Ciclo de concertos «Música no 100», no Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, iniciou com a conversa sobre «Os novos caminhos da espiritualidade. O Homem e o Mundo», com o bispo auxiliar de Lisboa
Lisboa, 04 fev 2025 (Ecclesia) – O bispo auxiliar do Patriarcado D. Alexandre Palma conversou sobre ‘Os novos caminhos da espiritualidade. O Homem e o Mundo’, este sábado, no ‘Luiza Andaluz Centro de Conhecimento’, em Lisboa, após a apresentação do ciclo de concertos ‘Música no 100’.
“O que parece que sucede nos nossos dias, que já começou, é a secularização da espiritualidade. Ou seja, o processo de secularização, obviamente, também toca o que nós chamaríamos de área da espiritualidade”, disse o bispo auxiliar de Lisboa, no centro das Servas de Nossa Senhora de Fátima.
D. Alexandre Palma acrescentou que, “de alguma maneira, o campo da espiritualidade deixou de “ser tutelado pelas grandes instituições, sejam elas quais forem”, o que comporta consigo aquilo que o próprio processo de secularização traz: “o processo de secularização pode ser visto como um processo de sucessivas autonomizações”, o itinerário espiritual das pessoas, de alguma maneira, “tende a autonomizar-se”.
“O que se verifica hoje é, de facto, uma diversificação do cenário das espiritualidades, que, a meu ver, é uma consequência de uma coisa positiva, que é a democratização das espiritualidades, se posso dizer assim. A ideia de que a aspiração a levar uma vida espiritual, e não apenas uma vida de piedade, de alguma maneira, se democratizou. Isso é, também, consequência da renovação do catolicismo de século XIX, século XX.”
Segundo o bispo auxiliar de Lisboa, o que se verifica, “até com a afirmação do laicado, do catolicismo contemporâneo”, tem muito a ver com alimentar esta legítima expectativa de “todo o fiel de levar uma vida espiritual, de ter acesso, direito”, a uma vida espiritual, o que tem muito a ver, também, com “as dinâmicas políticas e, a afirmação do cidadão”, ele próprio é uma célula, dentro do próprio exercício de poder, das sociedades que se entendam de base constitucional.
Sobre o que chamou de “democratização da aspiração da espiritualidade e das propostas de vida espiritual”, o interveniente, da conversa ‘Os novos caminhos da espiritualidade. O Homem e o Mundo’, exemplificou que há 100 anos, “provavelmente, o laicado não fazia” retiros como faz hoje, o cenário “mudou radicalmente”.
Para D. Alexandre Palma “é um progresso, não é um retrocesso”, mas tem um preço e alertou para “uma série de contrafações de algo que se oferece como espiritualidade”, por isso, considera que “um consumidor devia ser tão seletivo quanto é no supermercado”, porque a “inquietação espiritual não é tutelada” como em eras passadas “e não vai voltar a ser”.
“Creio que um grande desafio significa, se for verdade uma certa democratização da inquietude da proposta de vida espiritual, estas próprias propostas de vida espiritual devem, numa certa socialização, estar aptas a responder a contextos de vida secular: A espiritualidade da vida quotidiana, a espiritualidade do ordinário, a espiritualidade do transporte público, a espiritualidade da fila de trânsito, a espiritualidade da escala do metro, a espiritualidade do supermercado.”
O bispo auxiliar de Lisboa, especialista em Teologia Dogmática, referiu-se também ao “fascínio do novo, do desconhecido”, lembrou no Ocidente, “desde o século XIX”, o fascínio “com as culturas orientais, os vários orientes do próximo Oriente, do extremo Oriente”, e hoje, no Oriente, “uma enorme curiosidade sobre o ocidente cristão ou judaico-cristão, ou islâmico”.
O «Luiza Andaluz Centro de Conhecimento» (LA CC), em parceria com a Égide – Associação Portuguesa da Artes, apresentou o ciclo de concertos ‘Música no 100’, uma série de seis eventos de entrada gratuita, que juntam música, teatro e tertúlias, com vários convidados especiais.
O primeiro teve como tema ‘Da inquietude para o mundo’ e realizou-se este sábado, dia 1 de fevereiro, no LACC, na Rua da Escola Politécnica nº 100: O concerto ‘O Esplendor da Polifonia Portuguesa. Da idade de ouro da criação musical em Portugal’, com Officium Ensemble e direção musical de Pedro Teixeira, seguindo da conversa com D. Alexandre Palma. |
PR/CB