Jornalista da Renascença salienta que «o Papa não precisa de visitar» Kiev e Moscovo para tentar mediar a paz
Lisboa, 09 mai 2023 (Ecclesia) – José Pedro Frazão, jornalista da Rádio Renascença que já esteve quatro vezes na Ucrânia, desde o início da guerra, considera que os próximos “12 meses serão cruciais”, lembrando que o Papa “nunca desistiu” da paz.
“Ele nunca desistiu, mas articulam-se várias questões que vêm de trás, a relação entre a Santa Sé e Moscovo é uma relação antiga. O Papa, há um ano, deixou a nota que gostaria de visitar Kiev, mas só depois de ir a Moscovo, mas Francisco não precisa de visitar para tentar mediar a paz, têm existido alguns encontros para tentar conversar”, disse à Agência ECCLESIA.
José Pedro Frazão recordou que, na mais recente viagem à Ucrânia, pela altura da Páscoa, teve conhecimento de “algumas diligências, de alguns responsáveis da Igreja Católica”, para uma reunião entre ucranianos e russos,” que pudesse frutificar de baixo para cima”, mas “a conversa está extremada e não há pontos de encontro”.
O Papa Francisco referiu um eventual gesto simbólico entre jovens ucranianos e russo, na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, que decorre de 1 a 6 de agosto, após a visita à Hungria (28-30 de abril), o que “pode ser um ponto importante”.
“Os jovens certamente poderão ultrapassar algumas barreiras que a guerra traz. Na Ucrânia fala-se sobre a Jornada Mundial da Juventude em circuitos mais restritos. Mesmo do ponto de vista católico é difícil mobilizar jovens para vir quando estão numa guerra, não é prioridade vir à Jornada Mundial da Juventude”, desenvolveu José Pedro Frazão.
Uma edição internacional da JMJ, que acontece em contexto de guerra, “poderá abrir caminho para algum diálogo”, pelo menos através dos mais jovens, “e isso é uma esperança que, certamente, é alimentada pelo Papa Francisco”.
A Igreja Católica está “muito presente” na Ucrânia, “nomeadamente através do trabalho humanitário da Cáritas”, “inclusivamente nas frentes de batalha”, e através de alguns sacerdotes que mantêm as celebrações, inclusive “do lado ocupado pela Rússia”, como na Crimeia.
O jornalista da emissora católica portuguesa considera que, na sua última viagem à Ucrânia, encontrou “a mesma resiliência” no povo e “uma determinação na vitória”, “uma confiança muito grande”, que “talvez não ajude à negociação”.
O Dia da Europa, comemorado anualmente a 9 de maio, assinala o aniversário ‘Declaração Schuman’, proferida em Paris, em 1950, pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Robert Schuman, que apelava a uma nova forma de cooperação política no continente.
Neste Dia da Europa, José Pedro Frazão considera que a guerra na Ucrânia “está a mudar sobretudo da forma como a Europa se relaciona com a Rússia”, e, num segundo ponto, na forma como “a Europa se posiciona do ponto de vista global”.
O jornalista afirma que os próximos “12 meses serão cruciais”, até dia 9 de maio de 2024, recordando que se vão realizar as Eleições Europeias, e há “mudanças do ponto de vista institucional na forja” e decisões que a União Europeia “vai ter de tomar”, nomeadamente o seu alargamento “aos países de leste, dos Balcãs”, e onde é que a Ucrânia, e outros países, com a Moldávia, se enquadram nesse processo.
Existem também a inflação, “se vai abrandar e vai começar a caminhar para uma estabilização”, se os populismos, que “vão cavalgando o sistema político, poderão entrar ainda mais no Parlamento Europeu”, para além de fatores mais antigos “como o declínio demográfico, as migrações”.
PR/CB/OC
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