Relatório analisa situação global nos últimos anos, alertando para «declínio preocupante» deste direito, por causa do extremismo e dos regimes autoritários
Lisboa, 21 out 2025 (Ecclesia) – A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denunciou hoje, num novo relatório, que mais de metade da população mundial vive sob “graves violações da liberdade religiosa”.
“O estudo, que abrange o período de janeiro de 2023 a dezembro de 2024, alerta para um declínio preocupante, com dois terços da humanidade, mais de 5,4 mil milhões de pessoas, a viver em países sem plena liberdade religiosa”, indica a AIS, que apresenta hoje o documento em várias cidades, incluindo Lisboa.
O Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2025 realça que 62 países violam este direito e 413 milhões de cristãos vivem em países onde a liberdade religiosa é gravemente restringida.
Um dos casos apresentados é o da Nigéria, onde se “assistiu a um aumento da violência com motivação religiosa” no período em análise, consequência da ação de frupos armados como o Boko Haram, o Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP) e várias milícias.
“Nos estados de Plateau e Benue, milhares foram deslocados e centenas foram mortos, incluindo mais de 1100 cristãos, entre eles 20 clérigos, em apenas um mês após a tomada de posse presidencial de 2023. Durante o Natal de 2023, ataques coordenados por militantes locais e estrangeiros causaram quase 300 mortos. Em junho de 2025, cerca de 200 cristãos deslocados foram massacrados em Benu”, alerta a AIS.
O relatório, que a Fundação AIS publica desde há 25 anos, analisa a situação em 196 países e documenta graves violações deste direito em 62; destes, 24 são classificados como países de “perseguição” e 38 como “discriminação”.
O autoritarismo e o extremismo religioso são identificados como as principais ameaças à liberdade religiosa a nível global.
“O autoritarismo é a maior ameaça à liberdade religiosa. Os regimes autoritários têm aplicado sistematicamente mecanismos legais e burocráticos para suprimir a vida religiosa. Em países como a China, a Eritreia, o Irão e a Nicarágua, o Governo reprime a religião através de vigilância generalizada, legislação restritiva e repressão de crenças dissidentes”, pode ler-se. Quanto à violência jihadista, o relatório adverte que esta “aumenta, adapta-se e desestabiliza a uma escala sem precedentes”. “Em 15 países, o extremismo religioso é um dos principais impulsionadores da perseguição; em outros 10, contribui para a discriminação. Do Sahel ao Paquistão, os grupos jihadistas expandem-se através de redes descentralizadas, tendo como alvo os cristãos e os muçulmanos que não aceitam a ideologia extremista”, refere a AIS. Moçambique tem assistido a um “novo aumento da violência jihadista” em Cabo Delgado, onde militantes filiados no autoproclamado Estado Islâmico continuam a atacar comunidades cristãs, a queimar igrejas e a matar civis. “Apesar da presença de forças militares internacionais, os insurgentes expandiram-se para novos distritos, aproveitando o fraco controlo estatal e os vazios de governação. Neste contexto, as comunidades religiosas, em particular a Igreja Católica, têm-se mantido ativamente empenhadas na promoção da paz e do diálogo inter-religioso”, observa a fundação pontifícia. O relatório sublinha o agravamento das condições para mulheres e crianças de minorias religiosas, vítimas recorrentes de rapto, conversão e casamento forçados, sobretudo em contextos asiáticos e africanos. |
Este relatório regista um amplo espectro de violações da liberdade religiosa, refletindo a diversidade e a complexidade do contexto global. Em vários países, estas violações manifestam-se como violência explícita, incluindo assassinatos, detenções e destruição ou confisco de lo- cais de culto. Noutros, surgem sob formas mais discretas, mas igualmente prejudiciais, como obstáculos burocráticos, censura, proibições à educação religiosa e vários tipos de discriminação social.”
A fundação pontifícia identifica ainda “um crescimento exponencial de comunidades religiosas a sofrer as consequências da guerra perante uma onda de conflitos em todo o mundo”.
A AIS realça também o “aumento acentuado dos crimes de ódio antissemitas e antimuçulmanos”, após o ataque do Hamas em Israel, a 7 de outubro de 2023, e a subsequente guerra em Gaza.
Nos países ocidentais, observa o relatório, há “um aumento significativo de ataques contra locais e fiéis cristãos”.
![]() Pela primeira vez na sua história, a Fundação AIS lançou também uma petição global, ‘A liberdade religiosa é um direito, não um privilégio’, apelando aos governos e às organizações internacionais que “assegurem a proteção efetiva do Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, que garante a todas as pessoas o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. “Porquê esta petição? Porque o direito de acreditar – ou de viver de acordo com as suas convicções – está em declínio em 62 países, afetando milhares de milhões de pessoas. Nos últimos 25 anos, a AIS documentou como a perseguição religiosa destrói comunidades, alimenta conflitos e obriga milhões de pessoas a fugir. Agora, mais do que nunca, a liberdade religiosa deve ser defendida e protegida em todo o mundo”, afirma Regina Lynch, presidente internacional da Fundação. O relatório foi divulgado, a nível mundial, esta manhã, em Roma, e vai ser apresentado em Lisboa, às 16h30, no Centro Nacional de Cultura, pelo comentador e analista político Nuno Rogeiro, numa sessão que conta com a presença do patriarca de Lisboa, D. Rui Valério. Às 19h00, o patriarca preside à Missa pelos cristãos perseguidos na igreja da Encarnação. |
O Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2025 analisa 196 países, documentando restrições e perseguições e fornecendo informação verificada sobre as violações deste direito em todo o mundo sobre todos os grupos religiosos.
“O lançamento deste Relatório, cuja primeira edição foi publicada em 1999, assinala os 25 anos de compromisso permanente da Fundação AIS na defesa da liberdade religiosa no mundo”, indica a instituição.
OC