Octávio Carmo
A viagem do Papa à Coreia do Sul representou a abertura de uma nova etapa do pontificado, cada vez mais globalizado, e demonstrou a atenção particular de Francisco por aquela que o próprio considerou como uma espécie de “última fronteira” para a Igreja Católica.
Num país onde os católicos representam 10,7 por cento da população (a percentagem na Ásia é de apenas 3,2%), Francisco soube levar uma mensagem de esperança a toda a sociedade e tocar em temas sensíveis para o país, como a divisão da península ou as consequências do naufrágio do Sewol. Uma esperança que se funda, no caso dos cristãos, em valores concretos de solidariedade, justiça e paz que estão ligadas à figura de Jesus e à herança deixada pelos seus primeiros seguidores, muitos deles martirizados por causa da sua fé.
Se ‘hope’ (esperança) rimava com ‘Pope’ (Papa), desde logo a viagem ficou marcada por outra palavra em inglês: ‘soul’ (alma). Não só por causa do utilitário de marca coreana com que Francisco decidiu deslocar-se em Seul, mas sobretudo porque as suas várias intervenções chamaram a atenção para a necessidade de superar a autossuficiência das sociedades desenvolvidas que, por trás de uma aparência de bem-estar, são incapazes de superar o “cancro” do desespero e a pobreza “abjeta”.
A opinião pública coreana mostrou-se sensibilizada pela empatia que o Papa mostrou e esta foi uma das grandes lições que Francisco quis deixar às comunidades católicas: para dialogar com todos não basta ouvir e fazer-se ouvir, é preciso ir para lá das palavras e “prestar atenção” ao outro, aos seus gestos e mesmo ao que não é capaz de dizer.
A Ásia espera de novo pelo Papa em janeiro de 2015 e Francisco mostrou estar consciente do desafio que se coloca à relevância do catolicismo num continente imenso, onde vivem mais de metade dos jovens de todo o mundo. O futuro passa por aqui.