Padre José Luís Amaro Pombal, Diocese de Bragança-Miranda
No passado dia 10 de março, defendeu provas públicas de doutoramento em Estudos do Património, na Escola das Artes (Universidade Católica Portuguesa – UCP), sob a orientação do Prof. Doutor Henrique Manuel Pereira, com a classificação unânime de summa cum laude, a Doutora Sandra Maria do Vale, diretora-adjunta do Tombo Diocesano de Bragança. Antes de mais, regista-se o facto de ter optado por uma temática que toca um campo importantíssimo do património cultural, os Arquivos religiosos. A investigação tem como título: Monsenhor José de Castro e o Tombo Diocesano: Património Cultural da Igreja na Diocese de Bragança-Miranda.
A conservação do património documental e as investigações académicas em torno dos arquivos eclesiásticos, para além de toda a importância intelectual em si mesmas, encontram-se, neste momento, revestidas de virtude profética. Efetivamente, alertam para a urgência da redescoberta das fontes eclesiásticas na escrita da história, fontes essas que alguma metodologia ignorou, sem dúvida por motivos ideológicos e creio que com uma grande dose de inadvertência. Não é por mera coincidência que um dos grandes vultos da historiografia portuguesa atual, infelizmente já falecido, António Manuel Hespanha, numa conferência de 2016 sobre A constituição do Liberalismo Português (disponível online) se refere ao núcleo do Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça na Torre do Tombo como «muito desarrumadinho». A desarrumação é consequência da pouca valorização. Felizmente, no sentido de se prosseguir o trabalho que, particularmente desde o final da década de 90, vem sendo realizado neste campo, foi há pouco tempo lançada a Rede de Arquivos de Instituições Religiosas. Uma iniciativa do Centro de Estudos de História Religiosa (UCP), para a qual a presente tese, na desejada lógica de parceria, é já um valioso contributo.
Sandra Vale inicia o seu trabalho com um enquadramento do processo de constituição do Tombo Diocesano nos principais documentos da Igreja sobre a promoção do património cultural, para, de seguida, abordar as linhas mestras do projeto Tombo Diocesano Monsenhor José de Castro. Este projeto consta de uma candidatura promovida pela Câmara Municipal de Bragança em parceria com a Diocese, cujos alicerces Sandra Vale pretendeu consolidar.
Uma vez que Monsenhor José de Castro é o patrono do Tombo Diocesano e atendendo ao incipiente estado de arte em torno da sua figura, nesta tese procurou-se estudar aprofundadamente vários aspetos da sua biobibliografia, facultando-se inclusive uma biocronologia muito apreciada pela crítica. Especificamente sobre esta figura do património cultural da Igreja, a investigação procurou corresponder a três objetivos: aprofundar o conhecimento quanto à sua formação político-ideológica; identificar a articulação dos conceitos património, memória e identidade na sua obra; e contextualizar a produção bibliográfica no trajeto da sua vida. Para responder a estes objetivos, foram compulsados milhares de documentos, consultados em arquivos centrais, distritais, diplomáticos, militares e eclesiásticos. Com efeito, uma bela forma de homenagear o «historiador da diocese» de Bragança, que fez dos arquivos, mormente do Arquivo Apostólico Vaticano, lugares de peregrinação.
Resta-me deixar, e creio fazer coro com tantos que se interessam pelas temáticas patrimoniais e historiográficas, uma palavra de gratidão e congratulação pelo trabalho realizado, pelo seu significado e pelo testemunho transmitido de entrega à pesquisa e ao estudo.
Pe. José Luís Amaro Pombal
Diretor do Tombo Diocesano Monsenhor José de Castro da Diocese de Bragança-Miranda.