Eutanásia: Ricardo Batista Leite denuncia «tentativa de acelerar» debate

Prioridade deveria estar em fazer sair Portugal do «fundo da lista de acesso à terapêutica da dor», defende médico e deputado

Foto: Lusa

Lisboa, 14 mai 2018 (Ecclesia) – O médico Ricardo Batista Leite defende um debate “longo” e “pormenorizado” sobre a eutanásia, pois está em causa a opção por uma sociedade que “apoia” e “alivia” no sofrimento ou simplesmente “dá como alternativa a morte”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, no âmbito da Semana da Vida que a Igreja Católica em Portugal dedica ao tema ‘Eutanásia… o que está em jogo?’, o também deputado do PSD deixa alguns números que atestam a importância do que está em cima da mesa.

“Quando olhamos para os factos, Portugal é o 41.º país no mundo em termos de acesso a cuidados paliativos, estamos ali no fundo da lista em termos de acesso à terapêutica da dor. E seremos o 5.º país a aprovar a eutanásia”, salienta aquele responsável.

O especialista em infeciologia destaca ainda estatísticas em países como a Bélgica e a Holanda, onde a eutanásia já está legalizada.

Dados que mostram que o que começou por ser aplicado apenas a “casos extremados”, de doenças terminais ou de um sofrimento sem solução, rapidamente escalou para uma “avalanche de mortes”.

“Na Bélgica, em 15 anos aumentaram quase mil vezes o número de casos por ano de pessoas que são eutanasiadas. Neste momento já se fala na possibilidade da eutanásia pediátrica na Holanda e na Bélgica”, aponta Ricardo Batista Leite.

Para o médico, a questão da legalização ou não da eutanásia “toca na vida”, mas também “na matriz” que queremos para a sociedade no futuro.

“Porque estamos a falar do sofrimento humano, é um debate que nós não podemos nem precipitar nem acelerar. E aquilo a que nós estamos a assistir hoje é a uma tentativa mata-cavalos de querer acelerar o processo”, sustenta o deputado social-democrata.

Pela sua experiência na área da Saúde, Ricardo Batista Leite frisa que antes de considerar a eutanásia Portugal deveria estar a debater soluções para ir ao encontro das atuais “dificuldades” do Serviço Nacional de Saúde.

Uma estrutura que muitas vezes “não dá resposta” adequada ao sofrimento das pessoas, quando são os momentos de maior fragilidade e dor que abrem a porta a todas as alternativas, incluindo a possibilidade da antecipação da própria morte.

Ricardo Batista Leite recorda que quando “o sentimento de abandono é real, na ausência de qualquer apoio, de qualquer esperança”, é nesses momentos que as pessoas mais “pensam na morte”.

“Eu assisti à morte de muitos doentes, muitas vezes com estádios avançados de SIDA, e que os próprios familiares os abandonavam, até por vergonha social. E muitas vezes era o próprio profissional de saúde, ou o capelão, a única pessoa a estar ao lado dela”, atesta aquele responsável.

Para o deputado do PSD, o que se deveria estar a discutir em primeiro lugar era se Portugal “está disposto a investir mais, em garantir mais apoio social, apoio às famílias para que possam cuidar dos seus familiares”.

E também a aposta “em cuidados paliativos, em cuidados de alívio da dor e do sofrimento”.

O também coordenador científico de Saúde Pública (Centro de Investigação), do Instituto de Ciências da Saúde, da Universidade Católica Portuguesa, alerta que da decisão deste debate depende também a definição futura do papel do médico e da sua relação com os pacientes.

“Quando se vai ao médico é para procurar a cura, é para procurar o bem-estar, o amenizar do sofrimento. O médico dizer perante o seu doente, numa situação extremada, que nada lhe pode oferecer senão a morte? Eu não me revejo numa sociedade destas”, salientou Ricardo Batista Leite.

A Igreja Católica em Portugal está a promover até dia 20 de maio a Semana da Vida, este ano dedicada ao tema ‘Eutanásia, o que está em jogo?’.

O objetivo, refere a organização, é contribuir para “um diálogo sereno e humanizador” em torno desta matéria, que vai ser discutida na Assembleia da República no próximo dia 29 de maio.

As declarações do médico e deputado Ricardo Batista Leite podem ser escutadas esta segunda-feira a partir das 15h00, no Programa ECCLESIA na RTP2.

HM/JCP

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Agência ECCLESIA

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