Evangelização: desafio da vida dos jovens

A evangelização como desafio constante na vida de um cristão e, em particular, na vida dos jovens foi compromisso assumido pelos 60 participantes reunidos numa actividade do Movimento Encontros de Jovens Shalom, para reflectir, precisamente, sobre evangelização. “Um jovem comodista e descomprometido”, que se deixa levar pelo “facilitismo e imediatismo”. Os participantes, também eles jovens, reconhecem que vivem “rodeados de tecnologias, influenciados por medos, vícios e falsos ídolos”. “Como jovens inseridos neste movimento tomámos consciência das nossas dificuldades: jovens desmotivados, instalados e descomprometidos, que se fecham em si próprios e se dispersam daquilo que nos caracteriza: a evangelização do jovem pelo jovem”. Estes mesmos jovens, foram chamados um a um, a comprometerem-se com a missão de “ultrapassar os limites da paróquia, indo ao encontro dos jovens onde quer que eles estejam, em escolas e em outras estruturas e ambientes de caracter juvenil”. O MEJ Shalom tem por finalidade a evengelização do jovem pelo jovem. Com base numa vivência bíblico, litúrgica, comunitária e comprometida, num ambiente de amizade, alegria, festa e autenticidade, os jovens são chamados a ser transformadores da realidade, actuando nas suas pa´óquias. Compromisso pessoal “Um evangelizador é uma pessoa de acção, não é um activista”, disse ao jovens o Pe. Vítor Lopes, representante eclesiástico no encontro e responsável pela Comunidade Shalom em Portugal, na Eucaristia de encerramento do encontro do MEJ Shalom, que decorreu em Porto de Mós. Os participantes foram chamados um a um, enquanto o sacerdote relembrava que também os discípulos foram chamados individualmente. “Não vamos fazer deste encontro um discurso bonito”, apontou, “importa ir ao encontro do fundamental que é o encontro com Cristo”. Os jovens pedem flexibilidade e exigência. “Quando o tema interessa aos jovens é fácil extrair deles empenho e resultados”, explica João Cruz, o jovem monitor do encontro, oriundo da paróquia da Buraca, na diocese de Lisboa. «Evangelização, desafio de uma vida» era o tema. João Cruz reconhece que “é fácil olhar para a evangelização como um desafio, mas assumi-lo é mais difícil”. No entanto, sublinha à Agência ECCLESIA que é tão difícil para um jovem de 20 anos “como para uma pessoa de 40 ou 50 anos”. “Jesus sempre disse que a evangelização não seria fácil”. O monitor do encontro indica as paróquias como ambientes “mais propícios à evangelização, pois os jovens já estão dentro da linguagem, mas os ambientes adversos exigem mais”. João Cruz aponta que os jovens estão preparados para a evangelização “com as próprias ferramentas que o mundo lhes dá, porque eles também vivem nesse ambiente, por vezes adverso”. No meio deste processo, aponta a importância da formação e crescimento na fé. “Uma forte formação catequética é necessária para se ir ao fundo da evangelização e do testemunho, contrariando a superficialidade que muitos destes encontros também têm”. João Cruz reconhece ser fácil juntar jovens e criar um bom ambiente, “mais difícil é reflectir seriamente e extrair um compromisso para a vida”. O encontro de uma semana que juntou jovens das dioceses de Viana do Castelo, Braga, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa e Setúbal quis comprometer pessoalmente cada jovem na evangelização. O monitor explica que o compromisso “só as pessoas o podem demonstrar. Alguns serão mais comprometidos que outros, é normal. Gostaria que entendessem que para se ser cristão a evangelização não pode ser descurada”, pois “está na base do Cristianismo e da formação dos discípulos”. Mas a motivação e reflexão ao longo de todo o encontro são “um sintoma que as pessoas querem participar em novos desafios e ir para junto dos jovens, ser eles próprios”. A catequese, o crisma, a animação de eucaristias, a evangelização dos jovens na paróquia, indica João Cruz, “não podem ser unicamente as actividades dos jovens. Há que fazer mais e há que sair da paróquia para ir ao encontro dos jovens”. Recordando o lema do MEJ Shalom, «Evangelização do jovem pelo jovem», João Cruz aponta a necessidade de seguir esse projecto “onde o jovem estiver”. As conclusões do encontro serão ponto de partida para o arranque do ano pastoral do MEJ Shalom, implantado nas diocese de Viana do Castelo, Braga, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa e Setúbal. Descobrir, viver e comunicar É na sua realidade que Aurélia Gomes Duarte, da paróquia de Rio de Mouro, da diocese de Lisboa, se sente chamada a por em prática o que viveu no encontro. “Reflectiram-se propostas que indicam um sentido de esperança”, regista a Aurélia Duarte à Agência ECCLESIA. Reconhecendo que se chega a menos jovens, a participante do encontro indica que “temos de sair para