Cultura: «A Igreja tem necessidade dos poetas» – cardeal José Tolentino Mendonça
Encontro internacional, entre 2 e 4 de dezembro, convida poetas de sete países, incluindo Portugal, a redescobrir «valores da paz e da fraternidade» a partir do ‘Cântico das Criaturas’ de São Francisco
Cidade do Vaticano, 29 nov 2024 (Ecclesia) – O Dicastério para a Cultura e a Educação organiza um encontro internacional «Em nome do Cântico», evocando os 800 anos do Cântico de São Francisco, convidando a “redescobrir os valores da paz e da fraternidade por meio da poesia”.
“Temos necessidade de poetas que possam nos ajudar a amar o mundo, a encontrar palavras de esperança, a retomar uma relação mais saudável e equilibrada com a natureza. Temos necessidade da reserva de humanidade e de visão que os poetas representam”, apresenta o cardeal José Tolentino Mendonça ao Vatican News.
O responsável acredita que os poetas fazem perguntas que “ajudam os homens” a procurar a paz, são os que “podem contar o drama da guerra” e os ajudam a “compreender qual é a única solução verdadeiramente humana e desejável”.
“Um poeta é uma espécie de antena, uma sonda para intercetar o invisível, intercetar o silêncio. E Deus fala no silêncio. Se nós, como sociedade, retiramos o silêncio, retiramos também a possibilidade de acesso ao mistério de Deus que se faz sentir no silêncio. Os poetas são mestres de silêncio, da palavra certamente, mas todos os poetas são uma consequência do silêncio e sabem habitar o silêncio de forma teológica”, acrescenta.
O encontro vai acontecer, entre os dias 2 e 4 de dezembro, entre Roma e Assis, e convida ao conhecimento e partilha 18 poetas, 13 homens e cinco mulheres, naturais de Itália, Espanha, Portugal, Israel, Estados Unidos Estados Unidos e Argentina.
O evento abre com um “seminário reservado apenas aos poetas junto ao Dicastério”, na manhã do dia 2 de dezembro, “seguido à tarde de uma leitura pública”, na igreja de San Francesco a Ripa, apresenta o portal de notícias do Vaticano.
No dia 3 de dezembro, acontece uma peregrinação a Assis e, por fim, haverá um diálogo com o público na feira editorial ‘Più Libri Più Liberi’, no centro de congressos ‘Nuvola all’EUR’, quarta-feira, 4 de dezembro.
O cardeal responsável fala num programa que quer “atingir públicos muito diferentes” e que se inicia com a “escuta” e conhecimento reciproco dos poetas e escritores e se alarga depois com uma visita a Assis, “lugar onde nasceu o Cântico”.
“O encontro internacional é organizado em colaboração com o Comité Nacional Italiano para a Celebração do Oitavo Centenário da Morte de São Francisco e tem como objetivo celebrar o seu legado como figura de ligação entre os povos, custódio da criação e promotor de relações humanas alicerçadas no perdão e na liberdade”, apresenta ainda.
D. José Tolentino Mendonça recorda que a ligação dos poetas com a “Igreja e o cristianismo não é nova”.
O Papa Francisco escreveu, em julho, uma carta sobre «O papel da leitura na educação» onde apela a ler “romances e poemas”, onde assinala que uma obra literária é um texto vivo e sempre fértil.
“Há 800 anos o ‘Cântico das Criaturas’ teve um papel seminal na espiritualidade, na visão do mundo, na experiência cristã, na relação com outras criaturas, podemos dizer que gerou uma nova sensibilidade. E é isso que esperamos também dos poetas do nosso tempo, que tragam sementes de novidade, de futuro, que possam falar-nos do novo, evidenciando novas possibilidades”, indica.
Em entrevista ao Vatican News, o cardeal português assinala que a Igreja precisa de “pessoas criativas, de escritores, de romancistas, de novos contadores de histórias”, de “poetas que possam ajudar a amar o mundo, a encontrar palavras de esperança, a ajudar a retomar uma relação mais saudável e equilibrada com a natureza”.
“Um poeta é uma espécie de reserva de humanidade, porque nas suas palavras procura sempre humanizar os sentimentos, as experiências. E é disso que temos necessidade: da reserva de humanidade e visão que os poetas representam”, finaliza.
LS