Antigo abade do Mosteiro de Singeverga abordou realidade do Velho Continente sob o ponto de vista do santo de Núrsia
Braga, 24 mar 2014 (Ecclesia) – O antigo abade do Mosteiro de Singeverga, frei Luís Aranha, defende que quinze séculos depois, a vida e obra de São Bento de Núrsia (c. 480-c. 547) subsistem como um convite “muito claro” à mudança de paradigma na Europa.
Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, no âmbito do 50.º aniversário da proclamação de São Bento como patrono da Europa, o religioso destacou a “atualidade” da mensagem do fundador da Ordem beneditina, dentro de um continente marcado por diversos problemas, de índole económica, política e social.
Onde deveria imperar a “solidariedade, a comunhão fraterna, o sentido da verdade e da justiça”, valores defendidos por São Bento e que estiveram na base da Comunidade Europeia, reina a divisão, muito por culpa de um conjunto de “grupos de pressão”, nascidos dentro dos países e que defendem os mais variados interesses “paralelos”.
Para o frei Luís Aranha, é fundamental que a Europa “não prescinda nem esqueça as suas raízes cristãs, que os mosteiros vieram implantar”.
Deus vem “em primeiro lugar” e o homem, porque “criado à imagem e semelhança de Deus”, deve ser tratado com toda a “dignidade”, sublinha o religioso, lamentando a forma como os “valores” relativos, como o dinheiro e o poder, se têm imposto no Velho Continente.
Para o antigo abade de Singeverga, o único mosteiro masculino da Ordem dos Beneditinos existente em Portugal, na região de Santo Tirso, “a Europa precisa de redescobrir o olhar para a pessoa humana, com toda a beleza que tem, mesmo o irmão mais pobre, mais marginal”.
E aqui “São Bento é mestre”, já que tudo o que rodeou a sua regra, escrita no século VI, “veio a favor do Homem” e como um “apelo a que não haja discriminação de pessoas”, recorda.
Segundo o monge beneditino, a crise de identidade e de valores que ganha peso na Europa deve apelar à mobilização de toda a Igreja Católica.
“Comunidades monásticas, cristãos empenhados, todos, têm de se preocupar, isto é imprescindível”, sustenta.
No caso da Ordem dos Beneditinos, as diversas comunidades são chamadas a continuarem a ser “sinais no mundo” de que existe “algo mais” do que a lógica dos “mercados” ou do “lucro”.
Os mosteiros são um “oásis” de “dádiva”, de “gratuidade” e “o mundo precisa hoje destes gestos”, conclui o frei Luís Aranha.
Organizado pela Confraria de S. Bento, em parceria com o Instituto de História e Arte Cristãs (IHAC) da Arquidiocese de Braga e o Município de Terras do Bouro, a primeira fase do congresso dedicado ao patrono da Europa decorreu entre sexta e sábado na localidade de São Bento da Porta Aberta, no Minho.
A iniciativa contou com a participação do arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga e de diversos oradores, como os professores Adriano Moreira e Ana Maria Tavares Martins, frei Geraldo Coelho Dias e o cónego José Marques.
LS/JCP