fora da paróquia e chegar aos jovens que não estão ligados à Igreja”. A colaboração com associações e trabalhar em escolas foram “boas práticas partilhadas e que se devem espalhar por mais locais”. O tema do encontro despertou a atenção da Aurélia Duarte “porque considero-o preponderante para o Movimento. Estamos a trabalhar em novas dioceses e é preciso saber concretamente o que devemos fazer”. A palavra evangelização é muito complexa. “Para evangelizar temos de descobrir e viver para poder comunicar a Boa Nova”. Descobrir, viver e comunicar são para Aurélia Duarte as “palavrinhas chave que futuramente me vão ajudar a ser mais consciente”. Esta jovem reconhece que o que antes era inconsciente e tentava partilhar através do seu testemunho de estar em igreja “hoje vai ser consciente”. Aurélia Duarte aponta que a esperança diferencia os jovens que estiveram uma semana no encontro em Porto de Mós. “Estes são jovens que têm esperança de uma Igreja jovem e renovada. Sentimos a necessidade de dar o nosso contributo e o encontro foi oportunidade para nos indicar alguns caminhos onde devemos estar”. Terminado o encontro os jovens regressam às suas paróquias. Aurélia Duarte aponta a importância de uma “consciência individual” que não deixe esquecer o que se reflectiu e viveu e que esse encorajamento sirva de impulso para a acção. “A evangelização é um compromisso que nos envolve também a nós, à nossa pessoa”, aponta, indicando o quanto o testemunho e a vivência de cada cristão é impulsionador de evangelização. “A participação jovem e em grupo na eucaristia pode ser também uma forma de evangelização e de testemunho para os outros”. A participação em associações e em grupos são oportunidades para “mostrarmos quem somos e porque o somos”. Após uma semana Aurélia Duarte regressa à sua paróquia “cheia de esperança na juventude”. Também André Mendes, da paróquia de Delães, na diocese de Braga, explica que o tema ditou a sua participação nesta actividade. Este jovem aponta que “durante o encontro vimos que o jovem está muitas vezes cheio de nada, mas eu vou sair daqui muito cheio”, aponta. “Aprendi muito e saio desta semana com uma perspectiva da realidade que quero transformar”. A coragem e o testemunho de vida são essenciais para a evangelização “fora dos âmbitos onde geralmente andamos”, aponta o André Mendes, reconhecendo que “se pesca no aquário e não se arrisca”. Depois deste encontro “as pessoas ganharam outra coragem e motivação para a sua missão”. Deixar que o jovem seja Igreja O sacerdote Vítor Lopes foi um dos responsáveis do encontro. Aos 57 anos, passou uma semana junto de jovens “e nunca me senti deslocado no meio deles”. O representante eclesiástico aponta que “os jovens não são tarefeiros nem são a Igreja do futuro, mas são a Igreja de hoje”, reconhecendo a necessidade de a Igreja se “abrir aos jovens para que eles possam ser eles próprios e tornar a Igreja jovem também”. “Os arquétipos do passado não resultam. Os jovens de hoje têm muitos valores cristãos, basta ver o voluntariado que nunca esteve tão presente como agora, que precisamos de aproveitar e assumir para tornar a Igreja dinâmica e forte”. Neste encontro, os participantes puderam perceber a sua verdade. “Um jovem que é inundado de muitas coisas, onde facilmente pode embarcar e assim vai levando a vida, ou então escolher um projecto de uma vida”, Dois cenários que se colocaram aos 60 participantes e que todos os dias se colocam à juventude. O Pe. Vítor Lopes reconhece que a juventude é perigosa em compromissos. “Corremos o risco de não se fazer nada, mas esse é o risco de qualquer actividade”. Os próprios jovens “reconhecem que essa pode ser uma dificuldade”, mas por isso mesmo “este encontro começa agora”. A partir da própria reflexão dos jovens “e com base nas conclusões, os jovens podem fazer nada ou tudo”. Mas percebendo a necessidade e a urgência “os jovens estão disponíveis e querem fazer-se presentes”. O sacerdote aponta haver potencial “e vontade de avançar com o projecto”. As dioceses e os grupos “terão a responsabilidade de pôr em prática e recordar o compromisso assumido”. A paróquia continuará a ser o lugar privilegiado da acção do MEJ Shalom, “mas abrindo horizontes para os locais onde os jovens se encontram”. O Pe. Vítor aponta que “os jovens não estão mais nas paróquias e também estes espaços precisam de ser reestruturados”. Ir ao encontro dos jovens que não são portugueses reconhecendo a actualidade das migrações, congregar diferentes caminhadas que “ao longo dos anos foram passando pelo MEJ Shalom”, são formas de trabalho e de compromisso com a Igreja que o Pe. Vítor aponta, pois “todos devem ser protagonistas da acção”. Notícias relacionadas Carta compromisso dos jovens do Movimento Encontros de Jovens Shalom

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