Europa: «A religião continua a ser determinante para a construção das identidades» – Alfredo Teixeira

Diretor do Instituto de Estudos de Religião destaca temática que tem sido «privatizada» e «silenciada» na sociedade

Lisboa, 04 mai 2018 (Ecclesia) – O Instituto de Estudos de Religião (IER), da Universidade Católica Portuguesa, promoveu esta sexta-feira em Lisboa o colóquio ‘Religião, Memória e Identidade na Europa’.

Naquela que foi uma das primeiras iniciativas públicas deste organismo, que começou a sua atividade em fevereiro deste ano, o objetivo foi colocar a temática religiosa mais presente no espaço público e, a partir dela, refletir sobre os desafios sociais atuais, neste caso na Europa.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o responsável pelo IER, o professor Alfredo Teixeira, salientou a importância de combater “uma tendência” que durante as “últimas décadas” se foi afirmando, de “uma visão” que procurou “privatizar” e até mesmo “silenciar” a religião.

Que a transformou num “assunto das consciências, num assunto individual, porventura até um assunto das culturas familiares”, isto quando a temática religiosa, “mesmo num quadro político diferente, continua a ser determinante na construção das identidades”, apontou aquele responsável.

Para Alfredo Teixeira, este é um desafio para “as instituições, para o Estado, para todos os agentes do espaço público”, mas “também para as próprias comunidades religiosas”.

“As comunidades de pertença religiosa têm também que pensar o seu lugar neste contexto público, aquilo que na sua experiência, nos seus valores, é partilhável”, apontou o diretor do IER.

Na base da escolha da “questão europeia”, como mote para este colóquio, esteve a convicção de que a religião é hoje um elemento chave na abordagem e resolução dos problemas que afetam a coesão da União Europeia, a começar pela crise migratória e as mudanças que esta está a provocar no Velho Continente.

Para José Vera Jardim, presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, que abriu os trabalhos deste colóquio na UCP – Lisboa, a integração dos migrantes e refugiados “é um dos grandes desafios que a Europa defronta hoje”.

Sobretudo porque este fenómeno “tem dado lugar ao renascer de posições populistas”, que reduzem a identidade das pessoas ou grupos só “a uma caraterística”, a um determinado estereótipo.

O que, na opinião do antigo ministro da Justiça, tem tido “resultados bastante negativos”, a começar pela “convivência na Europa dos vários grupos religiosos e étnicos”.

“A identidade da pessoa e dos grupos nunca é definida só por uma coisa, um cristão não é definido só por ser cristão, os cristãos são todos diferentes, como os muçulmanos são todos diferentes entre eles”, frisou José Vera Jardim.

Promovido no âmbito do ‘Ano Europeu do Património Cultural’, o colóquio ‘Religião, Memória e Identidade na Europa’ contou com a parceria do Movimento Europeu em Portugal, saído da integração do nosso país na União Europeia e que teve como primeiro presidente Mário Soares.

José Conde Rodrigues, atual presidente do conselho diretivo daquele organismo, explicou a associação a este projeto com o facto de “a promoção dos valores europeus, na sua diversidade e pluralidade, passar também por reconhecer a memória e as vivências das diferentes religiões”, pelo contributo que elas podem dar.

Aquele responsável recorda que na base do nascimento do Movimento Europeu, há 70 anos no Congresso de Aia, “que se assinala justamente este mês”, esteve “a garantia da paz, da solidariedade entre os diferentes europeus e também “a abertura ao outro, o respeito pela dignidade humana e pelos direitos fundamentais”.

“E viver a religião com atualidade é continuar a crer” que essa visão de Europa “tem futuro”.

“A Europa é a nossa casa comum e a religião é também um cimento de sonhos para os europeus, cada um pode ter uma vivência religiosa diferente desde que respeite esse núcleo, essa pluralidade”, completou José Conde Rodrigues.

JCP

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