Inauguração incluiu uma conferência do Pe. José Tolentino Mendonça No Mosteiro de Tibães foi inaugurada ontem (8 de Dezembro) a exposição “Génesis”, da autoria de Ilda David’. Ao todo são apresentadas 37 pinturas, que permitem conhecer um pouco melhor o primeiro livro da Bíblia. Os trabalhos podem ser apreciados até 4 de Fevereiro de 2007, durante o horário de funcionamento do espaço cultural bracarense. Segundo a autora, não existe «uma imagem por capítulo, mas quase». E «alguns capítulos têm mais do que uma imagem». «A parte a que me dediquei mais tempo foi até ao Capítulo 15», explicou. A ideia de promover a exposição surgiu na sequência de um contacto com o pároco de Mire de Tibães, padre Mário Rui de Oliveira. A artista explicou que as pinturas já foram apresentadas no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, em Outubro, mas apenas durante um dia. Por isso, Ilda David’ mostrou-se agradada por os quadros ficarem agora em exposição durante algum tempo, num espaço que a própria caracterizou como «magnífico». «É surpreendente. Parece meu e não parece». O trabalho «saiu do ateliê» e esse «é sempre um passo emocionante», disse, acrescentando que, para já, as ideias passam por «manter os quadros juntos durante algum tempo». De acordo com a pintora, o trabalho de ilustração do Livro do Génesis começou há cerca de dois anos e meio. Mas, desde então para cá, a artista tem trabalhado em diversos livros da Bíblia. Ilda David’ explicou que este tipo de trabalho se relaciona com a sua ligação aos livros e às ilustrações e a uma ligação da palavra com a imagem. O trabalho de ilustração de livros da Bíblia começou há cerca de dez anos, altura em que a artista pintou diversos quadros alusivos ao Cântico dos Cânticos. Ilda David’, natural de Benavente, onde nasceu em 1955, frequentou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, entre 1976 e 1981. A artista, que vive e trabalha em Lisboa, já expôs individualmente em Lisboa, Funchal, Sines, Porto, Esposende, Coimbra, S. João da Madeira, Ponte de Sor, Guimarães, Beja, S. Paulo e Cascais. Também já participou em mostras colectivas itinerantes e noutras realizadas em Madrid, Badajoz, S. João da Madeira, Lisboa, Frankfurt, Rio de Janeiro, Macau, S. Paulo, Huelva, Porto, Basileia, Los Angeles, Pequim, Funchal, Corunha, Veneza, Southampton, Nova Iorque, Campo Maior e Cáceres. Desconhecer a Bíblia é uma forma de iliteracia cultural Numa conferência intitulada “A Bíblia e a legibilidade do mundo”, proferida no âmbito da inauguração da exposição, o poeta e exegeta bíblico José Tolentino Mendonça disse que «desconhecer a Bíblia não é só uma carência do ponto de vista religioso, mas também uma forma de iliteracia cultural». Esse desconhecimento «significa perder de vista uma parte do horizonte em que nos inscrevemos», acrescentou José Tolentino Mendonça. Em sua opinião, «a Bíblia é um texto claro, mas também uma espécie de chave indispensável à nossa decifração do real». Trata-se de um parceiro voluntário ou involuntário na comunicação global. De acordo com José Tolentino Mendonça, «a Bíblia é uma espécie de atlas iconográfico, um estaleiro de símbolos, um reservatório de história, um armário cheio de personagens». «O texto bíblico participa na construção do mundo, ao mesmo tempo que viabiliza a sua legibilidade», acrescentou o exegeta bíblico.