Especial: Diocese do Porto viveu peregrinação jubilar dedicada aos Frágeis e ao Mundo da Saúde

«A realidade da saúde, neste caso da doença e da fragilidade, é a mais comum a todos nós. Ou no presente, ou no futuro, seremos pessoas com menos forças» – D. Manuel Linda

Gondomar, 15 jun 2025 (Ecclesia) – A Diocese do Porto partilhou uma mensagem de inclusão e participação na Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde, que mobilizou pessoas em situação de fragilidade, cuidadores e profissionais do setor, este sábado, em Gondomar.

“Trazemos a estas pessoas não só para a oração, mas também para o convívio. Habitualmente estão só no isolamento das suas casas ou encaixotadas, entre aspas, nas nossas realidades, das ERPIS – das estruturas residenciais para pessoas idosas – proporcionar-lhes convívio é sempre um momento diferente, é sempre um momento que marca, de alguma maneira, as suas vidas”, disse o bispo do Porto, em declarações à Agência ECCLESIA.

D. Manuel Linda, que presidiu à Eucaristia da Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde da Diocese do Porto, passou uma mensagem de valorização da existência destes peregrinos, lembrando que “não são subproduto da sociedade”, e que “não são menos dignos do que os outros que trabalham, ou uma criança ou um jovem”.

“São pessoas que deram muito e têm muito para dar também, mas agora precisam, em certos aspetos, de receber. E isto é um direito, não os diminui, por contrário, mostra exatamente que a sociedade é este intercâmbio de um dar e receber”, acrescentou o bispo do Porto, nas declarações no pavilhão Multiusos de Gondomar.

‘Frágeis peregrinos da esperança’ foi o tema desta peregrinação diocesana, e para Ana Sofia Teixeira, da Comunidade Católica com Deficiência Visual (CCCDV), a partir do seu “ponto de vista”, as pessoas frágeis “são o maior agente de esperança da sociedade e, designadamente, da Igreja”.

“Aquele que é frágil consegue, na verdade, uma mensagem de esperança, uma mensagem de encorajamento, de tranquilidade e nós, no frágil, conseguimos ver a presença de Deus, o corpo, o rosto de Cristo vivo, que, efetivamente, vive a fragilidade e experimenta este amor vivo de Jesus e que testemunha esse amor no seu dia-a-dia”, explicou.

Para a entrevistada, que faz parte do coro da Paróquia de São Pedro da Cova e integra o Serviço Pastoral Diocesano a Pessoas com Deficiência, a Peregrinação Jubilar dos Frágeis tem toda a importância, porque a construção de “uma Igreja para todos” tem que integrar, “desde a primeira hora, a participação de todos aqueles que são frágeis, todos aqueles que estão à margem da sociedade”,  designadamente, as pessoas doentes, as pessoas incapacitadas, as pessoas com deficiência, mas também os seus cuidadores, “que tantas vezes são esquecidos e desapoiados pela sociedade”.

A Peregrinação Jubilar dos Frágeis e do Mundo da Saúde da Diocese do Porto foi uma organização do Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde, com outros secretariados e entidades, como Cáritas Diocesana do Porto, e Maria do Rosário Rodrigues explicou que quiseram juntar “três realidades” num só evento, os frágeis, os cuidadores, que “estão presentes 24 horas, muitas das vezes com grande zelo e com muita atenção descurando as suas próprias necessidades”, e os profissionais de saúde, que “cuidam com muita ternura, com muito carinho”.

“Os frágeis são pessoas que por razões de saúde, ou por razões de isolamento social, ou por razões familiares, ficam sempre mais desprotegidos e mais afastados das nossas comunidades. Por isso, não fazia sentido vivenciarmos este Ano Jubilar sem um evento em que eles fossem a nossa razão, o nosso centro, no fundo, desta nossa celebração”, assinalou a presidente do Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde do Porto, à Agência ECCLESIA.

Antes de entrarem no pavilhão Multiusos de Gondomar, os participantes passaram por uma simbólica ‘porta jubilar’, o programa começou com o acolhimento, seguiu-se uma celebração penitencial, e confissões individuais, porque “há muitos frágeis que não têm essa possibilidade, é difícil abeirarem-se da reconciliação,”, antes da celebração da Eucaristia.

Ana Sofia Teixeira, da CCCDV e do Serviço Pastoral diocesano a Pessoas com Deficiência, já esteve este ano no Vaticano onde participou na celebração do Ano Santo dedicada à deficiência, com um grupo da Diocese do Porto, e destaca que trouxeram, e recordou que trouxeram de Roma a esperança de que têm “uma Igreja aberta, uma Igreja que promove e valoriza a participação das pessoas com deficiência ou incapacidade”, que dignifica a participação de pessoas com deficiência ao nível da sociedade, ao nível da Igreja”.

