Eutanásia: «Temos de caminhar, de maneira consequente, no sentido da promoção da vida», defende D. Manuel Clemente

Cardeal-patriarca sublinha necessidade de proteger a pessoa em todas as fases da sua existência, recordando questão do aborto

Foto: RR/Miguel Rato

Lisboa, 10 abr 2022 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa defendeu que a sociedade deve assumir como prioridade a “promoção da vida”, defendendo-a em todas as etapas da existência.

“Nem em relação ao aborto nem em relação à eutanásia, caso se venha a aprovar, a sociedade pode desistir de caminhar no sentido da vida e de ser consequente. Não são batalhas perdidas, a causa da vida é uma frente constante”, refere D. Manuel Clemente, convidado da entrevista semanal conjunta Renascença/Ecclesia, publicada e emitida em cada domingo.

O responsável destaca a importância dos cuidados paliativos, pedindo que sejam “realmente oferecidos”, por considerar que os mesmos não estão “acessíveis”, para que a última fase da vida possa ser “vivida serenamente” e de forma “acompanhada”.

“Este é que é o ponto: temos de caminhar, de maneira consequente, no sentido da promoção da vida em todas as suas fases”, insiste, convidando a respeitar a pessoa “como ela é, com a sua fragilidade”.

O presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou, a 29 de novembro de 2021, a lei da eutanásia, aprovada pelo Parlamento três semanas antes, pedindo esclarecimentos sobre “o que parecem ser contradições” no diploma.

“O decreto mantém, numa norma, a exigência de ‘doença fatal’ para a permissão de antecipação da morte, que vinha da primeira versão do diploma. Mas, alarga-a, numa outra norma, a ‘doença incurável’ mesmo se não fatal, e, noutra ainda, a ‘doença grave’”, referia o comunicado divulgado pela Presidência da República.

O chefe de Estado “pede que a Assembleia da República clarifique se é exigível ‘doença fatal’, se só ‘incurável’, se apenas ‘grave’”.

O Parlamento português tinha reapreciado e votado o decreto sobre a legalização da eutanásia, na sequência do veto por inconstitucionalidade do presidente da República, em março de 2021, da primeira versão do diploma.

Quanto a um eventual referendo, D. Manuel Clemente admite que, apesar de “episódico e de falível”, o esmo poderia “servir como ocasião de esclarecimento, ou seja, há mais pessoas a pronunciar-se sobre o assunto”.

“Tivemos dois referendos ao aborto, com resultados diferentes, mas o problema continua”, acrescenta.

A este respeito, o cardeal-patriarca sublinha que hoje, mais do que nunca, há evidências sobre quando a vida começa e como se desenvolve, num “contínuo”.

“Nunca houve tanta consciência disso e tão pouca coincidência, em termos de resposta social a esta problemática. Porque existe, mas não resolve, na minha opinião, juntando a um mal outro mal, que é o desaparecimento daquela vida”, acrescenta.

Para o responsável católico, é preciso preservar o valor da vida, mostrando apoio às “situações em que tudo isso é muito complexo” para as grávidas.

Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

 

 

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Agência ECCLESIA

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