Expedição marítima trilha passos do padre António Vieira

Uma expedição marítima a bordo de um veleiro, intitulada Cruzeiro Histórico – Identidade e Cidadania (CHIC), percorre o litoral nordeste do Brasil por estes dias, no contexto dos preparativos das celebrações dos 400 anos de nascimento do padre António Vieira (2008). O veleiro permanece esta semana em Camocim (Ceará), onde pode ser visitado. A embarcação está a percorrer os locais onde o jesuíta desempenhou o seu trabalho apostólico. O cruzeiro histórico, que começou em Portugal em Março passado, vai resgatar toda a história do sacerdote, escritor e orador que nasceu em 1608, em Lisboa (Portugal) e morreu aos 89 anos na Bahia (Brasil). Antes de chegar ao Ceará, o veleiro percorreu a costa da África e parou em Cabo Verde. Depois seguiu para Salvador (Bahia), onde o padre António Vieira viveu no tempo da sua juventude. O CHIC navega sob a direção de Abreu Freire, integrado num projecto de investigação do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Aveiro (Portugal). Segundo explica o site dedicado ao projecto (www.ua.pt/vieira2008/), “percorrer os espaços de Vieira é não ó prestar homenagem a um dos maiores portugueses de todos os tempos, mas também descobrir a faceta mais humana e sensível de um cidadão desta ‘praça ou feira universal'”. De Camocim, uma pequena cidade do Ceará, a tripulação irá percorrer os terrenos de uma das maiores missões de Vieira, a da serra de Ibiapaba, desta vez usando viaturas terrestres fornecidas pela prefeitura local. Redacção/Zenit Cronologia 1608: António Vieira nasce em Lisboa a 6 de Fevereiro, uma segunda-feira, na Rua dos Cónegos (perto da Sé), primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Revasco (de origem alentejana, escrivão) e de Maria de Azevedo (lisboeta). A avó paterna era negra. Foi seu padrinho de baptismo D. Fernão Teles de Menezes, conde de Unhão. 1609 (1 ano): O pai emigra para Salvador da Bahia para exercer o cargo de escrivão no Tribunal da Relação. António Vieira vive com a mãe na rua de Nossa Senhora dos Mártires; com ela aprendeu a ler e escrever. 1615/16 (7/8 anos): António Vieira com a mãe juntam-se ao pai na Bahia. Na viagem o navio sofreu uma violenta tempestade, encalhou nos baixos da Paraíba (a 20 de Janeiro) e quase se perdeu. 1623 (15 anos): Entra como noviço para o Colégio dos Jesuítas em Salvador da Bahia; é enviado por alguns meses para a missão da aldeia de São João. 1624 (16 anos): Em Maio a esquadra holandesa de Jacob Willekens ataca e ocupa Salvador, Vieira refugia-se com os seus companheiros, os padres e o bispo da diocese nas aldeia de Espírito Santo (hoje vila de Abrantes), a cerca de 35 km da cidade ocupada, onde se dedica à sua primeira missão catequética e estuda as línguas nativas. É encarregado de redigir o relatório anual da província (jesuítica), a Charta Annua, destinado ao Superior Geral: o relatório abrange dois anos e foi terminado em Setembro de 1626. 1625 (17 anos): António Vieira acaba os dois anos de noviciado e faz os primeiros votos. 1626 (18 anos): Vieira é enviado para o Colégio de Olinda (Pernambuco), onde ensina Retórica, como Mestre de Humanidades, durante pelo menos dois anos (ele dirá 3 aos inquisidores), regressando a Salvador. Terá escrito comentários sobre Séneca e Ovídio, textos que se perderam. 1633 (25 anos):Primeiros sermões pregados em Salvador, dois anos antes de ser ordenado padre: Sermão do Quarto Domingo da Quaresma, na igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, Sermão XIV do Rosário, à irmandade dos escravos de um engenho e Sermão do Nascimento do Menino Deus, na igreja do Colégio. 1635 (27 anos): É ordenado padre em Salvador da Bahia, capital da colónia do Brasil. A sua primeira missa é a 13 de Dezembro, dia da Santa Luzia. 