Às 11 horas desta Quinta-feira, 5 de Fevereiro, o Cardeal Patriarca de Lisboa preside, na Sé, à missa exequial, seguindo o funeral para Vila Nova de Ourém D. António dos Reis Rodrigues, bispo titular de Madarsuma e bispo-auxiliar emérito do Patriarcado de Lisboa, faleceu esta Terça-feira, dia 3 de Fevereiro, no Hospital de S. José, em Lisboa, com 90 anos de idade.
Às 11 horas desta Quinta-feira, 5 de Fevereiro, D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, preside, na Sé, à missa exequial, seguindo o funeral para Vila Nova de Ourém.
“Uma inteligência brilhante e penetrante” – é assim que o Cardeal-Patriarca de Lisboa recorda D. António Reis Rodrigues com quem privou.
Em entrevista à Renascença, D. José Policarpo lembra a “amizade e fidelidade” pastoral de D. António dos Reis Rodrigues ao seu predecessor D. António Ribeiro e destaca o seu papel no final do antigo regime.
Conheceu-o numa fase tardia mas ficou com “a imagem de um homem extremamente culto” e com “uma capacidade organizativa ímpar” – referiu à Agência ECCLESIA D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança, depois de saber do falecimento de D. António dos Reis Rodrigues.
A “sensibilidade rara e a profundidade jurídica” eram também qualidades do bispo emérito. D. Januário Torgal Ferreira realça também que D. António Reis Rodrigues aprofundava todos os temas. “A Igreja pediu-lhe funções extremamente complexas em proporção com o seu valor”. E acrescenta: “no mundo universitário numa época conturbada e nas Forças Armadas num período não democrático”.
O Bispo das Forças Armadas e de Segurança sublinha que D. António Reis Rodrigues foi “um autêntico braço-direito do Cardeal Ribeiro”. Quem não conhecesse D. António Reis Rodrigues “não saberia que ele tinha um grande sentido de humor”.
Nos últimos anos da sua vida, o antigo bispo emérito dedicou-se a escrever. “Publicava um livro por ano” – disse D. Januário Torgal Ferreira. E finaliza: “A Igreja em Portugal tem que se honrar deste servidor fiel e leal”
À Agência ECCLESIA, D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, lembra de D. António dos Reis Rodrigues o “rigor” de pensamento, jurídico e pastoral, “muito atento aos outros, sempre”.
O Arcebispo de Braga fala ainda no “amor à verdade” que transparece da vida e obra do falecido Bispo.
Com a morte de D. António Reis Rodrigues desaparece um homem “extremamente culto”, que teve um papel “notável” na doutrina social e na ligação entre Estado e Igreja, diz o Bispo do Porto. D. Manuel Clemente recorda o falecido Bispo om “saudade e gratidão” recorda os muitos anos em que trabalharam em conjunto.
“Era um homem extremamente culto. Já foi para o Seminário depois de se formar em Direito e manteve sempre ao longo da vida esse pendor intelectual. Era uma pessoa que estava muito dentro dos assuntos e que os tratava com muito rigor, concretamente no campo cultural, em geral, e jurídico-social, em particular”, refere à RR.
O Bispo do Porto considera “notável” o trabalho deixado por D. António Reis Rodrigues no âmbito da Doutrina Social da Igreja e também na ”análise do magistério da Igreja sobre diversos sectores da vida da própria Igreja, como por exemplo o papel do laicado”.
D. Manuel Falcão e D. António Reis Rodrigues são da mesma geração. Em declarações à Agência ECCLESIA, o bispo emérito de Beja recorda os passos dados em conjunto. “Fui aluno do Seminário dos Olivais com ele e, mais tarde, fomos eleitos bispos quase ao mesmo tempo”.
Nos tempos da Juventude Escolar Católica (JEC) – D. António Reis Rodrigues foi o primeiro presidente –, o bispo emérito de Beja sublinha “a capacidade e facilidade com que falava da Igreja”. O trabalho junto dos jovens universitários e nas Forças Armadas “foi notável” – disse D. Manuel Falcão.
