Espiritualidade: Igreja deve rejeitar «triunfalismo» e aproveitamentos políticos – padre Tomás Halík

Teólogo checo defende maior abertura de estruturas e mentalidades, nas comunidades católicas

Foto: Agência ECCLESIA/TAM

Lisboa, 21 nov 2024 (Ecclesia) – O teólogo e ensaísta checo Tomás Halík defende que a Igreja deve rejeitar o “triunfalismo” e os aproveitamentos políticos de movimentos “extremistas”, procurando maior “abertura” de estruturas e mentalidades.

“Não podemos empurrar as pessoas de volta para as estruturas existentes da Igreja, as estruturas institucionais, as estruturas mentais. Devemos abrir mais estas estruturas, abrir a nossa mentalidade e acompanhá-las”, disse hoje à Agência ECCLESIA o sacerdote, que apresenta em Portugal a sua nova obra, ‘O sonho de uma nova manhã. Cartas ao Papa’ (Ed. Paulinas).

O entrevistado sublinha que a Igreja deve ser “realmente uma Igreja universal”, pelo que os católicos têm “a liberdade de escolher os seus partidos políticos”.

“Há alguns partidos extremistas, à esquerda e à direita, cujo programa não é compatível com os valores fundamentais do Cristianismo”, acrescenta.

Tomás Halík aponta ao diálogo com os que, apesar de não assumirem uma pertença religiosa, “procuram” [o autor usa a expressão inglesa ‘seekers’].

“É muito importante. Não creio que tenhamos feito o suficiente, neste aspeto”, adverte.

Há também muitas pessoas que foram educadas como católicas, mas que depois deixaram a Igreja, porque não encontraram as verdadeiras respostas para as suas questões existenciais”.

O teólogo checo sustenta que “a força interior da religião é a espiritualidade”.

“Concentramo-nos demasiado nas estruturas institucionais, nos rituais, mas também nas questões morais”, aponta.

Para o sacerdote, a Igreja deve procurar respostas “flexíveis e criativas”, indicando um novo “estilo pastoral”.

A obra ‘O sonho de uma nova manhã’ é composta por uma série de 12 cartas a um pontífice imaginário, Rafael, sobre os desafios de futuro da Igreja, incluindo uma nova forma de olhar para o serviço do Papa.

“João Paulo II ofereceu um diálogo com as Igrejas não-católicas sobre o papel do sucessor de Pedro como bispo que constrói as pontes entre as Igrejas. Este é o seu papel, e penso que muito foi feito, mas ainda há muito a fazer”, explica Tomás Halík.

“Penso que este seria o objetivo do papado no futuro, construir pontes”, acrescenta.

Elogiando o pontificado de Francisco, o autor deixa votos de que o seu sucessor “siga na mesma direção, sensível aos sinais dos tempos”.

“Espero que o próximo Papa seja o homem que tenha a coragem de fazer algumas mudanças, mas também com a fidelidade ao que é realmente fundamental para os cristãos”, conclui.

O sacerdote profere hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a conferência ‘Ler os sinais dos tempos’, que pode ser acompanhada online no canal de YouTube da Agência ECCLESIA.

OC

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Agência ECCLESIA

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