplos problemas que se desencadeiam em relação dos cônjuges e também à prole, aos filhos”, salientou.
Já o bispo de Beja, D. António Vitalino, considera que a Igreja Católica tem de “tornar a família um bem desejável e apresentá-la como algo de belo”, destacando a mais-valia da proposta cristã.
“A fé, a oração, os sacramentos, são um grande recurso que temos para superar as dificuldades não contando só connosco, com as nossas capacidades, mas com o poder de Deus, da oração, das comunidades, das outras famílias”, concluiu.
JCP