Terapeuta familiar afirma que a Igreja «tem de perceber» os desafios dos novos tempos e acolher, rejeitando o «vale tudo»
Lisboa 05 jan 2021 (Ecclesia) – A terapeuta familiar Margarida Cordo afirmou que a Igreja “tem de perceber” os desafios dos novos tempos das famílias e insistir na promoção do acolhimento e disse que é necessário promover uma relação “saudável com o tempo”.
“Depressão é excesso de passado, stress é excesso de presente e ansiedade é excesso de futuro. O que temos para viver é no presente e nunca em excesso. É a relação com o tempo que está a estragar a realidade das famílias”, afirmou em declarações à Revista ‘Família Cristã’ e Agência ECCLESIA.
A terapeuta familiar considera a construção de uma família “um sonho”, que passa por pensar um projeto em conjunto, balancear as “perspetivas profissionais”, viver “sem pressa” e na consciência de que é necessário lidar com a perceção do “passado, presente e futuro”.
O que dá um bom suporte para podermos viver bem, é não deixarmos para a família o resto de nós. As pessoas em consultório dizem-me: ‘Em casa é onde o pior de mim fica. Grito com os meus filhos, incompatibilizo-me com o meu marido’”.
Margarida Cordo indicou que a Igreja tem de “compreender os desafios dos novos tempos”, marcado pela “flexibilidade” e insistir no acolhimento.
“Acolher, acolher, acolher”, sublinhou a terapeuta familiar, acrescentando que “a Igreja não pode não compreender os desafios dos novos tempos” e tem de atender à “facilidade com que as pessoas vivem juntas” aos “novos formatos de famílias”, afirmando também que “não vale tudo”.
O acolhimento em Igreja, destaca, “não é para quem está dentro, pois essas pessoas já estão inseridas, apenas continuam o seu caminho”, mas para “quem, a medo, está a chegar ou a espreitar para ver o que é, precisa encontrar propostas boas, de esperança, de confiança, que depois os vão conduzir à fé”.
A psicóloga considera que “se deve insistir muito na ajuda a dar aos casais que se prepararam para o matrimónio”, afirmando que é “um investimento muito sério”, onde “faz sentido propor santidade e vocação”, como indica o tema do X Encontro Mundial das Famílias, que vai decorrer em Roma, em junho deste ano.
“A vocação de santidade é um grande trabalho de fundo que nos permite ir em busca da melhor versão de nós em tudo o que fazemos”, afirmou.
A melhor versão não é estar estafado sem paciência para uma conversa; ter seis horas para dormir a pensar no que amanhã se tem de fazer. Há um tempo para nos dedicarmos, olharmos e nos escutarmos – é um chamamento à santidade”.
Margarida Cordo é Psicóloga Clínica e da Saúde, Terapeuta Familiar e Psicoterapeuta há mais de 20 anos, acompanha diversos quadros familiares e reconhecendo que as famílias hoje pedem “suporte, acolhimento, ponto de encontro”.
“As famílias hoje pedem pares para se conseguirem identificar e refletir. Muitas vezes necessitam de um lugar onde possam relativizar as suas dificuldades e para isso precisam de encontrar pares, que passam pelos mesmos desafios, e não se importam de partilhar as experiências».
Margarida Cordo entende que a ideia de “família perfeita” pode ser “excludente” da comunidade e evidencia uma “confusão” entre “impor e propor”.
“As famílias, desde os anos 70/80, mudaram muito. Passámos de um tempo em que muito pouca coisa era permitida e muito era proibido, para ‘é proibido proibir’. As famílias não sabem por onde caminham. Mas a Igreja tem de ser uma porta aberta, encontrar uma linguagem de todos e não de um ‘nós e eles’”, observa.
Para a terapeuta familiar, a “família perfeita” é a que tem como pilares o “amor, a confiança e a admiração recíproca”.
Este artigo resulta de uma parceria Família Cristã/Agência Ecclesia
LS/PR