Espiritualidade: «Pai-nosso que Estais na Terra» é o novo livro do padre José Tolentino Mendonça

«Não é o conhecimento armazenado» que serve de guia mas «a meditação do acontecer», sublinha poeta

Lisboa, 03 out 2011 (Ecclesia) – “Pai-nosso, que estais nos céus”: as primeiras palavras da mais importante oração cristã situam a morada da divindade no firmamento mas o novo livro do padre José Tolentino Mendonça convida o leitor a procurar Deus na terra.

Ouvir o conselho dos não-crentes, olhar a oração como aprendizagem interminável e entender o quotidiano como experiência permanente de espiritualidade são algumas das orientações propostas pelo sacerdote no volume “Pai-Nosso que Estais na Terra”.

“Sobre Deus e o caminho espiritual, faz-nos bem, a nós crentes, escutar os não-crentes”, porque os cristãos correm o risco de “facilitar, de dar por adquirido, de reproduzir acriticamente”, escreve o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura no livro integrado na coleção “Poéticas do Viver Crente”, dirigida pelo próprio.

“É espiritualmente desastrosa a ideia que se espalhou na visão corrente da existência cristã, segundo a qual, quando pecamos, Deus se afasta de nós”, frisa o poeta, acrescentando que a vida “deixa de explicar-se como uma marcha do nascimento para a morte, para efetivar-se na imagem de um incessante renascer”.

O padre José Tolentino Mendonça, colunista da Agência ECCLESIA, sublinha a simultânea cercania e distanciamento entre Deus e o ser humano: a intimidade estimula a relação, a lonjura afirma que o conhecimento pede sempre mais relação e revelação.

O “impasse” existencial entre “fogo e cinza, desamparo e presença” revela ao mesmo tempo a “medida da distância” e “o imprevisto da proximidade”, escreve o sacerdote no volume que tem por subtítulo “O Pai-Nosso aberto a crentes e não crentes”.

“A terra, esta terra quotidianamente amassada com convulsão e desejo, é o que nos separa ou o que nos avizinha de Deus?”, questiona o biblista, segundo os excertos divulgados pela editora Paulinas, que hoje lança a obra nas livrarias.

A Bíblia atesta que Deus “está ao alcance de todos”, convencimento “de tal maneira acentuado” que os comentadores da Sagrada Escritura “se perguntam se ela, em alguns passos, não teria ido longe de mais, colocando em causa a transcendência divina”, aponta o autor.

A vizinhança espiritual não é uma via para a apropriação de Deus mas para a disponibilidade à sua vontade, como recomendam os monges: “Escolhe o teu lugar no meio da floresta e todos os dias retira-te para lá. E reza apenas isto: ‘Senhor estou aqui à espera de nada’”.

“Não é o conhecimento armazenado de um dia que nos pode servir de mapa, mas a meditação do acontecer. Somos convocados a peregrinar, para aferir a profundidade no movimento, para vislumbrar através da incessante deslocação aquilo que permanece”, salienta o padre Tolentino Mendonça.

O responsável pela Capela do Rato, em Lisboa, assinala que a “oração é uma aprendizagem que nunca está terminada” e adverte que a habituação ao Pai-nosso pode “atenuar” o sentido de uma prece que, segundo a Bíblia, foi ensinada por Jesus Cristo aos apóstolos.

RJM

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