Tradição de 21 anos é uma pedagogia sobre o Natal, em tamanho natural
Monsaraz, 22 dez 2020 (Ecclesia) – Há mais de duas décadas que a instalação de Teresa Martins marca o Natal pelas ruas da localidade histórica de Monsaraz.
Este ano, os visitantes chegam em menor número, mas ainda assim, o concelho mantém intacta a oferta turística.
“Não temos turismo de massas, privilegiamos pequenas pontuações turísticas que interagem com as comunidades locais”, refere à Agência ECCLESIA José Calixto, presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz.
Este é um dinamismo que revitaliza as populações locais envelhecidas que se revigoram com a chegada de turistas de diversas partes do mundo.
Em 2019, Monsaraz registou mais de 100 mil visitantes, este ano são em menor número, mas o município preparou medidas para uma visita em segurança.
“Uma das nossas vantagens é possuir unidades turísticas de pequena dimensão que podem ser alugadas por uma ou duas famílias, evitando assim maiores concentrações”, diz José Calixto.
As 46 figuras em tamanho natural que fazem o presépio de Monsaraz têm, para o padre Manuel José Marques, uma simbologia a reter.
“É no contexto da vida normal do lugar que, pelas figuras, somos também conduzidos ao presépio”, refere o pároco local.
O sacerdote lembra que “na vida é assim também, pelas mãos uns dos outros, vamos até Jesus”.
Construídas em ferro e rede, revestidas de panos impermeabilizados em tons rosa e lilás, as figuras deste presépio foram um grande cortejo que se estende desde a porta de entrada de Monsaraz e que culmina na Praça de Armas do Castelo medieval onde está a Sagrada Família no presépio.
Esse sinal de pobreza que vemos no nascimento de Cristo, é também segundo o padre Manuel José, uma pedagogia para o presente: “Nós temos dificuldade em aceitar a fragilidade. Criamos uma fachada tantas vezes falsa e queremos que toda a nossa vida seja essa imagem que não corresponde à realidade”.
Deus mostra-nos que a fragilidade tem uma beleza e uma riqueza. Deus que é forte manifesta-se na simplicidade”.
A experiência de fragilidade foi experimentada também no concelho de Reguengos através das consequências dos surtos de Covid-19.
José Calixto reconhece que a comunidade também saiu mais reforçada em termos humanos desta experiência.
“Ficamos mais despertos para as situações de isolamento e exclusão que acontecem nas comunidades rurais e que, tantas vezes, não reclamam apoios financeiros, mas antes o cuidado de estarmos mais próximos e atentos”, observa.
O presépio de Monsaraz apresenta-se como manifestação da sensibilidade de uma comunidade e uma interpelação a todos os que fazem o caminho para o presépio ao lado destas figuras.
O padre Manuel José Marques dá conta das muitas fotografias que encontra nas redes sociais e sublinha que tal é significativo.
“É importante… acaba sempre por dizer estou aqui no presépio. Se calhar vale a pena pensar que há pessoas que nunca saem do presépio. Há pessoas que estão a vida inteira na pobreza do presépio. Se venho tirar uma fotografia, eu entro e saio. Mas há aqueles que nunca saem”, declara.
Até 6 de janeiro, as ruas de Monsaraz acolhem pelo 21º ano consecutivo este tradicional presépio, com figuras em tamanho real.
HM/OC