Família: «As crianças que estão em acolhimento não estão lá por sua culpa» – presidente da associação «A Candeia»

Miguel Simões Correia e Graça Pereira Coutinho apresentam espetáculo musical «Da relação nasce a luz», que quer desmistificar preconceitos e sensibilizar a sociedade para a realidade do acolhimento residencial de crianças e jovens 

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 21 fev 2025 (Ecclesia) – Miguel Simões Correia, presidente da Associação «A Candeia», lamenta a existência de “mitos” em torno do acolhimento residencial das crianças, fala em “redes familiares vulneráveis” e da necessidade cuidar do interesse e afetos das crianças e jovens acolhidos.

“Uma criança que está numa casa de acolhimento não está lá pelo seu comportamento, mas porque tem redes familiares frágeis e precisa ser protegida. Estas crianças e jovens são questionadas na escola sobre que comportamentos tiveram para estar ali, ouvem que os pais não gostam delas, que fizeram alguma coisa de errada. Não se está a sancionar nenhuma criança, mas a procurar protegê-la”, explica Miguel Simões Correia, presidente da Associação «A Candeia».

O responsável fala em “mitos” sobre casas de acolhimento que afastam a sociedade de uma realidade que importa dar a conhecer para que mais famílias se envolvam no desenvolvimento afetivo destas crianças e jovens.

“São crianças que normalmente têm rede familiar, até têm pais, mas têm uma rede vulnerável, e portanto o que se tem que trabalhar é a rede. Há o mito que as crianças passaram por situações graves, violência sexual, e esse não é o panorama maioritário. As pessoas acham também que a adoção é o caminho para estras crianças o que também não corresponde à verdade, porque os números indicam cerca de 7% de saída por essa via nas casas de acolhimento”, explica.

Miguel Simões Correia sublinha a necessidade de criar “relações estáveis, positivas e securizantes” para as crianças que vivem num contexto volátil nas casas de acolhimento.

“Quando uma criança é retirada, a lei prevê que entre em acolhimento residencial ou que uma família de acolhimento a receba, mas há muito poucas famílias de acolhimento, portanto, as crianças estão quase todas, 96%, em acolhimento residencial”, indica.

“É essencial para a criança crescer num contexto familiar, com vinculação a figuras de referência – que a pessoa que a adormece seja a mesma que a levanta; que a pessoa que ri com ela seja a mesma que a conforta quando ela chora. Todas as pessoas precisam de um ambiente securizante, laços afetivos estáveis para crescerem e desenvolverem competências”, acrescenta.

A Associação «A Candeia» promove atividades com jovens e crianças, acompanha 42 instituições de acolhimento através de uma rede de voluntários e prove também o projeto «Amigos para a vida», com o objetivo de criar laços afetivos e promover o bem-estar.

“Falta muito conhecimento desta realidade e mobilização da sociedade civil, porque o Estado, aquilo que pode oferecer, são casas de acolhimento. É difícil que as pessoas se mobilizem para ajudar uma realidade que não conhecem”, explica Miguel Simões Correia.

O musical «Da relação nasce a luz» quer mostrar uma realidade desconhecida contando, a partir de um caso real, como uma relação de amizade estabelecida entre uma criança a viver em acolhimento residencial e um animador, pode ser decisiva.

Graça Pereira Coutinho, da comunicação da associação, explica que o musical que este domingo é reposto no auditório de Santa Joana Princesa, em Lisboa, com duas sessões – às 16h e às 21h – será uma forma “criativa”, através da “música, dança e representação” dar a conhecer uma realidade diária de jovens e crianças a viver em acolhimento residencial e que necessita ser mostrada.

O musical conta com a participação de voluntários – alguns dos quais passaram por casas de acolhimento residencial e colaboram com «A Candeia».

No dia 29 de março, será inaugurada uma exposição. «Acolhe em ti esta história», que vai apresentar “várias relatos”, recolhidas de conversas com jovens para, em formato “vídeo, textos, fotografia”, tornar reais as histórias das crianças e dos jovens que vivem ou viveram em acolhimento residencial.

“As crianças e os jovens são as melhores pessoas para contarem a sua história: desde o medo da criança entrar na casa, ao dia-a-dia da casa, à possibilidade de sair, aos apoios que existem lá fora, à solidão que sentem… a melhor forma de conhecer esta realidade é ela ser contada por quem a vive”, finaliza Graça Pereia Coutinho.

A conversa com Miguel Simões Correia e Graça Pereira Coutinho vai estar no centro do programa ECCLESIA, emitido este sábado na Antena 1, pelas 6h.

LS

Lisboa: Associação ‘Candeia’ apresenta «realidade do acolhimento» de crianças e jovens no musical «Da Relação Nasce a Luz» (c/vídeo)

 

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