José Diogo Ferreira Martins diz que Serviço Nacional de Saúde se encontra nos «Cuidados Intensivos»
Lisboa, 29 mar 2023 (Ecclesia) – O presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) lamentou que a legalização da eutanásia volte a estar em debate na Assembleia da República, sem que o tema esteja “suficientemente esclarecido”
“Reafirmo a preocupação com este tema. Apesar de ser discutido abundantemente na sociedade portuguesa, a verdade é que falando com os doentes, com os familiares, sabemos que persistem muitas dúvidas, há conceitos que não são claros”, alerta José Diogo Ferreira Martins, em declarações à Agência ECCESIA.
A legislação sobre eutanásia regressa à Assembleia da República na manhã desta sexta-feira, depois de mais um “chumbo” do Tribunal Constitucional.
A reapreciação do Decreto da Assembleia da República n.º 23/XV/1.ª, sobre a legalização da eutanásia deixa o presidente da AMCP preocupado, face à “indefinição de conceitos” e à falta de oferta de Cuidados Paliativos.
Se estamos a permitir que alguém, em sofrimento extremo, tenha a opção de pedir a eutanásia, sendo inexistente a opção de Cuidados Paliativos – para aqueles que não têm recursos e dependem do Serviço Nacional de Saúde -, não estamos a falar de uma opção verdadeira. É só uma estrada que conduz ao fim da vida dessa pessoa”.
José Diogo Ferreira Martins manifesta ainda a sua preocupação com o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Fazer um diagnóstico é olhar para a realidade, com olhos verdadeiros, para tentar perceber o estado em que estamos. Se me é permitido, diria que o Serviço Nacional de Saúde está nos Cuidados Intensivos”, assinala, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).
O especialista em cardiologia pediátrica, que trabalha no SNS, com horário completo, fala num país com “dois sistemas”, o público e o “dos privados e convencionados”.
“Existe uma necessidade absoluta de cooperação entre estes dois sistemas, não os tornando completamente isolados um do outro”, apela.
Este sistema de “vasos comunicantes”, implementado através de parcerias, pode funcionar em favor das populações.
“A partir do momento em que este modelo foi interrompido, fomos assistindo a um descontentamento progressivo das populações e dos profissionais de saúde”, observa o entrevistado.
O presidente da AMCP sublinha o trabalho desenvolvido pela direção executiva do Serviço Nacional de Saúde, criada em 2022, mas admite limitações à prestação de cuidados no setor público.
“O que nós, profissionais do serviço público, notamos é que cada vez mais o acesso é restrito. Isso é algo de que se tem dado conta”, declara.
Preocupa-me saber que neste país, com dois sistemas, os mais pobres, os mais desfavorecidos são claramente prejudicados, numa dificuldade cada vez maior de acesso ao Serviço Nacional de Saúde”
A “inversão de rumo”, indica José Diogo Ferreira Martins, passa por “criar condições” para que os profissionais de saúde se sintam “recompensados” e reconhecidos, na sua dignidade.
OC
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