Papa fala numa Europa «cansada» que tem de recuperar ligação às suas raízes
Estrasburgo, França, 25 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje perante a assembleia parlamentar do Conselho da Europa, em Estrasburgo, as consequências do tráfico de armas que alimenta também o “terrorismo religioso”.
“A paz é posta à prova por outras formas de conflito, como o terrorismo religioso e internacional que nutre profundo desprezo pela vida humana e ceifa, de forma indiscriminada, vítimas inocentes. Infelizmente este fenómeno é alimentado por um tráfico de armas, muitas vezes sem qualquer entrave”, alertou, perante os representantes dos 47 Estados-membros da instituição.
No segundo discurso que proferiu na cidade francesa, depois de ter falado no Parlamento Europeu, Francisco classificou a corrida aos armamentos como “um terrível flagelo para a humanidade” que atinge em particular os mais pobres.
O Papa denunciou ainda o tráfico de seres humanos, “a nova escravatura” que transforma as pessoas em “mercadoria”, “privando-as vítimas de toda a dignidade”.
A intervenção quis realçar a responsabilidade europeia no “desenvolvimento cultural da humanidade” e alertar para as consequências de um “ individualismo” que torna as pessoas “humanamente pobres e culturalmente estéreis”, gerando o “culto da opulência”.
“Temos hoje diante dos olhos a imagem duma Europa ferida pelas inúmeras provações do passado, mas também pelas crises do presente que parece incapaz de enfrentar com a vitalidade e a energia de outrora; uma Europa um pouco cansada e pessimista, que se sente assediada pelas novidades provenientes dos outros continentes”, referiu.
Francisco afirmou a importância da “busca da verdade” para evitar que cada um se torne “medida de si mesmo e do seu próprio agir, abrindo a estrada à afirmação subjetivista dos direitos”.
“Isto leva a ser substancialmente descuidado para com os outros e favorece a globalização da indiferença, que nasce do egoísmo, fruto duma conceção do homem incapaz de acolher a verdade e viver uma autêntica dimensão social”, indicou.
O Papa convidou a Europa a recuperar o seu “vigor”, o “espírito de curiosidade e empreendimento”, a “sede de verdade”.
“A Europa deve refletir se o seu imenso património humano, artístico, técnico, social, político, económico e religioso é um simples legado de museu do passado, ou se ainda é capaz de inspirar a cultura e descerrar os seus tesouros à humanidade inteira”, apelou.
Francisco destacou o papel do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, “que constitui de certo modo a «consciência» da Europa no respeito dos direitos humanos”.
“A minha esperança é que esta consciência amadureça cada vez mais, não por um mero consenso entre as partes, mas como fruto da tensão para aquelas raízes profundas que constituem os alicerces sobre os quais escolheram edificar os pais fundadores da Europa contemporânea”, declarou.
Esta é a segunda viagem internacional do atual pontificado na Europa, após a visita à Albânia, no dia 21 de setembro, e mais curta de um Papa no estrangeiro, com uma duração de cerca de quatro horas.
OC