Europa: Igrejas Cristãs assumem compromissos comuns em defesa dos migrantes e na preservação do ambiente

Nova versão da «Charta Oecumenica» evoca 1700.º aniversário do primeiro concílio ecuménico em Niceia

Foto: CCEE

Roma, 06 nov 2025 (Ecclesia) – O Conselho das Conferências Episcopais da Europa e a Conferência das Igrejas Europeias, que representam centenas de milhões de cristãos na Europa, assinaram uma nova versão da “Charta Oecumenica”, assumindo compromissos em defesa dos migrantes e do ambiente.

“Reconhecemos que a crise climática se tornou mais urgente; a guerra, as deslocações, a pobreza, o populismo, o uso indevido da religião e muitas dificuldades inter-relacionadas causaram grande sofrimento e elevada ansiedade”, indica o texto, assinado esta quinta-feira em Roma, que vai ser apresentado hoje ao Papa.

“A crise ecológica manifesta uma falha espiritual e ética no cumprimento da nossa vocação cristã. Exortamos todos a uma conversão ecológica que proteja a nossa casa comum”, acrescenta o documento, que atualiza a versão original de 2001.

Entre as novidades apresentadas estão capítulos dedicados à “paz e reconciliação”, à “migração”, à “juventude” e às “novas tecnologias”.

“Afirmando a dignidade e os direitos de cada ser humano, denunciamos qualquer forma de migração forçada, escravatura moderna e, particularmente, tráfico de seres humanos: consideramos todos estes crimes contra a humanidade. Comprometemo-nos a continuar a trabalhar para acolher as vítimas dessa migração forçada com respeito e compaixão humana, oferecendo-lhes a possibilidade de construir uma nova vida”, assume o documento, subscrito pelos presidentes da Conferência das Igrejas Europeias (CEC), arcebispo Nikitas de Thyateira e Grã-Bretanha, e do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), arcebispo Gintaras Grusas, de Vilnius.

O documento orientador da cooperação ecuménica entre as Igrejas cristãs europeias ganhou nova redação por ocasião do 1700.º aniversário do primeiro concílio ecuménico da história, em Niceia (325), atual Turquia.

Segundo os signatários, a atualização da ‘Charta Œcumenica’ (Carta Ecuménica) representa “um marco na jornada ecuménica das Igrejas europeias, renovando o seu compromisso de caminhar juntas em diálogo, compreensão mútua e testemunho partilhado em resposta aos desafios deste tempo”.

Comprometemo-nos

  • a mudar a nossa compreensão da criação, passando da possessividade à contemplação e reconhecendo a nossa total dependência do mundo criado;
  • a agir em prol de uma conversão de comportamentos a nível pessoal, eclesial, social, comunitário e político, a fim de salvaguardar e cultivar a criação;
  • a agir em conjunto para um modo de vida mais justo e sustentável, mudando o nosso estilo de vida, favorecendo a moderação e a contenção no uso dos recursos que são um dom de Deus para nós e para as gerações futuras;
  • apoiar as organizações eclesiásticas e as redes ecuménicas que trabalham para aprofundar o nosso conhecimento e compreensão da Criação e de como protegê-la;
  • apoiar as comunidades afetadas pelo impacto das alterações climáticas, pela perda de biodiversidade e por outros efeitos da transição ambiental.

Charta Oecumenica

No prefácio do documento, os responsáveis admitem que as “divisões que continuam a existir entre as Igrejas”, assumindo um compromisso comum para a unidade e a “procura conjunta do discipulado em Cristo”.

“O nosso compromisso mútuo como igrejas não é abstrato, baseia-se na fé partilhada, vivida no meio da dor, da divisão e da esperança. Numa Europa fragmentada e secular, a Carta exorta-nos a redescobrir a força da nossa comunhão e a urgência da nossa missão”, referiu o arcebispo Nikitas.

Já D. Gintaras Grusas destaco que a versão atualizada da carta ecuménica chega num momento marcado pelas “feridas da guerra, a mobilidade humana e os desafios éticos das novas tecnologias”.

24 anos depois, a ‘Charta Œcumenica’ atualizada reflete sobre o “panorama social, espiritual e ecológico em evolução da Europa”.

Condenamos qualquer forma de violência contra pessoas humanas, especialmente a violência contra os mais vulneráveis e as minorias. As Igrejas têm uma responsabilidade particular em garantir que os seus ensinamentos não condenem mulheres e crianças a continuar em situações de violência doméstica e abuso.”

O texto aborda a busca da paz e da reconciliação, o acolhimento de migrantes e refugiados, o apelo urgente à salvaguarda da criação e o aprofundamento das relações com as comunidades judaica e muçulmana, por parte dos cristãos.

Sobre as novas tecnologias, os responsáveis assumem a necessidade de “promover a literacia digital e o envolvimento crítico”, apontando ao objetivo de promover o “desenvolvimento de quadros éticos e diretrizes”.

A nova carta destaca ainda o “papel decisivo que as organizações de jovens e estudantes, bem como os encontros de jovens, sempre desempenharam nas igrejas e no ecumenismo”.

OC

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