«Estilo pastoral», marca do Papa Francisco

D. Nuno Brás destaca a linguagem acessível da primeira exortação apostólica do pontificado, «Evangelii Gaudium»

Lisboa, 17 dez 2013 (Ecclesia) – D. Nuno Brás, bispo auxiliar da Diocese de Lisboa, considera que a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’, “essencialmente um documento pastoral”, mostra o programa do pontificado e o “estilo” do Papa, que é a sua “grande novidade”.

“Creio que podemos dizer que este Papa não terá como objetivo fazer qualquer progresso doutrinal ou desenvolvimento doutrinal em relação aos seus antecessores, [mas] assume as reflexões e posições doutrinais. Aquilo que é a grande novidade é o seu estilo pastoral que encontramos muito claro nesta exortação apostólica”, explica à Agência ECCLESIA D. Nuno Brás, professor de Teologia na Universidade Católica Portuguesa.

Neste estilo próprio, o prelado destaca a linguagem que Francisco utiliza para desinstalar e desafiar todas as pessoas.

“É muito estranho vermos num documento do Papa, “os católicos cinzentos”, “uma igreja acidentada e ferida”, expressões que são da linguagem comum, quotidiana, não propriamente da linguagem mais solene de um documento pontifício”, assinala.

“Trata-se quase de um colóquio, no qual o Papa imagina o outro católico com quem está a falar”, acrescenta.

Na exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’ é possível reler parágrafos que Francisco pronunciou ou improvisou em discursos e pode perceber-se também um programa de pontificado dedicado à evangelização, “desde o Rio de Janeiro, desde as audiências de quarta-feira” em “todos os minutos que emprega no encontro, na saudação das pessoas” e na alegria que “transborda” de um homem que hoje completa 77 anos de idade.

“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja doente por estar fechada na comodidade e se agarrar às próprias seguranças”, refere o Papa no número 49 da ‘Evangelii Gaudium’, passagem que D. Nuno Brás considera ser o “núcleo central do documento”.

[[v,d,4348,]]Para o bispo auxiliar de Lisboa, o desafio do Papa “é muito concreto e quase físico”, porque implica “não estar à espera que as pessoas venham à Igreja para fazer um bom acolhimento, para depois acontecer o anúncio do Evangelho”, mas um “anúncio nas praças, nas ruas, porta a porta”.

A partir do quarto capítulo da Evangelii Gaudium, Francisco refere-se à dimensão social da evangelização e à “economia mata”, uma afirmação contra a exclusão que para o entrevistado é “um alerta não apenas para os católicos” mas “um alerta muito grande para a própria organização económica”.

“O Papa não diz nenhuma novidade”, mas “di-lo com veemência e com as palavras todas: é importante que o mundo económico perceba que há um modo de se autodestruir e este caminho é claramente uma autodestruição das pessoas a quem a economia deveria servir”, analisa D. Nuno Brás.

Neste sentido, o bispo auxiliar de Lisboa considera que a exortação apostólica “convida a agarrar na Doutrina Social da Igreja” e a mostrar que “é possível pô-la em prática”, para construir “uma sociedade mais feliz onde todos podem ser pessoa”.

PR/CB/OC

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