Especial: Grupo de Lisboa integra participantes com deficiência para viver experiência do Jubileu dos Jovens

André Garcia repete participação em encontros internacionais, com ajuda da família, amigos e «andarilho todo-o-terreno»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Carlos Borges, enviado da Agência ECCLESIA ao Jubileu dos jovens

Roma, 02 ago 2025 (Ecclesia) – André Garcia, jovem com paralisia cerebral, está a repetir em Roma a participação num encontro internacional da Igreja Católica, depois de Santiago de Compostela e da JMJ Lisboa 2023, com a ajuda da família, amigos e um “andarilho todo-o-terreno”.

“A experiência está a ser muito boa, um pouco a réplica do que aconteceu na Peregrinação Europeia de Jovens, em Santiago de Compostela, e também na JMJ. O André consegue congregar amigos, consegue congregar jovens à volta dele, e criam-se laços, laços que são importantes para que possa também desenvolver algumas potencialidades”, disse a sua mãe, Rita Neves, em declarações à Agência ECCLESIA.

A presença no Jubileu dos Jovens, que decorre até domingo, dá continuidade a um percurso que teve um momento decisivo no verão de 2022, quando o André participou na Peregrinação Europeia de Jovens (PEJ), em Santiago de Compostela, integrando o grupo do Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa.

“Nestes dias, tem encontrado os amigos que estiveram na PEJ, e lembra-se deles, eles também se lembram do André e recordam com muita alegria a presença e o contributo que foi para o grupo interagir, até entre eles próprios. Hoje, aqui, começamos a interagir com um grupo que não conhecíamos, começaram a conviver e temos estado a fazer muitas atividades em conjunto”, relata Rita Neves.

A entrevistada refere que “o André atrai amizades e acabam por criar laços”.

O grupo integra ainda o jovem Rodrigo, com mobilidade reduzida, um sinal importante para pessoas com deficiência, que “acabam por desenvolver as suas potencialidades”, e também para quem os acompanha e viver experiências marcadas pela “solidariedade, a amizade, a preocupação com as pessoas diferentes”.

Para a mãe do jovem André, é importante superar a “divisão que há entre pessoas com deficiência ou com dificuldades e os jovens que não têm, promover uma interação, não digo que em todas as paróquias haja essa necessidade, mas nas paróquias em que é preciso existir, ter essa abertura”.

Somos todos, todos, todos, juntos e amigos. E assim todos juntos conseguimos potenciar as nossas capacidades. Quem precisa, tem amigos; quem não precisa propriamente de apoio, revela capacidades e claro que o coração vai ficar diferente.”

Rita Neves refere que a família já tinha visitado Roma, mas está agora a viver uma experiência “completamente diferente”.

“É muito importante quando a gente se encontra com os grupos que os acolhem e que interagem com eles”, aponta.

A entrevistada destaca que, do ponto de vista dos pais, impressiona “a força destes jovens, a união, também a espiritualidade que se vem aqui sentindo”.

“É uma alegria muito grande e esta força da juventude tem de se mostrar, temos de ir continuando a transformar o mundo e a dar esta alegria, mostrar que os jovens têm a alegria, têm a força para levar o mundo para a frente”, acrescenta.

No horizonte está a JMJ 2027, em Seul, que seria “mais um motivo para promover o desenvolvimento do André e também mostrar ao mundo a importância que estes meninos têm para promover a equidade e a alegria nos jovens”.

“Acho que é importante a Igreja mostrar que todos estes jovens e crianças têm lugar na Igreja. E têm de vir às celebrações, têm lugar nas celebrações, têm lugar nos grupos, têm lugar nas festas da Igreja”, apela.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

O grupo vai fazer hoje o percurso até Tor Vergata, onde decorrem as celebrações conclusivas do Jubileu dos Jovens, percorrendo as ruas de Roma a pé e com a ajuda do andarilho, que torna a deslocação mais fácil do que com as cadeiras de rodas.

“O andarilho anda pelo meio das serras, das pedras, dos rios, as cadeiras de rodas não conseguem”, precisa.

Vasco Pinheiro, do grupo ‘Radicati In Christo’, na Paróquia de Benfica (Lisboa), repete a experiência de acompanhar o André e a família, como aconteceu na PEJ e na JMJ 2023, a que se soma em Roma o Rodrigo, “um enorme sinal de Cristo”.

