Évora: Arcebispo diz ser «muito importante» que a Comunicação Social mostre «a verdade da Ucrânia»

D. Francisco Senra Coelho alerta para imagens transmitidas até à exaustão, a manipulação, e para o esquecimento de outros conflitos

Foto: Pedro Miguel Conceição/A Defesa

Évora, 25 mai 2022 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora destacou a ação da comunicação social na informação da guerra na Ucrânia, mas alertou para o efeito das imagens repetidas até à exaustão, os riscos da desinformação e da manipulação, e dos “gritos” de outros conflitos.

“A verdade sobre este tema tem ajudado muito a consciencializarmos o drama e parece-me que há um mérito muito grande da comunicação social, e que eu estendo a muitas dimensões: tem ajudado imenso à promoção humana, da mulher, da criança, da pessoa com deficiência, da consciência ecológica, da dimensão da responsabilidade cívica e social, nomeadamente da participação política. Não podemos esquecer os 20 anos de Timor, a comunicação social descobriu o massacre de Santa Cruz”, disse D. Francisco Senra Coelho, esta terça-feira, na apresentação da mensagem do Papa para o 56.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a Igreja Católica celebra este domingo.

No vídeo enviado à Agência ECCLESIA, pelo Departamento de Comunicação Social da arquidiocese que promoveu a conferência de imprensa, o arcebispo afirmou que é “muito importante a comunicação social ter mostrado a verdade da Ucrânia”, onde a guerra começou a 24 de fevereiro.

D. Francisco Senra Coelho, contudo, alertou para alguns aspetos, como as imagens, que “fazem parte da crueldade de uma guerra”, e são “repetidas à exaustão, quase obsessivamente”, não só no próprio dia mas durante muitos dias, e a certa altura os recetores não têm “defesas, a capacidades crítica abranda”, e perde a sua reação.

“E se, na base dessa imagem, estiver um critério ideológico, uma intencionalidade, há uma manipulação da opinião pública para a levar para um determinado ângulo. Eu fico sempre muito preocupado quando vejo repetições obsessivas, a repetição constante”, explicou, na Casa Arquiepiscopal de Évora.

“É uma espécie de filme de horror que passa mas que é verdade, não é ficção”, realçou o responsável católico, alertando para os seus efeitos nas crianças e nos adolescentes, “que não têm ainda critérios de defesa”.

Para o arcebispo de Évora, outro aspeto “muito preocupante”, é chegar a uma situação de “não saber o que é verdade”, porque “há manipulação de todos os lados e de todas as intervenções”, por isso, considera que se está “a bater no fundo daquilo que é a dignidade da comunicação social, a sua isenção que gera a sua dignificação”.

“Isenção não quer dizer que a pessoa que está a produzir a notícia não tenha o seu pensamento próprio, mas aquilo que ele procura naquele momento é a objetividade, e isso tornou-se difícil para o jornalista”, explicou, referindo que o “pior da informação” é ter como metodologia de leitura “a desconfiança”.

D. Francisco Senra Coelho destacou ainda que, para além da guerra na Ucrânia, “estão a chegar gritos de Cabo Delgado”, no norte de Moçambique, continuam os “problemas na Etiópia”, e “problemas muito sérios na Síria”, e “isto passa tudo para um plano de esquecimento”.

“Neste momento da guerra e da paz estamos todos centrados na Ucrânia, e temos de estar, mas não podemos esquecer muitos focos de violência no mundo”, acrescentou, observando que quando se colocam os holofotes todos num aspeto, “o que vende, e a monstruosidade chama a atenção”, contribui-se “para o esquecimento de outras realidades”.

Escutar com o ouvido do coração’ é o tema do  56º Dia Mundial das Comunicações Sociais da Igreja Católica, por decisão do Papa, e que se assinala este domingo; Esta foi a única celebração do género a ser instituída pelo Concílio Vaticano II (Decreto ‘Inter Mirifica’, 1963).

CB/OC

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