Iniciativa quer colocar «Menino Jesus no centro do Natal», com recriação dos ambientes do século I
Braga, 13 dez 2019 (Ecclesia) – A décima quarta edição do ‘Presépio Vivo de Priscos’, na Arquidiocese de Braga, vai ser inaugurada este domingo, apresentando até 12 de janeiro do próximo ano mais de 90 cenários, evocando a vida no tempo do nascimento de Jesus Cristo, com a presença de mais de 600 figurantes.
O pároco de Priscos e coordenador da pastoral penitenciária da Arquidiocese de Braga explica à Agência ECCLESIA que a iniciativa tem uma dimensão solidária e de inclusão de reclusos, através do projeto ‘Mais Natal Priscos’, porque “não faria sentido” falar de Natal nesta comunidade se não ajudassem “alguém a nascer”.
“Este projeto visa a reinserção social de reclusos, pessoas que cometeram um crime mas continuam a ser pessoas, não são o crime que cometeram. Estão detidas, estão a cumprir uma pena e achamos que podíamos dar um contributo para ajudar a voltar à sociedade”, disse o padre João Torres.
Desde há cinco anos, o espaço recebe reclusos que ajudam a construir e reconstruir os cenários, que realizam diversos trabalhos como “carpinteiros, pedreiros, eletricistas”, entre as 08h30 e as 17h00.
“75% dos reclusos voltam a reincidir e era importante que enquanto sociedade e, neste caso, a própria Igreja católica pudesse dar o mote: O que é que fazemos pelos reclusos da nossa comunidade? Que tipo de oportunidades somos capazes de construir para eles”, observou o pároco local.
Os reclusos são remunerados e o coordenador da pastoral penitenciária de Braga destaca que este dinheiro, “muito importante, possibilita que possam voltar à sociedade, reconstruir as suas vidas, se não têm suporte familiar”.
“Os cerca de 40 reclusos que passaram por aqui muitos constituíram família, voltaram à vida, voltaram a sorrir, voltaram a sonhar e isto é que é Natal, é conseguir fazer com que a vida de alguém possa ser diferente”, acrescenta.
A grande novidade deste ano é uma ponte em pedra com seis arcos”.
Segundo o padre João Torres, chegar a Priscos “significa liberdade, trabalho, horários” e “significa sonhar”, por isso, destaca que não devia existir nenhuma prisão em Portugal onde não se criasse “sonho em quem está detido, está a pagar pelo crime que cometeu mas também é muito importante criar sonho naquelas pessoas”, afinal pelo futuro deles não devia ser “voltar à mesma vida que trouxe à cadeia”.
“Fico feliz quando ando pelas alas da prisão e alguém me diz: ‘Estou ansioso para que o Senhor Juiz me autorize a ir trabalhar para Priscos’”, revela, frisando que “trabalho, liberdade, sonho”, são palavras muito associadas ao projeto ‘Mais Natal Priscos’.
“O Natal é uma ponte que aproxima pessoas e faz com que todos estejamos envolvidos num espírito de tornar o mundo melhor do que é. Quando Deus pai enviou o seu filho Jesus para habitar no meio de nós, creio que o grande sonho dele era fazer com que pudéssemos aprender a amarmo-nos uns aos outros e construir algo de grandioso uns com os outros” |
Para o coordenador da pastoral penitenciária da Arquidiocese de Braga, a reclusão precisa de uma “mudança de paradigma”, o “sistema prisional não pode ser só um espaço para cumprir penas” e estes serviços “precisam de mais meios humanos, de mais meios financeiros, um plano de reinserção social levado muito a sério” e a sociedade civil e as comunidades paroquias têm “de assumir responsabilidades”.
O sacerdote assinala ainda que “é muito importante a parte espiritual dentro de estabelecimento prisional”, da Igreja Católica e das outras confissões religiosas.
O padre João Torres contextualiza que o ‘Presépio do vivo de Priscos’ nasceu há 14 anos com o objetivo de colocar “o menino Jesus no centro do Natal, após o agora Papa emérito Bento XVI referir que “o Natal era tudo menos a comemoração do nascimento de Jesus”, e com a “preocupação de congregar as pessoas” nessa ideia e em convívio, fraternidade.
O Natal o que é? Um pai se quiser mostrar a um filho o que é o Natal, certamente, terá muita dificuldade em fazer num centro comercial, e quisemos proporcionar às famílias poder explicar aos filhos o que é o Natal: Não são só prendas, não é o pai-natal, não é a árvore de Natal, embora possa fazer mas é o nascimento de Jesus”.
Nos terrenos ao lado da igreja da Paróquia de São Tiago de Priscos, cerca de 600 figurantes vão dar vida a “uma aldeia judia e uma aldeia romana”, em mais de 90 cenários, para mostrar aos visitantes “o ambiente em que Jesus nasceu”, como os cheiros, os ofícios, os sabores, as roupas, e “algumas expressões hebraicas e em latim”.
Em 2018, este presépio ao vivo recebeu “cerca de 114 mil pessoas” e o pároco de Priscos destaca que para além de católicos, de não-crentes, recebem pessoas de outras confissões religiosas e “há cerca de três anos representantes da comunidade muçulmana”, criando diálogo inter-religioso.
A comunidade paroquial de Priscos vai dinamizar o ‘Presépio ao Vivo’ a partir das 10h30 deste domingo, até 12 de janeiro de 2020.
Na inauguração vai estar uma família de refugiados da Síria com 14 elementos, quatro deles crianças com idades dos 4 aos 10 anos.
CB/OC