Especial: Rede Cuidar da Casa Comum desafiada à «proximidade com a realidade» da área do «desenvolvimento comunitário»

«Fazer caminho na construção de um mundo melhor, um mundo mais justo», é o convite dos grupos comunitários às paróquias, assinala o professor Rogério Roque Amaro

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Leiria, 01 out 2023 (Ecclesia) – A Associação R3C – Rede Cuidar da Casa Comum realizou o seu encontro anual ‘Também Somos Terra’,  em Leiria, onde os participantes foram desafiados pela “economia social e desenvolvimento comunitário”, apresentado pelo professor Rogério Roque Amaro.

“Foi um dia muito enriquecedor, desde o convívio da manhã, com o convite a que ligássemos aos tesouros que a natureza nos oferecia, incluindo as próprias pedras. A tarde com testemunhos que nos deixam muito para pensar e abrem muito caminho à esperança, estão a acontecer coisas muito boas”, disse à Agência ECCLESIA e à Canção Nova a presidente da R3C, Rita Veiga.

Na tarde deste sábado, Rogério Roque Amaro, economista, abordou o tema ‘Economia social e desenvolvimento comunitário’, falando de ecologia integral, e apresentou exemplos de quatro grupos de desenvolvimento comunitário, onde também participam cristãos, católicos, que partilharam a sua experiência: na cidade de Lisboa existem 20 grupos e na área Metropolitana (AML) 26 grupos ou semelhantes.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

“O desenvolvimento comunitário é precisamente o desenvolvimento na proximidade, a partir das pessoas, das comunidades, que permite outra coisa muito importante do ponto de vista politico que é trazer a comunidade de volta à regulação dos problemas da sociedade, ela que foi afastada pelo Mercado e pelo Estado desde o século XIXX. A comunidade pode ter um papel importante como parceira do Estado e como parceira das empresas do mercado e é isso que o desenvolvimento comunitário vem viabilizar e vem mostrar”, explicou o economista à Agência ECCLESIA.

Segundo Rogério Roque Amaro, a experiência que têm nos grupos comunitários, que são grupos de proximidade, de bairro ou conjuntos de bairros, “traz outro desafio” para os cristãos, porque quem está nos bairros e na proximidade, “são as paróquias”, que “deviam estar envolvidas, empenhadas, nesta dinâmica de proximidade, “é essa a mensagem mais importante do cristianismo que o Papa recordou agora”.

Neste contexto, realça que o “desafio” que lançam, como grupos comunitários, é para as paróquias estarem também com eles, e “fazer caminho na construção de um mundo melhor, um mundo mais justo”.

“Agora vamos, possivelmente, começar a colaborar na área do desenvolvimento comunitário. Nós próprios precisamos de ter essa proximidade com a realidade”, salientou Rita Veiga, sobre a R3C.

Juan Ambrósio, vice-presidente da associação ecuménica, sublinhou que foi “muito interessante os exemplos” que ouviram onde grupos constituídos pelos cidadãos que habitam os territórios, pelas forças vivas sociais, pelas instituições oficiais, procuram “soluções para os problemas concretos”.

“Eu diria que esse é o terreno de jogo das comunidades cristãs também. Elas não se devem por em plataformas à parte, em territórios à parte, mas onde a vida está a acontecer, onde a sociedade se está a tecer, ai é que as comunidades cristãs devem também estar presentes, para iluminar essas situações com a luz do Evangelho. Ou seja, abrindo outros horizontes, outras possibilidades, nesta atitude humilde de quem aprende com os outros, de quem aprende a ler a vida com os outros”, acrescentou à Agência ECCLESIA.

Juan Ambrósio realça que o “espírito que ensinava a criatividade das comunidades” é o espírito que está presente também no mundo, e onde se está a construir o futuro “devem estar as comunidades cristãs”.

O encontro ‘Também Somos Terra’ insere-se no ‘Tempo da Criação’ 2023, que este ano tem como tema ‘Que a Justiça e a Paz Fluam’; um tempo que une Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo, de 1 de setembro a 4 de outubro, termina na memória de São Francisco de Assis.

Rita Veiga recordou que o nome ‘Também Somos Terra’ surgiu no primeiro encontro, há cinco anos, dado por Manuela Silva, quando também lançaram o primeiro manifesto, e quer dizer que “tudo” da casa comum e do cuidado que se deve ter reverte para as próprias pessoas.

“Fazemos parte da casa comum, nós somos casa comum. Quando reconhecemos que ‘Também somos Terra’ implica-nos a nós em todo o nosso ser”, acrescentou comentando ainda que “paz e justiça são coisas muito ameaçadas nos últimos tempos”.

A presidente da Associação R3C assinalou que a ecologia integral tem várias vertentes, “a ambiental é muito importante” mas nem é a que dedicam “mais atenção”, porque têm outros membros da Rede Cuidar da Casa Comum, “pessoas competentes”, que fazem isso, como a  associação ambientalista Zero.

“A vertente social que tem implicações políticas e económicas é muito importante e queremos contribuir para que haja mudanças que se impõem. O Papa Francisco chama muito a atenção dos últimos, dos mais frágeis e dos descartados, e somos muito sensíveis a isso. Todo este problema das alterações e dos efeitos que estão a ter são aquela injustiça inaceitável que aqueles que menos fizeram para provocar o problema sejam aqueles que sofrem mais com o resultado. É uma preocupação prioritária”, desenvolveu.

Para Rogério Roque Amaro a ecologia integral “precisa de uma nova visão de todos os processos”, da política, da economia, etc, e dai surge a necessidade de uma economia diferente, “adaptada à ecologia integral”, que é a “economia solidária”, um descendente da economia social, mas “não no sentido da solidariedade assistencialista mas ecocêntrica: Com todos os seres vivos e com a natureza no seu todo, emancipatória, horizontal e igualitária”.

“Estamos neste momento e acredito que a única economia que nos consegue guiar para uma ecologia integral é uma economia solidária nesta perspetiva de respeitar pessoas, a vida, a natureza e de ser assente não no lucro desmedido mas na solidariedade e da entreajuda”, explicou o economista.

 

O encontro anual da Associação R3C – Rede Cuidar da Casa Comum terminou com uma celebração ecuménica, na capela dedicada aos pastorinhos Francisco e Jacinta marto, no Seminário de Leiria,  associando-se à vigília ecuménica de oração ‘Together’ (juntos), pela próximo Sínodo dos Bispos, no Vaticano.

CB/OC

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