Religiosa da Aliança de Santa Maria é médica na Unidade de Cuidados Continuados, na Batalha, e afirma que pacientes querem «carinho, conforto e presença dos que ama, sem antecipar último momento da vida»
Fátima, 14 fev 2020 (Ecclesia) – A Irmã Ângela Coelho, religiosa da Aliança de Santa Maria e médica de formação, diz que “acompanhar um paciente no processo de morrer e na morte” não é fácil, mas “é um privilégio” fazê-lo.
“É um privilégio acompanhar o processo de morrer: poder, pelo menos, para além da dor e higiene, libertar os doentes da pior coisa no processo de morrer que é a solidão. Estar ali presente, a acompanhar, é um privilégio”, indica, em declarações à Agência ECCLESIA.
“Se todos, o Estado inclusivamente, proporcionassem os meios de conforto e carinho, a possibilidade de os utentes estarem próximos dos seus familiares, até em contexto de domicílio e sobretudo em matéria de dor, creio que a eutanásia nem se colocaria”, sublinha religiosa da Aliança de Santa Maria, congregação que tem por carisma aprofundar e transmitir a Mensagem de Fátima.
Formada em Medicina há 25 anos, a exercer na Unidade de Cuidado Continuados no Centro Hospitalar de Nossa Senhora da Conceição, na Batalha, a irmã Ângela Coelho sustenta que a sociedade transformou a morte em “tabu” e que a foi relegando para ambientes hospitalares.
Em ambiente familiar a morte era entendida como “um ritual, encarada com muita naturalidade, era um momento da vida, o último”, onde todos “participavam no processo de morrer”, com a pessoa “em contexto familiar, rodeado por outros que amava”, conferindo “um horizonte” à última etapa da vida.
“Está a mudar e os cuidados paliativos são uma realidade relativamente recente, com alguns anos, e é curioso ver quão importante é a formação dos profissionais que trabalham em cuidados paliativos e sentirem-se vocacionados. Não é fácil acompanhar o doente no seu processo de morrer e na morte”, observa.
A religiosa afirma que a recusa em acompanhar e encarar a morte se deve ao facto de “não ser fácil encarar o próprio destino”.
Não gostamos de pensar na nossa morte – banimo-la do horizonte da vida – e perdemos e empobrecemo-nos muito. A morte é que dá horizonte à vida, se nunca morrêssemos a nossa vida seria outra coisa”.
A irmã Ângela Coelho acompanha, semanalmente, a Unidade de Cuidados Continuados, onde considera haver “muita reabilitação”, bem como pessoas que estão a morrer.
“A experiência é que todos querem viver”, relata.
“Aceitando o momento da morte que chega, querem-no viver com dignidade. Quando os doentes têm satisfeitas as suas necessidades desta fase, da fase da morte, que é o carinho, o conforto, a ausência de dor, a alimentação, a presença dos que amam, não querem antecipar a sua morte, querem vivê-la como o último momento da sua vida”, conclui a religiosa.
LS