1638 (30 anos): Vieira é nomeado professor de Teologia no Colégio de Salvador. Terá escrito alguns comentários teológicos sobre passagens da Escritura, textos perdidos. 1640 (32 anos): Mais um ataque marítimo dos holandeses à Bahia, opondo a armada de Nassau à do Conde da Torre. Sermão Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as da Holanda,na igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Maio. Restauração da Monarquia portuguesa em Dezembro. Aclamação de D. João IV. 1641 (33 anos): Vieira e o padre Simão de Vasconcelos são escolhidos para acompanhar D. Fernando de Mascarenhas, filho do então Vice-rei D. Jorge de Mascarenhas, marquês de Montalvão, até Lisboa, para jurar obediência ao novo rei de Portugal. A viagem inicia-se a 27 de Fevereiro e termina em Peniche de maneira complicada, a 25 de Abril, devido ao mau tempo, e à hostilidade contra o filho do Marquês, dado que a mãe aderira à causa castelhana. Vieira encontra-se com o rei D. João IV a 30 de Abril. 1642 (34 anos): Prega o primeiro sermão na Capela Real, o Sermão do Ano Bom no primeiro dia do ano. A 14 de Setembro prega o Sermão de Sto António na Igreja das Chagas, onde apela à colaboração de todos os portugueses para o esforço de guerra, na véspera da reunião das Cortes (nobreza e clero estavam isentos de impostos, que se aplicavam aos comerciantes e ao povo). 1643 (35 anos): Documento apresentado ao rei D. João IV sobre o “miserável estado do reino e a necessidade que tinha de admitir os judeus mercadores”. Sugere ainda ao rei a criação de uma Companhia de Comércio e o cultivo de drogas e especiarias da Índia no Brasil. 1644 (36 anos): D. João IV solicita ao provincial dos jesuítas o destacamento do Padre António Vieira para missões relevantes de interesse da Corte. É nomeado pregador régio e mestre do príncipe D. Teodósio. Prega o Sermão de São Roque, na capela da casa dos jesuítas de São Roque, onde propõe a criação de duas Companhias de Comércio, uma para o comércio da Índia, outra para o do Brasil. 1645 (37 anos): Prega na capela real o Sermão do Mandato. 1646 (38 anos): Faz os votos solenes na casa de São Roque (segundo o Padre Serafim Leite, mas segundo o Padre João Lúcio de Azevedo terá sido em 1644). Primeira missão diplomática do Padre António Vieira a França para tratar de um possível casamento de D. Teodósio, filho do rei português e à Holanda para tentar a paz com os holandeses. Itinerário: Lisboa – La Rochelle – Orléans – Paris – Rouen – Calais – Roterdão – Haia. Missão sem sucesso. O Sermão do Ano Bom de 1642 é publicado em flamengo. No regresso a Lisboa envia ao rei uma Proposta a favor da Gente da Nação (judaica). 1647 (39 anos): Segunda missão diplomática de Vieira a França e Holanda. Itinerário: Lisboa – Le Havre (Dover e Londres, preso por corsários) – Paris – Rouen – Calais – Haia. Missão complicada e de sucesso relativo. Redige um Parecer sobre a compra de Pernambuco aos holandeses. Com o apoio de judeus holandeses de origem portuguesa compra a fragata “Fortuna” com mantimentos e munições. 1648 (40 anos): De regresso a Lisboa em Outubro de 1648, Vieira entrega ao rei um Papel a favor da entrega de Pernambuco aos holandeses, que o rei chamou de Papel Forte. Redige a Carta ao Marquês de Niza dando conta do seu plano para combater os espanhóis nas conquistas da América do Sul. 1649 (41 anos): Por instigação do Padre António Vieira é criada a Companhia Geral do Comércio do Brasil, com o monopólio do comércio do bacalhau, azeite, vinho e trigo. Pressões para que Vieira abandone a Companhia de Jesus. O rei defende-o. Primeiras denúncias à Inquisição. Começa a redigir a História do Futuro. 