Bispos pedem dignidade na celebração e o cuidado pelos que estão longe da Igreja, no seu encontro com o clero A exortação apostólica Sacramentum Caritatis, recentemente publicada por Bento XVI, marcou várias das intervenções de Bispos portugueses na Missa Crismal de Quinta-Feira Santa, que esta manhã se celebrou nas dioceses do nosso país. D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra e um dos representantes portugueses no Sínodo de 2005, considerou o documento como um “guia precioso para a digna celebração da Eucaristia que tomo como fonte de algumas considerações sobre a celebração deste ‘mistério de amor’, que torna presente a Ceia de Jesus, memorial da sua Paixão, Morte e Ressurreição”. Este responsável considerou que “alguns órgãos da nossa comunicação social não entenderam o documento, rebuscando nele apenas sinais de alteração na vida da Igreja, alteração que venha ao encontro de gostos superficiais e facilidades da sensibilidade actual”. Aos presentes pediu que ninguém “se dispense de o ler, de modo a reavivar na sua vida espiritual e no seu labor apostólico aquela verdade que tantas vezes enunciamos”. Para o Bispo de Viana, D. José Augusto Pedreira, a Exortação do Papa “chama a nossa atenção para o lugar do nosso ministério ao serviço do mistério da Eucaristia”. “A celebração da Eucaristia deve merecer-nos redobrada atenção e ocupar o lugar central que lhe compete na edificação permanente da Igreja de Cristo. De reconhecido valor no sufrágio dos defuntos, ela deve ser sobretudo sacramento, sinal e instrumento de santificação dos vivos, ao serviço da consagração do mundo”, referiu a todos os que participavam na celebração. Em Angra, D. António de Sousa Braga também citou o recente documento de Bento XVI para falar do sacerdócio ministerial, cuja espiritualidade “é «intrinsecamente eucarística»”. O Bispo falou “daquelas pessoas que aparecem na Paróquia só em determinadas ocasiões, para satisfazer usos e costumes sociais”, indicando aos padres que “em vez de invocar o fogo do céu, há que fazer festa por um só que volta ao redil”. “A paróquia não é um «clube de perfeitos». É lugar e sinal de salvação e de anúncio do Evangelho. Não podemos reduzir o nosso ministério a uma espécie de «polícia de trânsito»”, alertou. D. Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora, falou da mesma “espiritualidade eucarística” e frisou que “na Eucaristia encontra-se o centro e a fonte da vida sacerdotal. Só no Espírito se pode viver o mistério pascal da Morte e ressurreição de Jesus, realizada sobre o altar”. “O mesmo Espírito Santo, presente na Celebração Eucarística, conduzirá o sacerdote à oração diante do Senhor presente no Sacrário”, acrescentou. O Bispo de Santarém espera, por seu lado, que os padres sejam “sinais e continuadores do Senhor Jesus que acolhia os pecadores e se aproximava com ternura dos doentes para os curar”, procurando estar perto “dos caminhos das pessoas, mesmo quando resvalam para as bermas da estrada”. “O primeiro desafio e primeiro gesto de amor pelo qual se inicia a cura, é prestar atenção aos que sofrem, frequentemente esquecidos numa cultura que vive do espectáculo”, indicou. O Arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, preferiu centrar a sua homilia no tema da solidariedade, apelando a uma verdadeira identificação dos sacerdotes “com as alegrias e tristezas do povo que nos foi confiado”. “Num mundo sem sentimentos e pouco compreensivo perante as negligências ou erros, o sacerdote sabe estar e testemunhar uma solicitude que envolve a vida com todos os seus mistérios”, apontou. Estas temáticas deverão ser abordadas, de novo, na celebração vespertina da Missa da Ceia do Senhor, nesta Quinta-Feira Santa, na qual se comemora, precisamente, a instituição da Eucaristia.