Com a nomeação de D. Manuel Falcão para Beja, os contactos diminuíram. No entanto, “sentirei a sua falta” porque “é da minha geração”.
Nota biográfica
D. António dos Reis Rodrigues nasceu em Ourém em 24 de Junho de 1918.
Enquanto estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, onde se formou em 1941, foi presidente geral da Juventude Escolar Católica (JEC), dirigente das Conferências de São Vicente de Paulo, fundador e director da Flama, jornal de estudantes.
Em 1942, entrou para o Seminário dos Olivais, sendo ordenado sacerdote em 1947 e nomeado cónego da Sé Patriarcal em 1955.
Durante 18 anos (1947-1965) foi assistente nacional e diocesano da Juventude Universitária Católica (JUC) e durante 16 anos (1947-1963) capelão da Academia Militar.
No Instituto de Serviço Social foi professor de Doutrina Social da Igreja e durante alguns anos responsável pelo programa religioso da Radiotelevisão Portuguesa, programa de que resultou o volume O Tempo e a Graça, publicado em 1967.
Em Julho de 1966, foi nomeado Vigário-Geral Castrense, pouco depois Director Nacional da Obra Católica Portuguesa das Migrações e, em Outubro do mesmo ano, eleito Bispo titular de Madarsuma, tendo recebido a ordenação episcopal em 8 de Janeiro de 1967, na Igreja dos Jerónimos, em Lisboa. Desempenhou as funções de Pró-Vigário Castrense e Capelão-Mor das Forças Armadas entre 1967 e 1975, ano em que foi nomeado bispo-auxiliar do Patriarcado de Lisboa.
Na Conferência Episcopal Portuguesa, exerceu, de 1967 a 1981, o cargo de Presidente da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo; de 1975 a 1981, o de Secretário da Conferência; e, de 1981 a 1984, o de Vice-Presidente. Fez parte, por vários mandatos, do Conselho Permanente da Conferência. No quinquénio de 1972-1977, foi, por designação pontifícia, membro da Comissão Pontifícia das Migrações e Turismo.
No Patriarcado de Lisboa foi Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico (de 1990 a 1995) e Vigário Geral, funções que exerceu desde 1983 até à data da sua jubilação em 5 de Setembro de 1998.
Foi membro da Academia Internacional de Cultura Portuguesa e da Sociedade Cientifica da Universidade Católica Portuguesa. É autor de diversos livros, nomeadamente o estudo Pessoa, Sociedade e Estado; Nuno Álvares, Condestável e Santo; Vidas Autênticas; O homem e a ordem social e política; Sobre o uso da Riqueza e A palavra de Deus saída do Silêncio.
Testemunho
D. António dos Reis Rodrigues deixa o seu nome ligado a gerações de jovens universitários pela formação que lhes ofereceu e pelo cunho de compromisso humano e cristão na sociedade com que impregnou as suas vidas. A homenagem que, há cerca de cinco anos, esses numerosos militantes da JUC lhe prestaram, foi um sinal público e eloquente do muito que lhe ficaram a dever. Muitos deles ocuparam e ocupam ainda, nestas três décadas de democracia portuguesa, lugares de particular relevo, em variadíssimas áreas da vida nacional, o que atesta o grau de empenhamento, adquirido através da acção do seu assistente religioso.
Como bispo-auxiliar de Lisboa, D. António dos Reis Rodrigues dedicou especial atenção à organização pastoral do Patriarcado de Lisboa, distinguindo-se pelo acompanhamento dos sacerdotes, párocos e responsáveis de outras estruturas eclesiais, zelando pelo cumprimento das suas obrigações e oferecendo perspectivas renovadas, impostas pelos novos tempos que entretanto surgiram.
O Patriarcado de Lisboa fica ainda devendo a D. António o enriquecimento cultural do espaço museológico de São Vicente de Fora, com justa e particular referência à criação do Museu dos Patriarcas.
Fonte: Patriarcado de Lisboa
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