Evangelização: «Igreja tem de voltar aos espaços da vida quotidiana» – padre Santiago Guijarro Oporto

Biblista espanhol interveio nas Jornadas do Clero que seis dioceses promovem em Fátima

Fátima, 31 jan 2024 (Ecclesia) – O padre Santiago Guijarro Oporto disse hoje que “a Igreja tem de voltar aos espaços da vida quotidiana”, falando nas Jornadas do Clero, em Fátima, onde destacou a importância da casa e das famílias para “transmitir o Evangelho”.

“Os cristãos viveram a sua fé e comunicaram nos espaços da vida quotidiana e o mais normal eram as casas, serviam como rede de difusão, as relações sociais estruturavam-se em torno da casa”, explicou o sacerdote espanhol, em declarações ao secretariado das Jornadas enviadas à Agência ECCLESIA.

O padre Santiago Guijarro Oporto lembrou que “os primeiros cristãos não tinham igrejas”, não existiam espaços propriamente cristãos e isso “é muito importante”, porque no momento atual as comunidades cristãs, as paróquias, “criaram espaços separados da vida ordinária”.

“O que há de mais importante desta experiência é que a Igreja tem de voltar aos espaços da vida quotidiana. Quem sabe, um deles continua a ser a família, na nossa sociedade, na crise das instituições, a família mantém-se”, assinalou o sacerdote da Irmandade dos Padres Operários Diocesanos.

Neste sentido, o padre Santiago Guijarro Oporto destacou que a casa e a família são um lugar de entrada para “estabelecer contacto e transmitir o Evangelho hoje, como no século I”, e observou que todos têm a experiência de que quando os sacerdotes, os catequistas, têm “uma relação estreita com uma família dá entrada a uma comunicação com os filhos, os amigos”.

‘Evangelização e comunidades’ é o tema geral das Jornadas do Clero das dioceses do centro de Portugal – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Viseu – que reúnem bispos, padres, diáconos e alguns seminaristas em final de formação, com 260 inscritos, de 30 de janeiro a 1 de fevereiro, no Centro Pastoral Paulo VI, do Santuário de Fátima.

O conferencista espanhol destacou a importância das redes sociais para a evangelização, “as que comunicavam pessoalmente, fisicamente”, que, acredita, ser “um ingrediente que falta” às redes sociais na internet.

“A impressão que tenho é que as redes sociais geram relações muito superficiais e fictícias, as redes sociais virtuais. É preciso uma valorização crítica e perguntar se geram espaços de verdadeira comunicação pessoal, se complementam essa relação pessoal parece que são um grande instrumento”, desenvolveu.

O padre Santiago Guijarro Oporto apresentou também a primeira evangelização do cristianismo como um “acontecimento inédito no mundo antigo” porque não se conhece outro grupo no mundo antigo, nenhum grupo religioso que “tenha levado a cabo uma missão proselitista, de expansão, de chegar a outros”.

Segundo o biblista, há algo parecido nos grupos filosóficos, “que promoviam a difusão da doutrina”, a religião romana “não tinha nenhum caráter proselitista, e o judaísmo tampouco”, porque tinha “uma forte vinculação étnica”.

O cristianismo, acrescentou, tem “na sua raiz a necessidade de dar a conhecer aos outros uma mensagem”, e essa esta missão proselitista, “a palavra tem uma conotação negativa hoje”, mas tecnicamente define o movimento que “quer comunicar as crenças, as ideias, as convicções, o modo de vida”, e a adesão das pessoas.

Foto: Secretariado das Jornadas do Clero das Dioceses do Centro

As tardes dos três dias de Jornadas do Clero das Dioceses do Centro são preenchidas com ateliês temáticos, a formação em grupos mais pequenos, neste segundo dia de encontro dedicados à catequese, o ‘Itinerário de iniciação à vida cristã’ por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro, ‘Evangelizar a fragilidade humana’ foi apresentado pelo padre Johnny Freire, dos Silenciosos Operários da Cruz (SOdC) e Claudine Pinheiro falou sobre a ‘arte como evangelização’.

“A arte devolve o espanto à nossa vida e é com espanto que devemos anunciar o Evangelho”, disse a formadora em declarações ao secretariado das Jornadas enviadas à Agência ECCLESIA.

Para Claudine Pinheiro, arte são “todas as componentes artísticas”, isto é, tudo aquilo que está ao alcance de cada um e que “permite representar a vida com beleza, de um modo estético e de um modo a evocar, na imaginação dos outros, ideias de felicidade que vão ao encontro das Bem-aventuranças que Jesus propõe”.

A partir da sua experiência, a oradora salienta que é possível evangelizar através da arte e “está ao alcance de todos”, e é uma “estratégia mais do que válida e que vale a pena explorar” para levar essa mensagem aos mais novos.

Segundo o programa das Jornadas do Clero, Claudine Pinheiro vai ainda dar um concerto de música de inspiração cristã, na noite desta quarta-feira, dia 31 de janeiro, a partir das 21h30, no Salão do Bom Pastor, do Centro Pastoral Paulo VI, uma iniciativa de entrada livre.

CB/OC

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