Lisboa, 02 nov 2011 (Ecclesia) – O jornalista Francisco Sarsfield Cabral, especialista em assuntos económicos e políticos, classifica como “penosa e lamentável” a atuação dos dirigentes europeus diante da crise financeira, com “consequências nefastas” para o futuro da União.
“É impossível construir uma Europa democrática mais unida nas costas dos cidadãos. Por isso a crise do euro é de desfecho altamente incerto”, refere, em texto publicado na mais recente edição do semanário Agência ECCLESIA, esta terça-feira.
Para Sarsfield Cabral, “a atual crise do euro apenas se resolve com mais Europa”, mas considera que “os políticos europeus das últimas décadas deixaram de ligar importância ao que pensam os cidadãos sobre a UE”, por exemplo, “evitando referendos sempre que podem”.
Na última semana, os líderes europeus e da zona euro chegaram a um novo plano para reduzir a dívida grega e atribuir a Atenas um novo plano de resgate numa altura em que, segundo Francisco Sarsfield Cabral, a moeda única “esteve à beira da derrocada” e, com ela, “a maior ou menor prazo, boa parte da construção europeia”.
“Como se sabe, o diabo costuma estar nos pormenores”, alerta o especialista.
A aceitação voluntária por parte dos credores privados de um corte de 50 por cento da dívida grega foi negociada entre os representantes dos bancos internacionais e os líderes da zona euro, a 27 de outubro, em Bruxelas, mas poderá agora estar em causa, se os eleitores gregos rejeitarem, em referendo – anunciado pelo primeiro-ministro George Papandreou -, o acordo com Bruxelas e com o FMI para obterem um novo empréstimo de 130 mil milhões de euros.
Sarsfield Cabral considera uma “ilusão” ver nesta crise da dívida soberana na zona euro uma “oportunidade para fazer avançar o federalismo”.
“Houve um tempo em que os eurocéticos britânicos constituíam uma exceção. Hoje, porém, o entusiasmo pelo projeto europeu arrefeceu notoriamente em muitos outros países”, alerta.
Após sublinhar que as indecisões europeias “estimularam a especulação”, o que prejudicou os países em dificuldade, como Portugal, “apostando na sua bancarrota”, o jornalista afirma que “unindo-se, os Estados comunitários têm mais poder do que atuando isoladamente”.
“Ora numa época de globalização como a nossa é imperioso que o poder político prevaleça sobre o poder económico. Sem enquadramento político, como sucessivos Papas têm alertado, torna-se selvagem a globalização”, conclui.
OC