Rui Saraiva, diocese do Porto
No próximo domingo 21 de maio a Igreja Católica celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais, na sua edição número 57. O Papa na Mensagem que publicou neste ano assinala a necessidade de se “falar com o coração”. O título do texto é “Falar com o coração. Testemunhando a verdade no amor”.
O Santo Padre lembra que nos últimos anos propôs uma abordagem em que os verbos ir, ver e escutar eram apontados como “condição necessária para uma boa comunicação”. Neste ano 2023, Francisco salienta a importância do coração na atitude da comunicação para que seja possível testemunhar a verdade.
“Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor”, escreve o Papa.
Comunicar cordialmente
O Santo Padre aponta na sua Mensagem a necessidade de se comunicar cordialmente. Ou seja, atuar em modo tal “que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo”.
O Papa propõe aos jornalistas e comunicadores, uma narração dos acontecimentos e dos factos que não crie ou motive polarizações ou oposições. Desafia-os para um desempenho de “gentileza” que seja “um verdadeiro antídoto contra a crueldade”.
“A gentileza não é questão apenas de «etiqueta», mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”, diz o Santo Padre.
Francisco assinala o registo do “falar amável”, para que a comunicação “ajude as pessoas a refletir calmamente” e com “espírito crítico”.
“Precisamos daquele falar amável no âmbito dos mass media, para que a comunicação não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem”, afirma.
De coração a coração
Neste contexto, o Papa recorda na sua Mensagem a figura de S. Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas católicos. Assinala os seus méritos intelectuais, enquanto teólogo, mas principalmente o seu perfil baseado numa atitude de especial predisposição a dialogar.
“Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”, escreve o Santo Padre.
“O coração fala ao coração” é uma sua expressão célebre a qual indicava a intenção de que “basta amar bem para dizer bem”. Sobre este princípio de falar com o coração patente em S. Francisco de Sales, o Papa sublinha no seu texto que “a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing”, mas sim a ser “reflexo do íntimo”.
“Para S. Francisco de Sales, precisamente «no coração e através do coração é que se realiza aquele subtil e intenso processo unitário em virtude do qual o homem reconhece a Deus”, escreve o Santo Padre.
O Papa pede que os “agentes de comunicação” rejeitem “expressões sensacionalistas e agressivas” e apostem numa comunicação que seja narração da “verdade com coragem e liberdade”.
Processo sinodal e linguagem de paz
Na sua Mensagem, o Papa recorda a necessidade de se “falar com o coração no processo sinodal” em curso na Igreja. Fala de uma “escuta sem preconceitos” que seja “atenta e disponível” e sustenta que “na Igreja temos urgente necessidade de uma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs”, assinala.
“Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milénio”, afirma o Santo Padre.
Especialmente relevante no seu texto para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, é o apelo do Papa à “linguagem de paz”, neste período da história em que “a humanidade vive uma hora escura temendo uma escalada bélica, que deve ser travada o mais depressa possível, inclusivamente em termos de comunicação”, frisa o Santo Padre.
Francisco na sua Mensagem pede que seja rejeitada “toda a retórica belicista, assim como toda a forma de propaganda que manipula a verdade, deturpando-a com finalidades ideológicas”.Propõe que “em vez disso seja promovida, a todos os níveis, uma comunicação que ajude a criar as condições para se resolverem as controvérsias entre os povos”.