A Capela da Escola Salesiana, no Estoril, evoca no dia 15 de Fevereiro, pelas 17h00, a memória do P. Lucien Deiss (1921-2007). Enquanto compositor é já um dos símbolos da renovação musical litúrgica que, no campo católico, precedeu, acompanhou e actualizou o reformismo do II Concilio do Vaticano. Nasceu em Eschbach (Alsacia), no dia 2 de Setembro de 1921. A família fixou-se em Estrasburgo quando tinha dez anos. Os seus primeiros interesses musicais remontam, seguindo a sua memória, a esse período: “O coro da paróquia era dirigido pelo Sr. Irr, profissional coadjuvado por três organistas. Na Sexta-Feira Santa o coro cantava o «Stabat Mater» de Nanino. Nunca mais o esqueci. Gravei-o mais tarde com o meu coro de Chevilly”. A sua trajectória de formação e aproximação à Congregação do Espírito Santo começou com a admissão na Escola Saint-Florent de Saverne, percurso que culminou nos estudos teologicos realizados no Seminário Maior de Chevilly e em Roma. A sua preparação musical foi apurada no Instituto de Musica Sacra, em Roma: “Tive a sorte de ser aluno do mestre Ferrucio Vignanelli e de encontrar Dom Sunol, grande especialista no gregoriano”. Na sua memória guardava o som daquele órgão Merklin com três manuais, instalado na Igreja de S. Luís dos Franceses, que ele tocava na missa das onze horas aos Domingos. Foi ordenado em 1945 e partiu, em 1947, para Brazzaville (Congo) para fundar, com outros colegas, o Seminario Libermann. Um problema de saúde fê-lo regressar a Franca, um ano passado, assumindo o cargo de professor de Sagrada Escritura no Seminário de Chevilly. Lucien Deiss falava do seu despertar para a criação musical litúrgica sob o signo da contingência: “Tornei-me compositor quase por acaso. Na pequena paróquia do Bom Pastor quis que o coro cantasse gregoriano. Um fracasso! Observando quanto os meus paroquianos ignoravam a Bíblia, disse para comigo: porque não utilizar a música para memorizar os textos essenciais da Bíblia? Em vez das palavras de fogo dos profetas, propunha-se aos fiéis a agua morna dos catecismos da época. Em vez dessa chuva de estrelas que são, no céu da revelação, os salmos, oferecia-se-lhes pequenas velas de devoção. Era necessário substituir a água do cântaro pela água viva das fontes bíblicas”. Deiss tinha a sua frente um enorme desafio. De facto, a acção celebrativa católica romana privilegiava há muitos séculos o uso de uma língua litúrgica. Lucien Deiss foi, assim, um dos actores da reinvenção de uma memória respondendo, então, ao desafio da integração (inculturação), com plena cidadania, das línguas dos povos na comunicação litúrgica das assembleias católicas. O registo em vinil e mais tarde em CD de boa parte da sua obra permitiu uma fácil penetração fora de fronteiras – gravou perto de uma centena de discos em Franca e noutros países que conheceram edições autorizadas da sua obra. A música de Deiss chegou a todos os continentes. Recriou ou acompanhou a edição da sua música litúrgica em diversas línguas – italiano, castelhano, alemão, inglês, mandarim etc. Os EUA revelaram um particular interesse pela música de Lucien Deiss. As duas primeiras recolhas publicadas venderam, cada uma, mais de um milhão de exemplares; mais tarde algumas das edições ultrapassaram os cinco milhões de exemplares vendidos. Em 1992, nos EUA, foi-lhe atribuído o Premio «Pastoral Musician of the Year». O reconhecimento de quem descrevia assim o ofício do compositor na liturgia cristã: “vestir as palavras de Deus com a beleza da terra”. Evocando este percurso de criação musical, o Grupo Vocal Discantus apresenta um breve itinerário dentro da sua obra, centrado na memória cristã da mãe de Jesus, a que acrescentou duas obras da polifonia seiscentista e setecentista, gravadas em disco pelo próprio L. Deiss, e ainda o resultado da leitura musical de três poemas portugueses.