D. José Policarpo diz que crise no Velho Continente pede «líderes com discernimento» para «perceber que mudanças não acontecem só ao nível dos mercados»
Lisboa, 12 nov 2011 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa defendeu hoje que a Europa precisa de reencontrar a sua “alma cultural”, se quiser sair da crise em que se encontra.
“Sem alma cultural, depressa desaparecerá o ideal europeu”, apontou D. José Policarpo, durante uma conferência sobre “o futuro da Europa”, na Fundação Calouste Gulbenkian.
A iniciativa, que contou ainda com a organização da Comissão Nacional Justiça e Paz e do Centro Nacional de Cultura, incidiu sobre a necessidade de uma renovação das instâncias que comandam a União Europeia, cada vez mais reféns de uma lógica economicista.
Para o cardeal-patriarca, a atual conjuntura pede “líderes com discernimento” e “intelectuais com paixão”, que tenham a capacidade de “perceber que as grandes mudanças não acontecem só ao nível dos mercados”.
Há que revitalizar sobretudo o dinamismo inicial que norteou esta sociedade de nações, o facto de se “sentirem membros de uma grande família humana”, sublinhou.
Uma ideia acompanhada pelo antigo presidente da República, Mário Soares, que salientou a necessidade de uma “rutura” ao nível dos “valores” que norteiam a maior parte dos dirigentes dos Estados.
“Os mercados não podem mandar nos Estados, mas o que sucede é que muitos dos dirigentes de Estados estão feitos com os mercados e estão interessados nesses mesmos mercados”, denunciou.
Durante o debate, ficou claro que a “lógica permissiva” que rege a relação entre o poder político e os “grandes capitais” tem de ser “contrariada”, sob pena de se continuar a caminhar de “austeridade em austeridade”, sem um final feliz à vista.
Guilherme de Oliveira Martins, atual presidente do Tribunal de Contas, sustentou que “a ameaça de fratura e fragmentação” que paira sobre a UE pede uma maior “solidariedade e entendimento” entre todos os estados-membros.
“Se a procura de soluções for individual, só podemos caminhar para o desastre”, salientou, aludindo à situação atual, em que as políticas anti-crise têm sido maioritariamente definidas pela Alemanha e França.
Para aquele responsável, os “parlamentos nacionais precisam de participar mais” na resolução dos problemas, há toda uma “democracia participativa” para “corrigir”.
JCP