Presidência da Conferência Episcopal dos Países Nórdicos destaca urgência de respostas espirituais no século XXI

Lisboa, 07 out 2025 (Ecclesia) – O bispo de Trondheim (Noruega) e monge trapista, D. Erik Varden, defendeu em Lisboa a importância de recuperar “respostas coerentes e belas” que são propostas pela Igreja sobre a fé, a castidade ou a construção da paz.
“Há uma perceção generalizada de que, a respeito da afetividade e a sexualidade, o único que a Igreja tem a dizer é ‘não, não, não. Não podem’. Pelo contrário, o que tem a dizer é ‘sim’ e possui uma linguagem e uma lógica capazes de expressar alguns dos anseios mais profundos do coração e do corpo humanos, com base na sua compreensão do que é o ser humano na sua origem, tal como foi criado e desejado por Deus”, referiu o presidente da Conferência Episcopal dos Países Nórdicos.
De passagem por Lisboa, para falar sobre a sua obra na área da espiritualidade cristã contemporânea, o monge trapista assume a importância de questionar o que “significa ser humano”.
“Pareceria estranho para nós, há 20 anos, que hoje tenhamos tanta dificuldade em articular de forma coerente o que constitui as categorias básicas da humanidade”, indicou D. Erik Varden, exemplificando com a falta de consenso sobre “o significado da existência humana, o significado do corpo humano, o que é o amor, como o amor pode construir uma sociedade e, potencialmente, como pode destruí-la.
No final da tarde desta segunda-feira, o bispo norueguês apresentou na Sé de Lisboa uma conferência com o tema ‘«O que é o homem para que vos lembreis dele?» (Sl 8, 6) – Esperar e trabalhar num tempo de crise civilizacional’.
O entrevistado aponta a natureza profética dos Salmos, onde se encontra uma questão com milhares que “fala às perplexidades atuais com tanta incisividade”.
O religioso considera que a tradição católica carrega respostas de “enorme riqueza”, que precisam ser articuladas com “respeito e clareza”.
“A minha experiência é que, se articularmos essa palavra de uma forma que realmente tente ouvir o que as pessoas agora temem, anseiam e aspiram, a nossa mensagem será ouvida e uma semente será plantada”, acrescenta.
Embora a Noruega seja frequentemente vista como um país protestante secular, D. Erik Varden recorda as “também tem profundas raízes cristãs e católicas” que ajudaram a moldar a unidade da nação, como se vê no culto a um Santo Olavo – Olavo II Haraldsson, rei de 1015 a 1028.
O bispo de Trondheim identifica uma presença católica renovada na Noruega, graças à imigração e às conversões: “De repente, a nossa voz ecoa com uma ressonância muito mais clara do que antes”.
Para o entrevistado, é essencial que os católicos apresentam a sua mensagem de forma “credível”.
“Isso depende da coerência com que vivemos as nossas vidas como indivíduos e como comunidades, para que a Igreja possa realmente destacar-se como algo novo e como uma forma abençoada, feliz e generativa de viver e partilhar a vida”, sustenta.
Com a Europa abalada pela guerra na Ucrânia, depois da invasão russa, D. Erik Varden lembra que a paz era dada como “garantida” há décadas, sublinhando que deve ser “mantida e construída com base em princípios de justiça”.
“O que temos de defender? E por que devemos defendê-lo? O que nos motiva e o que nos une lealmente como nação, como sociedade, como povo?”, questiona, reafirmando o papel da fé como dimensão essencial da identidade.

Nesta terça-feira, pelas 19h00, o monge trapista vai estar na Universidade Católica Portuguesa para um encontro especialmente dirigido aos jovens, com o tema ‘«Há lugar para a castidade hoje?» – A reconciliação dos sentidos’.
A obra de D. Erik Varden propõe uma reavaliação da noção de castidade, a partir da “conexão entre um desejo imediato e um anseio implícito pelo eterno”.
“É algo que ressoa nas mentes e nos corações de muitas pessoas, inclusive dos jovens”, prossegue, sublinhando que o ensinamento católico tem um “tesouro muito grande a partilhar”.
A entrevista aborda o ideal da “autonomia radical”, na sociedade contemporânea, e o impacto da pandemia de Covid-19, que mostrou o desejo de “companhia, sociedade, atenção, contato físico, conversa”.
“O mito da autonomia foi, de certa forma, destruído. Acho que a Covid contribuiu bastante para destruir o mito da autonomia no nosso contexto secular”, precisa.
Enfatizando a proposta de um “olhar puro”, o religioso destaca a virtude de olhar para os outros e para o mundo não como “objetos a possuir”, mas como realidades a serem “reverenciadas”.
“É possível contemplar, ver algo que é belo, desejável, sem precisar colocá-lo no bolso, sem precisar de o possuir, dominar, para depois deitar fora”, assinala.
Se a minha maneira de ver o mundo é determinada por um olhar que vê como algo que está lá para satisfazer a minha necessidade, o meu desejo, aqui e agora, então a vida acaba por se tornar infernalmente entediante. Eu aprisiono-me num universo mental onde, em última análise, existe apenas um sujeito significativo, que sou eu.”
Nascido na Noruega em 1974, D. Erik Varden cresceu numa família protestante não praticante, mas a sua vida mudou aos 16 anos após escutar a Sinfonia n.º 2 de Mahler, experiência que o conduziu à conversão ao catolicismo.
A beleza é, por isso, central na visão do bispo norueguês: “Se acreditamos num Deus que criou este mundo na sua providência para deleitar-se nele, então a fonte de toda a beleza é o próprio criador de tudo”.
“Essa sensibilidade à beleza toca algo em nós que é, em última análise, um anseio transcendente”, precisa.
Num mundo impaciente com a doutrina, indica o religioso, “a pedagogia da beleza é um portal infinitamente precioso”.
O monge trapista sublinha a importância do silêncio, muitas vezes perdido no Ocidente hiperativo.
“Ao calar-nos de vez em quando e ao não ceder à pressão sempre presente de interagir constantemente, praticamos essa abertura”, explica, falando numa prática que considera vital tanto para a vida espiritual pessoal como para “o bem-estar cívico, o bem comum e até mesmo a sanidade política”.
OC