Conferência Episcopal Portuguesa alerta ainda para repercussões «legislativas e educativas» quanto à mudança de sexo
Fátima, 12 abr 2018 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) apelou hoje a um diálogo “sereno e humanizador” face ao debate sobre a legalização da eutanásia no país, reafirmando a sua posição de “defesa intransigente da vida humana”.
A posição é assumida no final da Assembleia Plenária que decorreu desde segunda-feira, em Fátima.
O presidente da CEP, D. Manuel Clemente, alertou em conferência de imprensa, para o efeito da “rampa deslizante” nos países em que a eutanásia foi legalizada.
“Abrindo essa porta, ela vai-se escancarar”, assinalou o cardeal-patriarca de Lisboa.
O responsável insistiu na ideia de que a eutanásia “não elimina a dor”, mas “elimina a vida”.
Questionado sobre um eventual referendo que discutisse a legalização desta prática, D. Manuel Clemente admitiu que está em causa uma “possibilidade legal”, mas defendeu que “há muita coisa a fazer antes disso e em vez disso”.
O cardeal-patriarca disse que este é um problema “grave” e “complexo”, mas sustentou que a solução da eutanásia se deve evitar “a todo o custo”, desenvolvendo os cuidados paliativos, para que as pessoas sejam “verdadeiramente assistidas”, mostrando que estas vidas são “importantes”.
D. Manuel Clemente criticou ainda as forças partidárias que levaram o tema ao Parlamento, sem nunca terem apresentado esta proposta ao eleitorado.
“Ninguém debateu isto”, acrescentou.
O presidente da CEP realçou que a sociedade é chamada a “estar ao lado das pessoas”, sem desistir de ninguém, dando uma “resposta capaz” a este problema do sofrimento na doença.
“Não é uma posição confessional, é uma posição humana”, observou, elogiando a intervenção dos católicos “em cidadania”, com outros cidadãos, numa “frente comum”.
“Isto não é um assunto de Igreja, é um assunto de sociedade”, prosseguiu.
O comunicado final da reunião magna da CEP recorda a posição assumida na sua nota pastoral de março de 2016 bem como a recente exortação apostólica ‘Alegrai-vos e exultai”, do Papa Francisco, na qual o pontífice declara que “a defesa do inocente nascituro deve ser clara, firme e apaixonada” e denuncia a “eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados”.
Os bispos alertaram ainda para as “possíveis repercussões legislativas e educativas quanto à mudança de sexo”, reafirmando preocupações manifestadas nos últimos anos.
D. Manuel Clemente declarou que a o facto da masculinidade e feminilidade “não é um acrescento cultural”, mas é “constitutiva da pessoa”, considerando que antecipar uma decisão deste género para os 16 anos é “muito ilegítimo”.
Em outubro de 2017, a CEP manifestara a sua “preocupação” perante as propostas que visam permitir a menores de idade a mudança de sexo, mesmo contra a opinião dos pais, a partir dos 16 anos.
Quatro anos antes, os bispos católicos publicaram a carta pastoral ‘A propósito da ideologia do género’, na qual sustentava que “no plano estritamente científico, obviamente, é ilusória a pretensão de prescindir dos dados biológicos na identificação das diferenças entre homens e mulheres”.
OC