Europa não pode cortar raízes do Cristianismo

Primeiro dia da visita do Papa à Áustria conclui-se com um apelo em favor dos valores cristãos Bento XVI defendeu hoje a importância dos valores cristãos na construção europeia, afirmando que “a Europa não pode nem deve renegar as suas raízes cristãs”. Estas raízes, indicou, “são uma componente dinâmica da nossa civilização, no caminho para o terceiro milénio” e que o Cristianismo “modelou profundamente o nosso Continente”, manifestando-se no património, mas sobretudo em “inumeráveis pessoas”. Bento XVI falava durante o encontro desta tarde com as autoridades austríacas e o corpo diplomático, no Palácio Hofburg de Viena. Antes, tinha estado reunido em audiência privada com o presidente austríaco, Heinz Fischer. “Faz parte da herança europeia uma tradição de pensamento, para a qual é essencial uma correspondência substancial entre a fé, a verdade e a razão”, observou o Papa, retomando uma questão já abordada na sua viagem à Turquia. Neste sentido, disse, “não existe, até hoje” uma alternativa à herança cristã Falando dos caminhos “falhados” da Europa, Bento XVI criticou as “reduções ideológicas da filosofia, da ciência e também da fé; o abuso da religião e da razão para fins imperialistas; a degradação do homem através do materialismo teórico e prático; a degeneração da tolerância numa indiferença privada de referências a valores permanentes”. O Papa abordou o “modelo europeu de vida”, uma ordem social que implica “eficácia económica, justiça social, pluralidade política, tolerância, liberalidade e abertura, mas também a conservação dos valores que dão a este Continente a sua posição particular”. Perante a globalização e as “condicionantes da economia moderna”, a Europa é desafiada a encontrar “limites” que evitem a exploração dos “países mais pobres e das pessoas pobres dos países ricos”. A União Europeia deveria, segundo o Papa, “desempenhar um papel de liderança na luta contra a pobreza no mundo e no empenho a favor da paz, em face, por exemplo, dos urgentíssimos desafios colocados pela África, das horríveis tragédias deste continente – tais como o flagelo da Sida, a situação do Darfour, a injusta exploração dos recursos naturais e o preocupante tráfico de armas”. Classificando a Áustria como “um país-ponte” entre o Ocidente e o Leste, o Papa precisou que o processo de unificação europeia é uma obra de grande importância que trouxe à Europa um período de paz até agora desconhecido, mas considerou que a casa europeia apenas será habitável se for construída se “for construída sob um sólido fundamento cultural e moral de valores comuns”. Após as “divisões dolorosas” que atingiram a Europa, a unidade ainda “está por realizar nas mentes e nos corações das pessoas”, disse o Papa. “Após os horrores da guerra e as experiências traumáticas das ditaduras e dos regimes totalitários, a Europa empreendeu um caminho rumo à unidade do Continente, destinada a assegurar uma ordem duradoura de paz e justo desenvolvimento”, referiu. Neste contexto, destacou o contributo de João Paulo II neste “processo histórico”. O Papa falou das relações entre a Santa Sé e a Áustria, onde se encontra a sede de várias instituições internacionais, destacando o esforço em favor da “causa comum da paz”. Em relação à sociedade austríaca, Bento XVI destacou o sucesso obtido na “convivência social” e na solidariedade, com “coração aberto aos pobres e necessitados”, dentro e fora do país. Sobre o grande santuário mariano da Áustria, Mariazell, destino último desta “peregrinação” papal, Bento XVI disse estarmos na presença de “um ponto de encontro para os vários povos europeus”, um local “onde os homens receberam e recebem a força do alto”. O Papa foi recebido com música clássica, uma das suas paixões, cultivada precisamente nas proximidades da Áustria, onde cresceu. “É uma alegria para mim encontrar-me aqui”, disse, sublinhando que os costumes austríacos lhe são familiares. Mais uma vez, Fischer deu as boas-vindas a Bento XVI, assegurando que é recebido na Áustria de “coração aberta”. O presidente austríaco falou dos “longos períodos de guerra” que afectaram o Velho Continente e partilhou o sonho de um “mundo pacífico”. Neste contexto, falou da UE como um projecto de paz, “único” no seu género, que amadureceu desde “as raízes do Cristianismo”. Este responsável saudou os “discretos esforços da Santa Sé” para travar conflitos ou amenizar aqueles que já estão a decorrer. Por outro lado, destacou os exemplos dos Arcebispos de Viena no plano do diálogo inter-religioso. Foto:LUSA

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top