Incapacidade em chegar aos «problemas profundos» das pessoas tem dado azo a «muitas oportunidades desperdiçadas», admite D. António Vitalino
Beja, 12 out 2015 (Ecclesia) – O bispo de Beja diz que uma pastoral católica que não tenha em conta a realidade familiar de cada um dos seus elementos, sejam eles crentes ou não crentes, “falha redondamente” no seu objetivo.
Na sua nota semanal, enviada à Agência ECCLESIA, D. António Vitalino reflete sobre “a família na missão da Igreja”, um dos temas que estão em cima da mesa no Sínodo dos Bispos que está a decorrer em Roma.
Olhando para a realidade da sua diocese, o prelado admite que “no Alentejo muitos membros da família não têm contacto regular com as comunidades cristãs” e que, muitas vezes, “nas assembleias dominicais predominam as crianças e as mulheres, sobretudo idosas”.
No entanto, frisa aquele responsável, isso não significa que a Igreja Católica deva descurar o “encontro” com os que normalmente não participam nas celebrações mas que desempenham um papel importante, sobretudo “na educação dos mais novos”.
D. António Vitalino dá como exemplo os “pais sem tempo” e recorda um “evento social” em que participou na última semana e onde teve oportunidade de “falar com alguns participantes, sobretudo homens, que normalmente não se encontram com padres e muito menos com bispos”.
“Ouvi testemunhos de vida que me comoveram e que normalmente não se escutam nem veem nas nossas assembleias dominicais. Afinal há muitas atitudes de fé naqueles com quem normalmente não nos encontramos”, aponta o prelado.
Para o bispo de Beja, encontros como este são sinais de que a Igreja Católica precisa de ser mais “criativa” e de estar mais aberta a “ajudar as pessoas e as famílias no seu desenvolvimento”, a apoiá-las nas suas potencialidades educativas e sociais”.
Mais do que dar “discursos moralistas”, a Igreja Católica precisa de saber “escutar, perguntar, ouvir respostas” e ajudar os outros a “escutarem mais a Palavra de Deus, mais do que a sua”, dos seus padres e bispos.
Para D. António Vitalino, “muitas oportunidades” têm sido “desperdiçadas”, à medida que a Igreja Católica se tem mostrado muitas vezes incapaz de chegar aos “problemas profundos” das pessoas e de receber também a “sabedoria” destas.
Daí que uma nova atitude seja necessária, e dela dependerá também a capacidade da Igreja Católica em ir ao encontro de “quem está em crise pessoal ou comunitária”.
JCP