Évora: Padre Mário Tavares adverte para «construção de Igreja de caricatura» e indica proposta sinodal do Papa Francisco como alerta contra «poderes e ideais humanos»

Sacerdote da arquidiocese, que integrou equipa sinodal, reconhece hoje práticas sinodais em comunidades que antecedem processo de 2021

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 28 jun 2024 (Ecclesia) – O padre Mário Tavares, da equipa sinodal da arquidiocese de Évora, alerta à Agência ECCLESIA para o perigo de se “construir uma Igreja de caricatura”, que seja sinal do “poder religioso” e esconda “o rosto de Jesus”.

“Não podemos construir uma Igreja que seja uma caricatura de Igreja, que seja só um sinal de um poder religioso. Ninguém quer isso. Nem o Papa, nem os bispos, nem os padres, ninguém quer. Temos que estar atentos e este sínodo vem nos alertar para isso”, explica o padre da arquidiocese de Évora e pároco de Vendas Novas.

Reconhecendo que a proposta da sinodalidade “não tem nada de novo”, o padre Mário Tavares, que integrou a equipa sinodal na arquidiocese, assinala a oportunidade que ela encerra de “criar uma nova onda” e de criar dinamismos inaugurais.

“A experiência de uma Igreja sinodal, que é uma experiência que a Igreja faz desde as suas origens, é um eco do que Jesus pediu aos discípulos no seu testamento. Qual é a imagem perfeita da Igreja sinodal? É o capítulo segundo dos atos dos apóstolos: aquela Igreja unida à volta da mesa, para escutar a Palavra, celebrar a fração do pão, a Eucaristia, a partilha dos bens, a solicitude pelos pobres”, recorda.

O responsável aponta o “convite para reencontrar a essência do cristianismo e do que é ser Igreja na sua origem”, recuperando “uma grande memória reencontrada” no Concílio Vaticano (CV) II.

“Claro que o tempo desgasta isto, as estruturas de poder vão-se infiltrando, os ideais humanos vão minando, e o mérito do Papa vem no sentido de nos recuperar e nos lembrar esse caminho”, indica.

O padre Mário Tavares afirma que hoje as dioceses têm uma “forma de governo diferente”, marcada pelo CVII e que o bispo exerce a sua missão de forma “partilhada” com “responsáveis da pastoral, com os seus conselhos, o conselho pastoral, o conselho de presbíteros, as paróquias que, por sua vez, têm os seus conselhos também, o conselho pastoral, o conselho económico”, construindo formas de participação que, indica, “de algum modo fazem já parte do caminho pré conciliar”.

Sobre o caminho sinodal encetado em 2021 na arquidiocese de Évora, o responsável dá conta de uma participação “recetiva” que mostrou “ritmos diferentes” nas comunidades.

“A sinodalidade mostra que temos de caminhar juntos, mas segundo o específico de cada um, e aí aprenderemos uma coisa: que é preciso passar de um binómio que é a Igreja e a hierarquia laicado, para uma Igreja que se define num outro binómio, que é carisma e ministérios, isto é, quem exerce o poder ordenado, o bispo, o presbítero, o diácono, exerce-o como um serviço”, explica.

“Eu acho que estamos muito longe do ideal e do sonho, mas é importante dizer isto: a Igreja tem já imensos sinais, que não começaram em 2021, vêm de trás, já vêm neste longo caminho que estamos todos a fazer, e há sinais muito bonitos de comunidades fantásticas”, acrescenta.

O responsável lamenta ainda que por causa de um “perfil institucional” muitos cristãos tenham dificuldade em ver na pessoa do padre “um amigo”.

O padre Mário Tavares sublinha que a metodologia sinodal “é dada por Jesus” e que quando esse método for reconhecido “as divisões e pensamentos divergentes desmoronam”.

A conversa com o sacerdote da arquidiocese de Évora vai estar no centro do programa Ecclesia na Antena 1, no sábado, pelas 06h00.

LS

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