Evangelizar no meio das certezas e incertezas do mundo

Cardeal Patriarca de Lisboa abre o Congresso Missionário Nacional com um convite à missão Num mundo que resiste à mensagem de Deus, “evangelizar não é fácil, mas vale a pena”. Esta foi a primeira mensagem dirigida aos congressistas que a partir de hoje se reúnem em Fátima para o Congresso Missionário Nacional. A primeira mensagem foi trazida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo que reflectiu sobre “A Missão e as incertezas do mundo contemporâneo”. D. José Policarpo começou por indicar que a actividade missionária é plena de incertezas no contexto contemporâneo. “Mas o problema principal não vem das incertezas, mas das certezas humanas, quando não estão enraizadas em Deus”, tocando as dimensões cultural, ideológica, religiosa, e “competem de igual para igual com as certezas da fé”. “A evangelização é a primeira concretização do dinamismo de encarnação” e a “Igreja é o fruto mais excelente da encarnação”. O sujeito da Igreja “não é só cada missionário ou missionária, cada pessoa. Em toda a concretização da missão, é a Igreja que abraça o mundo”, sublinha o Cardeal Patriarca, acrescentando que a dimensão eclesial da missão deve “transformar-se em urgência pastoral em todas as realidades da Igreja”. Certezas e incertezas Na missão evangelizadora, a Igreja confronta-se com uma sociedade com diversas sabedorias, complexidades em relação ao fenómeno religioso, hedonismo e alteração de valores. “Todas estas componentes assentam em certezas vulneráveis, precárias, pouco profundas, que se transformam facilmente em incertezas”, sublinha D. José Policarpo. Também a globalização cultural, enquanto dinamismo imparável, sustenta “sabedorias que se entrecruzam”, onde o aspecto mais preocupante é o de “as menos profundas serem as que mais influenciam as outras”. No Ocidente foram nascendo sistemas filosóficos que valorizaram a autonomia do homem em relação a Deus e à religião. Nesta concepção, “a vida humana é considerada como dependendo, apenas, do homem e da sua capacidade”, indica o Cardeal Patriarca. No entanto, esta “sabedoria é incapaz de dar respostas válidas nos momentos cruciais da existência”, nos casos de sofrimento, morte, solidão ou inquietação interior. D. José Policarpo indica que “quem não se interroga e não deseja ir mais longe” passa indiferente à mensagem” e o evangelizador “tem de estar atento às buscas e inquietações do coração humano”. As sociedades inspiradas nesta sabedoria profana, aceitam a Igreja apenas pelos serviços que presta à sociedade, “inserindo-a no esforço de melhoria da sociedade no horizonte deste mundo”. Religiões As sociedades democráticas abrem-se ao respeito pelo fenómeno religioso, expresso nos quadros legais da liberdade de consciência, mas “corre-se o risco de considerar todas as religiões de igual valor, sem capacidade de discernimento do contributo específico de cada uma para a plena realização humana”. D. José Policarpo afirma que “quando o cristianismo é apenas mais uma religião, a missão evangelizadora perde a sua urgência”. A relação entre religião e cultura é, actualmente, inegável. “Muitos países encontraram a sua identidade cultural na valorização da sua religião tradicional, impedindo ou pondo dificuldades à expansão do cristianismo. É o caso de muitos países islâmicos, da Índia, com a valorização do Hinduísmo, onde a entrada de missionários estrangeiros é praticamente impossível”. Fácil felicidade O Cardeal Patriarca afirma que “os cristãos têm de descobrir, viver e anunciar a especificidade do cristianismo, o que não impede de reconhecer valores comuns”, dentro dos quadros culturais. Inseridos em sociedade, os cristãos confrontam-se com “o modelo de vida e de felicidade que as sabedorias profanas veiculam”, onde o hedonismo, o consumismo, excluem o sentido do sofrimento e relativizam a perenidade da felicidade a construir na fidelidade, dentro dos seus modelos de vida. “Não é fácil anunciar o Evangelho a pessoas que têm esta concepção fácil da felicidade”, afirma D. José Policarpo. A mensagem cristã é considerada “desadaptada para o homem”, quando este se “considera capaz de resolver todas as interrogações da sua existência e de construir a sua própria felicidade”. Mas o homem “é um ser espiritual e para além dos objectivos imediatos para alcançar a felicidade no presente, não consegue calar as grandes inquietações do seu coração”. “O cristianismo não consegue anunciar a esperança a quem está satisfeito com o que é e com o que tem”, aponta o Cardeal e “Jesus Cristo é resposta para os corações inquietos, incapazes de serem felizes só com a felicidade que já construíram”. A fragilidade do desejo e a falta de profundidade do modelo de felicidade que se procura, está na causa das grandes desilusões, no nosso tempo, como “as desilusões no amor ou as desilusões com a sociedade que construímos”. Porque, indica D. José Policarpo, “o mito da sociedade perfeita neste mundo, tenha ela o modelo da sociedade sem classes ou da sociedade democrática, onde todos têm igual direito à felicidade é sempre causa de desilusões”. As injustiças, a violência, o desrespeito pela dignidade humana, o fosso cada vez mais profundo entre ricos e pobres, geram muitas desilusões nos sistemas económicos, nos mecanismos políticos, no sistema judicial. O Cardeal Patriarca indica que o modelo de sociedade ideal está em construção, “e é tarefa generosa de todos”, mobilizados por valores superiores. “Quem semeia a justiça e a paz talvez não chegue a colher os frutos neste mundo, o que não significa que fiquem sem recompensa”. Em pleno Ano Paulino, o Cardeal Patriarca aponta São Paulo como “o grande Apóstolo dos Gentios”, pessoa onde se encontram “os grandes traços da missão evangelizadora”. “Em Cristo, Paulo pode enfrentar diante do mundo as eternas questões do homem, a morte e a vida, a relação da vida presente com a vida eterna, o encontro do mistério do princípio e do fim, a exigência da moralidade de vida”. Notícias relacionadas Conferência de D. José Policarpo no Congresso Missionário Nacional Foto: OMP

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