D. José Policarpo espera mudanças perante afastamento crescente entre mundo da finança e economia real
Alfragide, Lisboa, 05 jun 2012 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa manifestou hoje preocupações perante a atual situação do mundo laboral e a “fragilidade” do setor bancário, apelando a um novo equilíbrio nas relações entre a “grande finança” e a economia.
“Como sabemos, a crise principal é a crise do trabalho, que está ligada ao âmago mesmo da crise económico-financeira que a Europa atravessa”, disse D. José Policarpo, antes da abertura do 3.º Fórum Católico e Ortodoxo, em Lisboa, falando à Agência ECCLESIA e Rádio Renascença.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) aludiu às dificuldades de financiamento das empresas perante a “fragilidade da banca europeia” que, do seu ponto de vista, “não está a cumprir uma das suas funções fundamentais, que é apoiar a economia”.
“Deu-se, de há uns anos a esta parte, uma alteração nos equilíbrios da sociedade, uma alteração do equilíbrio entre finança e economia: a razão de ser do mercado financeiro é sustentar e desenvolver a economia, senão é simplesmente uma maneira de países e pessoas enriquecerem à custa de juros”, acrescentou.
D. José Policarpo considera que “não tem sido explicado” qual o montante pago em juros, diariamente, por Portugal para “continuar ainda a funcionar mais ou menos”.
Para este responsável, a atual crise pode ser uma ocasião para “repensar os dinamismos e o equilíbrio do desenvolvimento da sociedade”.
‘Crise económica e pobreza: desafios para a Europa hoje’ é o tema que entre hoje e sexta-feira reúne dezenas de figuras do clero das Igrejas Católica e Ortodoxas no Seminário de Nossa Senhora de Fátima em Alfragide, Patriarcado de Lisboa.
Para o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, é preciso “ter noção” das dimensões do fenómeno da pobreza, com a “identificação real” do fenómeno, analisando causas e procurando soluções.
“Temos os meios da Igreja, o nosso observatório, e tenho a noção que é o mais completo de todos, mas mesmo assim não é fácil: uma coisa são os pobres já se inscreveram, que recorrem facilmente à ajuda social, outra coisa são aqueles que caíram numa situação difícil, que tinham uma vida normal, que não é à primeira que são capazes de se identificar ou de se meter na sopa dos pobres”, indicou.
Neste contexto, o patriarca de Lisboa lembra os pobres que são “vítimas da situação em que a Europa caiu” e pede “delicadeza na identificação desses casos”.
“Tenho insistido no sentido de vizinhança, que cada um esteja atento ao seu vizinho”, precisou.
D. José Policarpo referiu ainda que as Igrejas cristãs devem estar unidas “por um sentido cristão das soluções”.
O encontro ecuménico vai decorrer à porta fechada, com a publicação de um comunicado no final dos trabalhos.
O programa prevê que os participantes estejam presentes esta quinta-feira na Sé de Lisboa para a missa do Corpo de Deus presidida pelo cardeal-patriarca, às 11h30.
O encontro inclui também uma oração ecuménica no Colégio do Bom Sucesso, em Lisboa, às 19h00 de quarta-feira, aberta ao público.
OC