Évora: Arquidiocese despediu-se da Cartuxa, homenageando «grande testemunho» dos monges (c/fotos)

D. Francisco Senra Coelho quer manter herança de «acolhimento» e «humanidade»

Évora, 09 out 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora presidiu esta terça-feira à Eucaristia de despedida dos monges cartuxos do Mosteiro ‘Scala Coeli’, na cidade alentejana, assumindo a intenção de manter a herança de “acolhimento” e “humanidade” destes religiosos de clausura.

“É uma casa de ternura, é uma casa de afeto, que nos compete levar para a frente no mesmo testemunho de humanidade, de serviço a cada pessoa, no seu concreto e no seu contexto”, disse D. Francisco Senra Coelho aos jornalistas, que acompanharam o momento em que a clausura foi aberta a toda a população.

A celebração decorreu, simbolicamente, no dia de Santo Artoldo, festa celebrada na Ordem Cartusiana.

Centenas de pessoas acorreram ao convento da Cartuxa, que abriu todos os seus espaços, na despedida da comunidade que, no final deste mês, deixa Évora e parte para a vizinha Espanha.

D. Francisco Senra Coelho manifestou a sua “profunda gratidão pelo “grande testemunho” que os monges cartuxos souberam deixar no território, ao longo de séculos e, em particular, nas últimas décadas.

“É um testemunho de valorização de todos os seres humanos. A esta porta bateram pessoas com todos os tipos de problemas”, relatou.

A vida eremítico-cenobítica de contemplação e trabalho na Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli foi reiniciada em 1960, por sete religiosos, entre eles um português, após a expulsão das ordens em 1834.

O Convento da Cartuxa eborense tinha sido mandado construir em 1587, pelo então arcebispo D. Teotónio de Bragança, para acolher a comunidade religiosa de São Bruno, sendo dedicado à Virgem Maria, sob a denominação “Scala Coeli” – “Escada do Céu”.

De acordo com o superior do mosteiro, padre Antão Lopez, encerramento da Cartuxa de Évora deve-se à falta de vocações e ao envelhecimento da comunidade.

“Foram anos difíceis, no sentido em que fomos sempre diminuindo e envelhecendo”, sem que por isso tenham deixado de manter a “vida cartusiana”, como em todo o mundo, relatou o religioso.

Mais de 55 anos depois de ter chegado a Évora, o padre Antão Lopez fala numa “experiência muito bonita”.

“Foi viver a vida cartusiana, totalmente fechados, e apesar de tudo, ser conhecidos e estimados, lá fora”, admite.

Segundo o religioso, “Portugal é suficientemente cristão para estimar este género de vida”.

“Esta despedida para mim foi uma surpresa, em parte, mas foi um sinal de que o povo português é um povo sensível aos valores cristãos”, acrescentou.

O padre Antão Lopez fala do desejo de “voltar à cela”, para retomar a vida normal, e admite que “fica uma saudade do ambiente, das pessoas”.

“Essa tristeza foi compensada por esta despedida, tão inesperada”, concluiu.

Na homilia da Eucaristia, D. Francisco Senra Coelho elogiou o “silêncio generoso” da Cartuxa, com que a Arquidiocese pôde contar.

“Que a Cartuxa seja sempre uma escada para o nosso encontro com Deus, pelas mãos de Maria. Que a esperança permaneça no nosso olhar que os vê partir, mas que no compromisso guarda em nossos corações o grande testemunho de vida, a grande tradição do silêncio que os nossos queridos cartuxos nos souberam deixar”, desejou.

Após a saída da Ordem Cartusiana, o mosteiro vai passar a ser habitado pelas Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, dando continuidade a uma “parceria” entre a Arquidiocese de Évora e a Fundação Eugénio de Almeida, proprietária do Monumento Nacional.

D. Francisco Senra Coelho saúda a possibilidade de manter este “silêncio habitado, fecundo”.

“Queremos muito valorizar o acolhimento, a hospitalidade, que passasse a haver aqui um espaço próprio de hospedaria”, oferecendo momentos de “deserto” e de “oásis”, em oração com as religiosas, disse aos jornalistas.

HM/OC

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Agência ECCLESIA

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