“É uma pessoa com uma fé inabalável com tudo o que lhe acontece e ele ensina muito isto aos nossos jovens. Os dramas e os problemas que eles vivem, quando estão com o Rodrigo é tudo relativo e parece tudo menor. Damos graças também por ele poder caminhar connosco e por caminharmos com ele”, afirma à Agência ECCLESIA.

Para o responsável, estas presenças são um sinal de uma Igreja que “ainda está a aprender a como ser aberta para todos, todos, todos”.

“Mesmo para nós, como grupo, às vezes é um desafio ter o Rodrigo, um bom desafio, mas um desafio de inclusão”, assume.

Há aqui um aspeto também de Igreja em comunidade: a primeira vez que quisemos peregrinar com o Rodrigo até Fátima, fomos falar com o Henrique, pai do André, porque já o tínhamos conhecido na PEJ e que bom foi para nós, na altura, poder encontrar facilmente este modelo e esta ajuda para fazer o caminho com ele”.

Vasco Pinheiro indica que presenças como o André e o Rodrigo recordam que “existem muito mais realidades assim”.

“Para nós, às vezes, é difícil este acompanhamento porque não nos sentimos com as ferramentas e não as conhecemos, mas se como toda uma comunidade paroquial tivéssemos essas ferramentas ou soubéssemos com quem falar, tornava-se tudo mais fácil e mais rico”, declara.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Luísa Lito, de 16 anos, veio de Alenquer, no Patriarcado de Lisboa, depois de ter feito parte do coro da JMJ Lisboa 2023.

“Decidi vir ao Jubileu para poder viver a experiência como peregrina e para ver também o que é que as pessoas se sentem, quando estão integradas no meio das outras pessoas e para fazer novas amizades”, afirma.

Em Roma, a jovem tem estado a viver “uma experiência muito enriquecedora, apesar de intensa”.

“Quando vivemos estas experiências sofremos sempre um bocadinho, mas também está a ser muito de aprendizagem”, explica.

Quanto à presença no grupo do André e do Rodrigo, a Luísa fala num “gesto de esperança, para mostrar que toda a gente pode ser incluída”.

Podemos semear esperança através das nossas ações, das nossas atitudes, das nossas palavras, através de um gesto, apenas para dizer olá a alguém ou dizer alguma coisa bonita a alguém que encontremos na rua ou ajudar outras pessoas.”

Também do grupo de Alenquer, com mais de 30 pessoas, chegou a Roma Jaime Pinheiro, em resposta ao apelo de um “evento único”, como o Jubileu.

“Tem sido bastante importante para nós aprender outras coisas, mas também a experiência da fé que estamos a realizar neste momento. Acho que é muito importante”, refere.

O entrevistado fala da experiência de acompanhar o André e o Tomás, outro jovem com deficiência, nestes dias de celebração jubilar, no Ano Santo, “como adolescentes que querem aproveitar uma experiência, querem viver este momento de fé, de encontro com outras pessoas”.

“Tal como o Papa Francisco havia referido, que a Igreja é para todos, todos, todos. Acho que nós devemos procurar sempre incluir os outros, pois no fundo somos todos iguais, somos jovens, queremos aproveitar as experiências e é assim que queremos viver”, prossegue.

Milhares de jovens de todo o mundo começaram a ser recebidos em Roma desde segunda-feira, num evento que segue, na maior parte do seu programa, a agenda de uma Jornada Mundial da Juventude, tendo celebrado esta terça-feira a Missa de boas-vindas, na Praça de São Pedro, onde o Papa apareceu de surpresa para saudar a multidão.

Hoje, os portões da área junto à Universidade de Tor Vergata foram abertos às 09h00 locais (menos uma em Lisboa); das 14h00 às 20h00, o palco conta com animação com música e depoimentos, com a presença do trio italiano Il Volo, Sergio Bernal, Matt Maher, as bandas cristãs The Sun e Reale, Thiago Brado, Missionario Shalom e o coro Hakuna Group Music, fundado durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013.

A chegada do Papa marca o início da vigília de oração, pelas 20h30, durante a qual três jovens farão perguntas ao pontífice sobre os temas amizade, coragem e espiritualidade, seguindo-se um novo momento de animação musical.

Estima-se que cerca de um milhão de participantes passem a noite no local, onde Leão XIV vai presidir à Missa, pelas 09h00 de domingo.

O Jubileu dos Jovens conta com 11 527 participantes portugueses, a maior delegação num evento do género, no estrangeiro.

CB/OC

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