Évora: Arcebispo alerta para «crise de despovoamento» e falta de mão de obra no Alto Alentejo

D. Francisco Senra Coelho fala num apelo «muito grande» para o encontro com pessoas sós e frágeis no território, que está a ser respondido com visitas pastorais

Évora, 18 jul 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, alertou para o despovoamento que atinge o Alto Alentejo e para o problema crescente da falta de mão de obra para diferentes serviços no território.

“Esta zona do Alto Alentejo é marcada por uma crise de despovoamento mais acentuada”, afirmou o responsável católico, em entrevista à Agência ECCLESIA, realçando que há comunidades a sentirem “uma partida enorme” de jovens que deixam as suas terras com vista a garantirem formação universitária.

D. Francisco Senra Coelho dá conta que a perda de habitantes tem “maior incidência” nos concelhos da Arquidiocese de Portalegre e do Alto Alentejo e que já é sentida “a dificuldade de encontrar mão de obra”, como “colaboradores para os centros de dia, para os serviços de apoio domiciliário, para as estruturas residenciais para idosos”.

“E ao mesmo tempo fazer a seleção de pessoas mais capacitadas para trabalhos mais exigentes. Começamos a sentir uma desertificação que põe, de facto, em causa já alguns funcionamentos de equipamento”, acrescentou.

Sobre a ação da Igreja no território, D. Francisco Senra Coelho relata que a arquidiocese ainda consegue ter “todas as paróquias providas de pároco”.

“Não há nenhuma paróquia sem pároco, deslocam-se”, afirma, destacando que, durante as visitas pastorais, os populares lamentam o fecho de serviços na região e pedem que não se deixe de celebrar a Missa.

“Quando não é o sr. prior, o diácono permanente e, em alguns casos, mais raros, ministros, leigos que presidem à celebração na ausência do presbítero. Estamos a fazer este esforço de acompanhamento, de proximidade”, referiu.

O arcebispo de Évora descreve que na região existe “um apelo muito grande” para a visita de “pessoas sós” e “frágeis”, ao qual a arquidiocese tenta responder com “as visitas pastorais missionárias”, que se caracterizam pela deslocação “a todas as casas, porta a porta”.

“[As pessoas] são muito recetivas”, conta D. Francisco Senra Coelho, explicando que numa 1ªsemana é feita uma visita à população e numa 2ªsemana são assinalados os casos mais dramáticos, como situações de pessoas invisuais, de “luto muito profundo”, de “uma solidão mais golpeante” ou com problemas de saúde.

D. Francisco Senra Coelho informa que um sacerdote visita estas casas em privado para fazer o acompanhamento e são escolhidas uma série de situações para o bispo, “depois na visita pastoral, que normalmente é a 3ªsemana”, ir ao encontro destas residências.

“Eu encontro-me com pessoas que têm álbuns de fotografias para mostrar, uma necessidade absoluta de falar comigo, de mostrar o rosto do filho, da filha, do neto, da neta. Uma necessidade, sobretudo, de ser escutado”, menciona.

Todos os anos, esta visitas são realizadas em dois concelhos, desde meados de fevereiro até ao último dia de maio.

HM/LJ

Em entrevista ao programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2, o arcebispo abordou ainda as peregrinações da Arquidiocese de Évora a Roma, realizadas em março e junho, e também o envio de participantes para o Jubileu dos Jovens, que decorre de 28 de julho a 3 de agosto.

“O Alentejo vive uma dinâmica muito interessante de encontro com Jesus”, destacou, lembrando a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 que, segundo D. Francisco Senra Coelho, foi muito marcante para a arquidiocese.

“Vieram às jornadas mais de 2.000 jovens, aqui se reencontraram alguns deles, e esta semente mudou o panorama dos grupos de jovens da diocese. Foi um serviço muito importante”, salientou.

Depois da pandemia da Covid-19, uma “vivência muito dura”, D. Francisco Senra Coelho observa que está a experienciar-se “uma retoma, um regresso da comunidade”.

“Estamos, portanto, ainda numa fase de recuperação, mas que se sente em crescimento”, nota.

O arcebispo de Évora refere que o grande número de santuários de dimensão popular que o Alentejo tem estão “muitíssimo repletos de peregrinos e romeiros nos dias das suas festas”, mostrando que “há uma procura de luz para a vida e de sentido de esperança”.

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