Intervenções sobre as raízes cristãs da Europa marcaram segundo dia do congresso «Juntos Pela Europa»
António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt, em serviço para a Agência ECCLESIA (o texto está redigido segundo a anterior norma ortográfica)
Munique, Alemanha, 01 jul 2016 (Ecclesia) – O cardeal de Munique, Alemanha, afirmou hoje que a situação actual da Europa “é um desafio” para os cristãos, que devem propor o evangelho como um texto “iluminador” e defender a igualdade radical de todos os seres humanos.
A ideia, expressa pelo cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique-Freising, dominou várias intervenções do segundo dia do congresso Juntos Pela Europa, que neste sábado termina na capital da Baviera.
“A União Europeia é mais pequena que a Europa, mas é uma construção política única. Pode ela vir a ser um modelo para o mundo?”, perguntou o cardeal, na igreja evangélica de São Mateus, no centro de Munique, num dos debates que decorreram esta tarde.
“É preciso regressar às fontes, ler o evangelho e meditar sobre ele”, acrescentou o cardeal na sua intervenção, acrescentando que essa meditação deve levar os cristãos a perguntar “o que diria Jesus hoje”.
Dando o exemplo da história do bom samaritano, o cardeal defendeu que os cristãos devem comprometer-se também contra o “escândalo” das mortes de refugiados no Mediterrâneo, insistindo na ideia de que “todos os seres humanos foram criados” com a mesma dignidade.
Recordando que “as catástrofes do século XX foram levadas a cabo por gente baptizada”, o cardeal Marx defendeu que, no entanto, os direitos humanos se baseiam no evangelho.
O cardeal alemão deu ainda o exemplo de Robert Schuman, ministro francês dos Negócios Estrangeiros depois da II Guerra Mundial, um dos “pais” da ideia de uma comunidade de nações: “Para mim era um santo e um homem de oração, um homem político que soube ler a realidade”, afirmou.
Jeff Fountain, responsável do Centro Schuman de Estudos Europeus, referiu-se à figura do antigo ministro francês para afirmar que ele “teve uma visão: a da Europa como comunidade de povos, profundamente enraizada nos valores cristãos”.
Evocando ainda a figura de Erasmo de Roterdão, Jeff Fountain disse que o humanista holandês do século XVI propôs uma solução muito simples aos reis imperadores e ao Papa do seu tempo, como forma de enfrentar a crise que a Europa então também vivia: “ad fontes”, voltar às fontes.
“No seu entender, as fontes eram os evangelhos” e os teólogos e pensadores dos primeiros séculos cristãos.
A solução deve ser, hoje, a mesma, acrescentou Jeff Fountain, numa altura em que a Europa, nomeadamente após o referendo no Reino Unido, experimenta uma nova situação de profunda crise.
“Tudo contribuiu para a construção da Europa”: a civilização greco-romana, a herança judia e muçulmana, a cultura pagã germânica. “Mas só o cristianismo foi capaz de ser unificador, defendeu.
O “paradoxo” europeu é que é o continente “mais tocado” pela Bíblia e que, ao mesmo tempo, mais o rejeita, disse ainda.
O Juntos Pela Europa é uma rede de cerca de 300 movimentos e comunidades de diferentes confissões cristãs – católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos – que desde 1999 tem promovido um conjunto de iniciativas que pretende afirmar a riqueza da diversidade de carismas.
O congresso termina este sábado, com uma tempo dedicado à oração ecuménica, de manhã, e uma tarde de espectáculo, música e testemunhos na Karlsplatz, no centro de Munique.
A iniciativa vai estar em destaque ao longo da próxima semana no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, de segunda a sexta-feira (22h45).
AM/PR