“A Igreja é para todos, não é só para os frágeis, não é só para quem não tem uma deficiência, não é só para os pobres ou para os ricos, a Igreja é para todos, para quem está já dentro da Igreja, mas também para quem está fora e mesmo nas periferias, nos contextos mais vulneráveis”, salientou.

Foto: Agência ECCLESIA/CBPara Maria do Rosário Rodrigues só quando se olha, “quando a comunidade olhar”, para os frágeis como agentes de mudança, como agentes de esperança, é que poderão “ser realmente uma verdadeira comunidade”, porque “não podem ser olhados como aqueles que estão na retaguarda”.

“Bem pelo contrário,  eles têm que estar numa vanguarda perfeita, têm que estar na frente, eles têm que saber que se fazem parte das comunidades e da nossa vida ativa, podem não estar com possibilidades de estar semanalmente nas nossas comunidades, mas nós sem eles não poderemos ser Igreja”, acrescentou a presidente pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Saúde do Porto.

No momento de ação de graças da Missa, após a consagração a Nossa Senhora pelo bispo do Porto, os escuteiros recolheram mensagens de pessoas frágeis que não puderam participar neste evento jubilar, que vão ser levadas para Fátima, na peregrinação diocesana do Ano Santo ao santuário da Cova da Iria, no dia 20 de setembro.

O Ano Santo 2025, o 27.º jubileu ordinário da história da Igreja, foi proclamado pelo Papa Francisco na bula intitulada ‘Spes non confundit’ (A esperança não engana) e teve início no dia 24 de dezembro de 2024, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, terminando no dia 6 de janeiro de 2026.

CB/OC

Foto: Agência ECCLESIA/CBA Cáritas Diocesana do Porto foi uma das entidades parceiras na organização deste evento jubilar, cuidam “da fragilidade associada às situações de doença, mas também olham “para as questões da vulnerabilidade económica”.

“O mundo da fragilidade é também o mundo da Cáritas Diocesana do Porto; nos últimos anos, uma grande área de investimento da Cáritas Diocesana é o apoio a doentes em situação de carência económica”, explicou Daniela Guimarães.

A entrevistada, da Cáritas Diocesana do Porto, explica que existe “um forte investimento” do ponto de vista dos recursos humanos, de ajudas técnicas, e “são mais de 600 equipamentos emprestados por toda a diocese”, e destaca que, nos últimos meses, têm desenvolvido um trabalho relacionado com as questões do acesso a direitos sociais associados às questões de doença.

“Há efetivamente direitos sociais salvaguardados até por legislação, mas há um desconhecimento muito grande também por parte daqueles que serão e devem ser os beneficiários desses mesmos apoios. Tivemos a construir uma espécie de guia prático: “fiquei doente e agora? a que direitos sociais é que eu posso recorrer, a que entidades públicas é que eu devo fazer presente a minha situação de carência económica e de doença”, adiantou Daniela Guimarães.

A Cáritas Diocesana do Porto, acrescenta, pretende ajudar a melhorar a qualidade de vida do doente e da sua família, “também trazendo um reforço financeiro”, porque é isso que se trata, sobretudo para pessoas com “rendimentos mais baixos”, como é que “podem aceder a outros tipos de apoios económicos que possam melhorar a sua vida, que lhes possam, no fundo, permitir-lhes ter uma vida mais digna e mais justa”.

 

Foto: Agência ECCLESIA/CB“A realidade da saúde, neste caso da doença e da fragilidade, é a mais comum a todos nós. Ou no presente, ou no futuro, evidentemente seremos pessoas com menos forças do que aquelas que temos hoje.  Pensar neste setor tão importante em Portugal, aliás, como falámos de uma prioridade muito invertida, em que as pessoas mais velhas são as mais numerosas, logicamente precisa de uma presença muito forte da nossa parte” – D. Manuel Linda

Na véspera do Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa (15 de junho), o bispo do Porto salientou que estão a “lançar algumas raízes, algumas bases de trabalho”, para trazere para a realidade da vida, “dentro do possível, e dedicar mais esforços” aos idosos.

“Para não encaixotarmos os nossos velhinhos”, realçou, observando que se dedica “muitas das forças” à terceira idade nas valências que lhes são típicas, “a nível da assistência social”, como os lares, apoio domiciliário, “quer centros de convívio, centro de dia, mas, mesmo assim, são insuficientes.

“Não lhe dedicamos, por exemplo, o esforço que estamos a dedicar às crianças, quer nas paróquias, na catequese, na catequese juvenil, infantil, nos grupos corais, são objeto de muita solicitude da Igreja. Mas os mais idosos precisam também dessa solicitude”, exemplificou D. Manuel Linda.

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