1650 (42 anos): Primeira missão diplomática de Vieira a Itália (Roma) para assuntos do Estado: propor o casamento de D. Teodósio com D. Maria Teresa de Áustria, filha do rei espanhol, e incentivar os revoltosos napolitanos contra o rei de Espanha. Lisboa – Barcelona – Liorne – Roma. Viagem falhada, que terminou com ameaças de morte. Redige a Carta ao Príncipe D. Teodósio. Prega o Sermão da Primeira Dominga do Advento. 1652 (44 anos): Missão em Torres Vedras: pregou o Sermão da Segunda-feira depois do 2º Domingo da Quaresma (I-II-III, 935). Parte no final do ano para o Maranhão, como superior dos missionários jesuítas do Maranhão e Pará, passando o Natal em Cabo Verde. 1653 (45 anos): Chega ao Maranhão a 16 de Janeiro. Prega o Sermão do 22º domingo depois do Pentecostes (IV-V-VI, 1157), aquando da extinção do “Estado do Maranhão”. Missões no Tocantins, Amazonas e ilha de Marajó. Primeiro grande sermão contra a escravatura, o Sermão das Tentações. 1654 (46 anos): Vieira viaja até Lisboa para obter do rei novas normas sobre o estatuto dos Índios nas missões do Maranhão. Antes de partir, a 13 de Junho, prega o Sermão de Santo António aos Peixes. O navio é desarvorado perto dos Açores e atacado por piratas holandeses que o saqueiam, deixando os passageiros na Ilha Graciosa; de lá Vieira passa à Ilha Terceira e à de São Miguel, donde embarca para Lisboa num navio inglês. 1655 (47 anos): Prega na Capela Real da Corte o Sermão da Sexagésima e na igreja da Misericórdia o Sermão do Bom Ladrão. Regressa às missões do Maranhão (Maio) com plenos poderes para a organização dos aldeamentos de Índios. 1658 (50 anos): É nomeado “Visitador”. 1659 (51 anos): Carta de Vieira ao seu amigo Padre André Fernandes, bispo titular do Japão, intitulada Esperanças de Portugal, onde expõe a sua visão do Quinto Império do Mundo. 1660 (52 anos): André Fernandes é intimado a entregar o escrito no Santo Ofício, organizando-se um processo para o prender. 1661 (53 anos): Os colonos do Maranhão, juntamente com os superiores de outras ordens religiosas, conspiram contra os jesuítas que são presos e expulsos para Portugal. Vieira sofre de paludismo. 1662 (54 anos): Prega na Capela Real perante a rainha regente e o rei o Sermão da Epifania, em dia de Reis.A rainha D. Luísa de Gusmão é afastada da Corte em favor de D. Afonso VI, sendo seu ministro o Conde de Castelo Melhor. Vieira opta pela causa da oposição ao rei e é confinado pelo ministro do rei a residir no Porto. O Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) instaura-lhe um processo por delito de heresia.A 21 de Junho é intimado a depor no Tribunal da Inquisição e redige “Resposta aos 25 capítulos” de acusação contra ele e os jesuítas do Maranhão e Grão-Pará Passa algum tempo na Quinta de Vila Franca, por doença. 1663 (55 anos): Vieira é desterrado para Coimbra a pedido da Inquisição, com proibição de ir para o Brasil. 1664 (56 anos): Vieira é condenado à prisão pela Inquisição. 1665 (57 anos): Vieira, até então confinado em prisão domiciliar no colégio de Coimbra, é encarcerado, em regime de prisão preventiva, nos cárceres da Inquisição por ordem do Tribunal do Santo Ofício, até ao fim do processo. 1666 (58 anos): Entrega a sua “Defesa” ao Santo Ofício. 1667 (59 anos): Vieira é sentenciado pelo Tribunal a residência confinada em casas da Companhia em Coimbra e depois em Lisboa, com interdição de pregar. Golpe de estado afasta D. Afonso VI, entregando a regência a D. Pedro, seu irmão. Vieira é transferido para o Mosteiro do Poderoso no Porto. 1668 (60 anos): Vieira é libertado em Junho, mediante decreto do Santo Ofício a conceder o perdão das suas penas; é transferido para o noviciado de Lisboa e assume o seu posto de Confessor do regente, assim como o direito de pregar, mas com limitações em relação às matérias de que fora acusado. 1669 (61 anos): Parte para Roma, em busca da libertação em relação às limitações que lhe tinham sido impostas, onde ficará até 1675, frequentando a cúria romana e a academia da corte da rainha Cristina da Suécia. Itinerário: Lisboa – Alicante – Marselha – Liorne – Florença – Roma. O papa Clemente IX reconhece a monarquia portuguesa e confirma a nomeação dos bispos retroactiva a 1640. 1673 (65 anos): Primeiro Sermão para a rainha Cristina da Suécia (“5ª Terça-feira da Quaresma”), que o solicita como seu pregador. 1674 (66 anos): Vieira obtém do papa Clemente X a suspensão de todas as actividades do Tribunal da Inquisição em Portugal e o direito dos cristãos novos de recorrerem das decisões do dito tribunal; D. Pedro II exige o seu regresso a Portugal. 1675 (67 anos): Regressa a Lisboa, absolvido das penas passadas e isento para sempre da jurisdição da Inquisição portuguesa, evitando no entanto passar por Espanha, de cuja Inquisição não se encontrava isento. Itinerário: Florença – Liorne – Marselha – Toulouse – Bordéus – La Rochelle – Lisboa. 1678: Escreve o “Memorial feito ao Príncipe Regente D. Pedro II”. 1679 (71 anos): Publicação do primeiro volume da edição portuguesa dos seus Sermões (“editio princeps”). 1681 (73 anos): Em Janeiro embarca definitivamente para Salvador da Bahia, passando a residir na Quinta do Tanque, propriedade campestre da Companhia de Jesus nas proximidades da cidade. Devido às insistentes pressões de D. Pedro II e dos bispos portugueses, o papa restabelece o tribunal do Santo Ofício. Recomeçam em Portugal as execuções (Autos da Fé); os estudantes de Coimbra queimam em efígie o Padre António Vieira, festejando o retorno da Inquisição! 1682 (74 anos): “Carta ao Marquês de Gouveia” comenta a queima da sua efígie em Coimbra. É criada a Companhia do Comércio do Maranhão, sugerida por Vieira. É publicado em Lisboa o segundo volume dos seus Sermões. 1683 (75 anos): Morre D. Afonso VI na sua residência fixa de Sintra e D. Pedro II é declarado rei. Os estudantes da universidade do México prestam homenagem ao padre António Vieira e sai em Lisboa o terceiro volume dos Sermões. 1688 (80 anos): Vieira é nomeado Visitador Geral de toda a província jesuítica do Brasil, apesar de já não poder viajar; exerceu o cargo durante três anos. 1689 (81 anos): “Carta ao Conde de Ericeira”, autor de Portugal Restaurado, dando-lhe a sua interpretação das missões diplomáticas de que fora incumbido pelo rei D. João IV. 1690 (82 anos) Com os direitos de autor dos seus Sermões (“editio princeps”) financia a missão do padre João de Barros junto dos Índios Carirís na Bahia. 1691 (83 anos): Termina o cargo de Visitador Geral de toda a província jesuítica do Brasil. 1694 (86 anos): Na sequência de disputas internas sobre questões de administração regulamentar da Companhia, os padres António Vieira e Inácio Faia foram privados de voz activa e passiva dentro da Companhia de Jesus, no mês de Maio; os dois apelaram para o Superior Geral em Roma. 1696 (88 anos): Redige o Sermão do Felicíssimo Nascimento, por ocasião do nascimento da infanta D. Teresa. Seria o último dos seus Sermões (XIII-XIV-XV, 981). 1697 (89 anos):O Padre António Vieira morre em Salvador da Bahia a 18 de Julho e foi sepultado na igreja do Colégio. Em Dezembro foi divulgada a decisão do Superior Geral da Companhia que dava razão à posição dos padres Vieira e Faia, anulando a decisão de Maio de 94. A arca onde estavam guardados muitos dos seus manuscritos desapareceu. www.ua.pt/vieira2008/

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Agência ECCLESIA

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